Nova patrona da Feira do Livro, a poeta Maria Carpi tinha algumas preocupações quando foi indicada como uma das finalistas, entre elas recentes problemas de saúde que impediriam a maratona pela praça ao longo dos 18 dias de evento. Foi convencida pelos quatro filhos a aceitar a indicação de patronável e concorrer à escolha final:
– Eu disse que era uma honra, mas que ia consultar meus filhos Aí eles me disseram: "aceita, mãe, se precisar nós te ajudamos, mas tenha bom-senso". E falei também, quando me elegeram, para os patronáveis mais jovens que eles iam ter de me ajudar um pouco – brinca a escritora de 79 anos.
Assim, a nova patrona foi eleita e estará na Praça hoje para a solenidade de abertura, às 19h, no Teatro Carlos Urbim, espaço da Feira montado entre o Margs e o Memorial. Maria deve receber os convidados em uma cadeira amarela, referência a uma crônica em homenagem a ela escrita por um de seus filhos, o também poeta Fabrício Carpinejar: "Sua cadeirinha franciscana, barata, simples, que não ocupava espaço, que ficava num prego na garagem, representava a sua personalidade sempre em movimento, acompanhando os filhos, protestando, aumentando o tamanho da casa".
Após alguns anos de progressivo encolhimento, a Feira deste ano manteve 104 bancas. Seu espaço físico, contudo, diminuiu um tanto, e as mais de 500 atividades serão concentradas quase todas na Praça.
– Acho que temos de voltar a um momento de pés no chão. É mais interessante colocar um evento na Praça de tamanho bom que todo mundo frequenta ou tentar algo mega e não ter muito sucesso – comenta o editor Isatir Bottin Filho, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, entidade organizadora da Feira.
Maria Carpi é, portanto, a patrona de uma Feira em outro ritmo – meditado e lento, como o de seu trabalho literário.
– Eu gosto da lentidão, não tenho pressa, tenho paciência, e os meus livros eu leio, releio, retoco, deixo adormecer na gaveta. Cheguei à conclusão que um livro é bom quando, na leitura, parece que ele não é mais teu e que tu se desligou dele – comenta a escritora.
Evento põe em discussão
temas atuais
Assim, a poeta retorna à Praça da Alfândega, por onde passava diariamente na adolescência enquanto estudava no Colégio Bom Conselho. Com uma carreira literária iniciada após os 50 anos e uma trajetória como jurista e defensora pública ligada aos direitos da infância e da adolescência, Carpi é, também, um símbolo apropriado para uma Feira em que estarão em debate temas progressistas contemporâneos acirrados pela recente polarização política do Brasil. Haverá discussões sobre lutas do feminismo, o papel do negro na sociedade e os estragos provocados pela escalada descontrolada de exclusão étnica e política em países como Ruanda (veja alguns destaques abaixo).
– Temos uma programação adulta muito voltada para o momento atual: racismo, feminismo, feminismo negro, genocídio, a questão dos refugiados, temas em pauta hoje. – afirma Bottin Filho.
DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO
2 DE NOVEMBRO
Markéta Pilátova
Crítica, professora e escritora, a autora do romance Olhos de Loba, apresenta um panorama da imigração na literatura da República Tcheca, país homenageado desta Feira. Palestra às 15h30min, no Auditório do Margs (Praça da Alfândega, s/nº).
4 DE NOVEMBRO
Pedro Mairal
Vem ao Brasil lançar seu best-seller A Uruguaia. É um dos eventos da programação argentina, que trará também à Capital os escritores Damián Tabarovsky e Ariel Magnus. Encontro às 18h na Biblioteca do Clube do Comércio. (Andradas, 1.085, 3º andar).
10 DE NOVEMBRO
Scholastique Mukasonga: Sobrevivente do massacre de Ruanda, a romancista africana fez do horror de seu país matéria de grande literatura. Mesa às 15h no Auditório Barbosa Lessa do Centro CEEE Erico Verissimo (CCCEV). (Rua dos Andradas, 1.223).
11 DE NOVEMBRO
Ana Margarida de Carvalho: Escritora portuguesa que vem lançar em Porto Alegre seu premiado romance de estreia, Não se Pode Morar nos Olhos de um Gato. Encontro às 18h no Salão de Bridge do Clube do Comércio (Andradas, 1.085, 2º andar).
17 DE NOVEMBRO
Marta Breen e Jenny Jordahl: Dupla de quadrinistas norueguesas criadoras do livro Mulheres na Luta, que conta, em forma de HQ, 150 anos de história do feminismo. Mesa às 18h no Auditório Barbosa Lessa do CCCEV (Rua dos Andradas, 1.223).
Paula Anacaona - Editora, escritora e tradutora francesa especializada em literatura brasileira discute o papel da mulher negra no Brasil e na França. Encontro às 18h30min no Salão de Bridge do Clube do Comércio (Andradas, 1.085, 2º andar).