Foi uma celebração da poesia a cerimônia de abertura da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre, realizada na note desta quinta-feira (1º), no Teatro Carlos Urbim, no espaço entre o Memorial do Rio Grande do Sul e o MARGS, na Praça da Alfândega. Com um discurso afetuoso, a patrona de 2017, Valesca de Assis, repassou o comando simbólico da Feira a sua amiga e patrona deste ano, a poeta Maria Carpi. Entre os discursos, a atriz Sandra Dani leu trechos da obra poética da nova embaixadora da Praça.
A cerimônia foi aberta pelo discurso de Isatir Bottin Filho, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, organização que organiza a Feira, que exaltou a realização do evento como um trunfo em tempos de crise aberta em que grandes redes têm anunciado fechamentos de lojas.
- A comissão organizadora comemora que, apesar das dificuldades financeiras, a feira não sofreu qualquer prejuízo, pelo contrário, cresceu em suas relações e afetos - disse Bottin Filho, que também usou Monteiro Lobato para fazer um elogio do livreiro e seu papel como guardião civilizatório
Valesca de Assis subiu então ao palco e fez um discurso caloroso. Ela começou citando escritos da sua sucessora, um poema que termina com os seguintes versos:
– Em vez de anunciar, vou cumprir um / rosto na multidão. Reuni-lo./ Não como as frutas num cesto, / Mas como as sementes no fruto – disse Valesca, em citação que aproveitou para unir a um elogio da figura humana da nova patrona.
- O Carpinejar, filho da Maria, escreveu há uns dias “tudo o que ela toca engravida de outra vida”. E ela mesma disse em uma entrevista recente que se encontra “grávida da Feira”. Maria, quem escolheu ser semente, desejou ser o desejo, está sempre pronta a germinar. Recolhe em teu avental os abraços, beijos, os sorrisos tímidos, os desejos de força e resistência que os leitores te estenderão.
Maria Carpi subiu ao palco do Teatro Carlos Urbim acompanhada por Isatir Bottin Filho e falou sentada em uma cadeira – a patrona passou por recentes problemas de saúde. Agradeceu ao país homenageado, a República Tcheca, pelo legado de Franz Kafka, e homenageou os escritores gaúchos lembrando de duas poetas, Lara de Lemos e Lila Ripoll. Depois, realizou um discurso lírico que remontava a diferentes aspectos de sua trajetória, a sua atuação como defensora pública, os temas de sua obra, seus quatro filhos. Não faltaram na manifestação notas de otimismo:
- Os reveses, as contradições, os vários recaimentos e retomadas nos fortalecem. Temos que nos unir para construir o futuro. A melhor poesia será o poema social da morada do homem.
Ela também insistiu que a poesia era um valor e uma necessidade universal não apenas daqueles que a praticam como arte, mas de todos.
- O poeta escritor de poesia e o poeta que habita cada ser humano necessitam se apurar no exercício dos sentidos. Todos precisamos do livre acesso à poesia. Como deixar entrar poesia se todas as portas estão fechadas. Seremos a porta.
Apesar do tom apoteótico do encerramento da fala da patrona, a cerimônia continuou com uma declaração de afeto da cônsul-geral da República Tcheca em São Paulo, Pavla Havrlíková, representando o país homenageado:
- Para mim, é uma grande emoção ver a minha bandeira aqui nesta Feira. A letra de nosso hino tem uma frase que pode ser traduzida como “onde está a minha pátria?. Nestes dias, a minha pátria, o meu coração, estão aqui em Porto Alegre.
O último discurso da cerimônia foi o do prefeito Nelson Marchezan, que fez uma manifestação mais abertamente política recuperando a recente polêmica em que um órgão da Prefeitura Municipal emitiu um boleto cobrando da organização da Feira o uso da Praça.
- Preciso fazer um ajustamento de informações nesta época de fake news. Aquelas taxas que existem e que estão na legislação serão dispensadas para a Feira de acordo com a redação de um decreto que está no ordenamento jurídico municipal há um mês. O que ficou redigido, escrito e firmado, é que a Feira do Livro, por ser patrimônio histórico e cultural do município, será dispensada para seus eventos em todas as futuras ocorrências - disse, no discurso mais longo da noite.