Aclamada pela crítica no Brasil, a série produzida pela Netflix não passou de "uma decepção" no país natal do traficante Pablo Escobar, vivido pelo baiano Wagner Moura.
Colombianos opinam sobre "Narcos": "Grande seriado, mas não funciona aqui"
Uma das principais revistas culturais da Colômbia, a Arcadia, disse que "apesar de contar com uma boa produção, a série é uma miscelânea de sotaques e atuações medíocres que não convencem". Em meio a críticas sobre seu espanhol na série Narcos, o ator Wagner Moura resolveu entrar na discussão.
Opinião: Wagner Moura impressiona como Pablo Escobar em "Narcos"
Procurado pelo jornal Folha de S. Paulo, o ator defendeu que seu espanhol não deveria ser tema de discussão. A pedido dele, sua fala ao periódico foi publicada na íntegra. Leia abaixo:
"Desculpe, não há muito o que falar. Acho que não cabe ficar me justificando de críticas. O trabalho está aí, tem gente que gosta e gente que não gosta, assim é que funciona esse negócio.
'Narcos' tem recebido críticas consagradoras mundo afora e não creio também que tenha que agradecê-las ou achar que estão todas certas. Posso dizer o seguinte: eu gosto muito da série e tenho muito orgulho do trabalho que fiz. Em "Narcos", a maioria dos personagens colombianos é interpretada por atores que falam com outros sotaques. Luiz Gusmaán é porto-riquenho, Paulina Garcia é chilena, Paulina Gaitán é mexicana, Alberto Amman é argentino...
Claro que meu espanhol não é igual ao espanhol falado por um paisa (alguém da região) de Medellín. Tampouco é tão bom quanto o de qualquer um que fala essa língua desde que nasceu. Te garanto, no entanto, que fiz o melhor que pude.
Veja bem: Benicio del Toro, por exemplo, fez um Pablo Escobar extraordinário falando inglês no filme "Paradise Lost". E Pablo nunca falou inglês na vida. "Narcos" é uma série feita para o mundo inteiro, não para a Colômbia. Já imaginávamos, claro, que ia haver alguma polêmica lá, pelo simples fato de eu ser brasileiro e de Escobar ser um personagem fundamental nesse país.
Apesar disso, foi emocionante a acolhida que tive por parte de todos os colombianos que trabalharam na série. Acho que eles respeitaram meu comprometimento com o personagem e com a história deles. E, sinceramente, isso para mim já valeu. O único espanhol que eu sei é o que aprendi em Medellin. Veja: quando fiz JK (em minissérie da Globo sobre o presidente, exibida em 2006), tentei pincelar o sotaque mineiro sem nunca forçar. Também não era perfeito como o de alguém que nasceu em Belo Horizonte.
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O mesmo com o cearense de "Praia do Futuro", com o paulista de Carandiru, com o pernambucano de "Deus é Brasileiro" ou o carioca de "Paraíso Tropical". Não foi diferente com o paisa de "Narcos". Claro que um ator tem que tentar chegar o mais próximo possível do personagem em todos os aspectos humanos, inclusive, se for o caso, da prosódia. Mas eu acho, sinceramente, que há coisas bem mais importantes que o sotaque".