Em um sociedade grudada na tecnologia, brincar na rua parece coisa do passado. Para resgatar essa prática, a programação infanto-juvenil da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre, que iniciou nesta quinta-feira (1º) e segue até dia 18 de novembro na Praça da Alfândega , será atravessada pelo tema das brincadeiras de antigamente.
A proposta de valorizar a infância na rua concilia com a ideia de ocupação dos espaços públicos, ainda mais defendida pela classe artística de Porto Alegre após a polêmica que a prefeitura protagonizou em junho deste ano, quando emitiu um boleto à Câmara Rio-Grandense do Livro cobrando pelo uso da Praça da Alfândega, o que poderia inviabilizar o evento já combalido pela crise no mercado editorial. Em setembro, o governo de Nelson Marchezan (PSDB) permitiu que o evento fosse realizado sem custos.
Disposta entre os prédios do Margs e do Memorial do Rio Grande do Sul, a área infanto-juvenil foi a primeira a funcionar no dia de abertura do evento. São 13 bancas de livros destinados a crianças e pré-adolescentes, além de um espaço de atividades para menores de seis anos, O QG dos Pitocos, erguido à frente da entrada principal do Memorial.
Era lá que a professora de Psicologia da Educação da UFRGS Tânia Ramos Fortuna ministrava uma oficina de brincadeiras antigas para educadores. A intenção era orientá-los a resgatar a importância dessas brincadeiras na cultura de uma sociedade.
— Existem brincadeiras que estão em extinção: passa anel, elástico, sapata, bolita. São brincadeiras que requerem rua. E numa sociedade ameaçada pela insegurança, isso se perdeu — diz a professora.
Um dos materiais que Tânia usou na oficina foi uma cópia da tela Jogos Infantis, do pintor holandês Bruegel Pieter, datada de 1560. A pintura retrata milhares de crianças brincando em um vilarejo. De acordo com Tânia, cerca de 70 brincadeiras foram identificadas na tela, como bola de gude, corredor polonês e pião, o que, segunda a professora, comprova que essas atividades são patrimônio cultural.
Divertindo-se na Feira do Livro, as crianças podem ter uma ideia menos sisuda da literatura.
— Ler é brincar. Quanto mais divertida for a leitura, mais leitores podemos ter. Se a leitura for encarada com enfado, como castigo, mais difícil que novos leitores sejam conquistados — argumenta a professora.
A forma que se encontrou para unir leitura às brincadeiras antigas foi propondo que as contações de história no QG dos Pitocos usassem livros que abordam alguns desses passatempos. No intervalo de uma história e outra, brinquedos antigos ficarão disponíveis no para diversão.
Muitas atividades para cativar os pequenos
Cerca de 70 escritores brasileiros de literatura infantil e juvenil vão passar pela Feira do Livro, dando palestras ou contando histórias para os pequenos. Entre eles estão Caio Riter, Anna Claudia Ramos e Rogério Andrade Barbosa. Haverá a presença de um estrangeiro, o australiano Stephen Michael King.
Além disso, uma exposição com ilustrações de livros infantis e juvenis pode ser visitada no Memorial, que também abriga uma biblioteca para as crianças.
Atividades da área infantil e juvenil
Praça da Alfândega, entre o Memorial e o Margs
Horário de funcionamento: das 9h às 20h30min