Brasileiros radicados em Paris, os atores e criadores André Curti e Artur Luanda Ribeiro nunca sabem se estão "indo" ou "retornando" ao Brasil. Mesmo com os pés fincados na capital francesa, o desejo pelo país de origem, na palavra de Ribeiro, é forte, físico, orgânico. As viagens ao Brasil, para eles, são recheadas de fantasmas. Por isso, a segunda sede que fundaram no Rio, em 2010, veio apaziguar os ânimos, de certa forma.
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- Não é simples viver entre dois países. Para nós, está sendo um grande aprendizado - diz Ribeiro. - Mas, no final das contas, não existe mais "idas" ou "vindas". O mundo hoje está muito mais acessível à circulação.
Com 17 anos de trajetória, a Cia. Dos à Deux se inseriu no circuito internacional com um teatro gestual, sem falas ou diálogos, no qual os objetos de cena ganham o status de personagens, ao lado dos atores. Irmãos de Sangue, o espetáculo que chega a Porto Alegre em sessões neste sábado (19/12) e domingo (20/12) no Theatro São Pedro, participou do prestigiado Festival de Avignon, que a companhia frequenta desde seu primeiro trabalho, cujo título deu nome ao grupo. No Brasil, Irmãos de Sangue ganhou o Prêmio Shell do Rio em duas categorias: melhor ator, em prêmio compartilhado entre Curti e Ribeiro, e cenário, também assinado pela dupla.
Assista ao trailer de Irmãos de Sangue:
O espetáculo partiu da ideia de abordar o tema da fraternidade. Como já é costume na companhia, a palavra-chave se desdobra em uma pirâmide de subtemas, entre os quais está a questão da memória. Trata do reencontro de dois irmãos, vividos pelos atores-diretores, por ocasião do velório do pai. O episódio os leva a folhear seus álbuns de memórias familiares, com seus segredos e traumas individuais. Revivem o tempo de infância na relação com a mãe (Raquel Iantas) e experimentam um nova situação com a chegada de um terceiro irmão (Daniel Leuback).
- Mesmo tendo vivido na mesma família, nem todos têm percepção igual das coisas. No espetáculo, contamos estes dramas familiares de forma onírica e lúdica - observa Ribeiro.
Move a Cia. Dos à Deux o projeto de um teatro não hermético, acessível a todas as camadas do público. Apesar da ausência de falas, os trabalhos se caracterizam pela presença de uma dramaturgia, mesmo que o acompanhamento da trama exija uma postura ativa dos espectadores.
- Não temos restrição à presença de falas - explica o ator e criador. - É que não sentimos necessidade de incluir palavras em cena. Claro que a companhia tem um mercado internacional importante e que o teatro gestual nos ajudou nesse sentido, mas nunca olhamos para trás e pensamos que poderíamos ter inserido diálogos neste ou naquele trabalho.
Ribeiro se refere à Dos à Deux como um grupo independente que vive da difusão de seus espetáculos e garante não ter receio de dizer que uma companhia teatral funciona "como uma empresa", com planejamento, organização e empregados. Para se manter no mercado internacional, o coletivo franco-brasileiro teve de aprender a trabalhar com a devida antecedência - eles já estão com a agenda organizada até 2017. No ano que vem, estreiam o novo trabalho, Nada É o que Parece Ser, sobre o amor. A estreia será em outubro, na França, e em novembro, no Brasil.
IRMÃOS DE SANGUE
Neste sábado (19/12), às 20h, e domingo (20/12), às 18h. Duração: 90 minutos. Classificação: 14 anos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20, à venda na bilheteria do teatro, das 15h até a hora da sessão, ou pelo site compreingressos.com.
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Fábio Prikladnicki
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