A infantilização dos blockbusters, fenômeno marcante desde que os super-heróis tomaram a frente das superproduções de Hollywood, promoveu uma separação bastante clara entre os filmes "bons de público" e aqueles que costumam ganhar os prêmios e os elogios da crítica. O Oscar, nesse cenário, foi aos poucos se mostrando capaz de acomodar a todos. Tanto que, de 2010 para cá, passou a ter oito e às vezes nove indicados na categoria melhor filme, e não mais cinco, como ocorria antes.
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Está virando tradição: a política de cotas da Academia de Hollywood costuma selecionar, na corrida para conquistar o principal troféu da indústria do entretenimento, produções independentes e projetos grandiosos dos maiores estúdios. Tudo ao mesmo tempo. De modo que é possível ver, lado a lado, polarizando a disputa, arrasa-quarteirões como Avatar e títulos de orçamento baixo e lançamento discreto como Guerra ao Terror. Ambos concorreram em 2010. O primeiro arrecadou a quantia recorde de US$ 2,7 bilhões, enquanto o segundo faturou míseros US$ 49 milhões (grande parte disso obtida depois do anúncio da sua indicação e, mais ainda, após a sua vitória na cerimônia de entrega dos troféus).
Desde aquela histórica edição do Oscar, no entanto, as superproduções a concorrer a melhor filme foram escasseando – mesmo com oito ou nove filmes selecionados. Gravidade, em 2014 (com US$ 723 milhões arrecadados), e As Aventuras de Pi, em 2013 (US$ 609 milhões), são duas das exceções em meio ao domínio crescente dos chamados "filmes pequenos". O mercado, paralelamente, foi desenvolvendo o que já se convencionou classificar de "superblockbusters", ou seja, longas nos quais os estúdios investem somas antes inimagináveis, às vezes perto de US$ 500 milhões, planejando arrecadar, por baixo, US$ 1 bilhão.
Em 2016, o cenário teve uma leve mudança. A lista dos indicados a melhor filme do ano em Hollywood inclui a presença de pelo menos três longas que, se não podem ser comparados a um Star Wars: O Despertar da Força (que custou US$ 200 milhões e já arrecadou US$ 1,9 bilhão), encaixam-se na classificação de "superproduções". São eles Perdido em Marte (US$ 108 milhões gastos, US$ 598 milhões arrecadados), Mad Max: Estrada da Fúria (US$ 150 milhões gastos, US$ 375 milhões arrecadados) e O Regresso (US$ 135 milhões gastos, US$ 288 milhões arrecadados, ainda sem contar as cifras de países como o Brasil, onde estreou anteontem).
Entre os oito indicados a melhor filme nesta edição do Oscar, há ainda Ponte dos Espiões, que custou US$ 40 milhões e arrecadou US$ 162 milhões. Ou seja, quatro dos oito concorrentes estão muito longe da ideia de baixo orçamento e lançamento discreto. É possível dizer: desde o advento dos oito (ou nove) indicados, nunca houve tantos longas "bons de público" na lista.
Mas, é bom deixar claro, "bons de público" é uma coisa, "superblockbuster", outra. Enquanto Hollywood seguir tendo como maiores apostas comerciais para a temporada Warcraft e Batman vs. Superman, como é o caso de 2016, dificilmente veremos mudança nesse cenário de cisão entre os preferidos da massa e aqueles que saem consagrados pela crítica e pelas principais premiações da indústria.
Em perspectiva
No total, os oito indicados ao Oscar de melhor filme em 2016 já somam US$ 1,6 bilhão arrecadado em bilheterias. Os oito indicados de 2015 totalizaram US$ 1,3 bilhão, parte dessa quantia obtida apenas após a premiação. Somando os 42 indicados a melhor longa nos últimos cinco anos, somente 4 filmes arrecadaram, cada um, mais de US$ 500 milhões. São eles: Gravidade, As Aventuras de Pi, Sniper Americano e Perdido em Marte. Entre os 38 restantes, há filmes independentes de arrecadação ínfima para os padrões de Hollywood, como Amor,Nebraska e Indomável Sonhadora – os três com somas inferiores a US$ 20 milhões.
Os números dos indicados
Quanto arrecadou, em venda de ingressos, cada concorrente a melhor filme do Oscar 2016*
A Grande Aposta – US$ 104 mihões
Brooklyn – US$ 31 milhões
Mad Max: Estrada da Fúria – US$ 375 milhões
O Quarto de Jack – US$ 9 milhões
O Regresso – US$ 288 milhões
Perdido em Marte – US$ 598 milhões
Ponte dos Espiões – US$ 162 milhões
Spotlight – US$ 36 milhões
*Dados atualizados nesta sexta-feira, 5 de fevereiro, antes da estreia de alguns filmes em diversos países.
Fonte: Box Office Mojo.