Por suas datas festivas, em setembro o Rio Grande do Sul ocupa espaço maior em meus pensamentos. Da letra hiperbólica de seu hino ("sirvam nossa façanhas de modelo a toda Terra") à situação catastrófica de suas finanças, tudo do Estado me assalta, ressalta e dói. Não se trata de renegar tradições e características peculiares. O Rio Grande é a "minha aldeia". Mas não cabem em mim ufanismos ou bravatas. Rejeito a reverência a um passado glorioso que desconhece a realidade traumática do presente. Responda aí: são nossos o pôr do sol mais bonito, a rua mais bela e a maior cantora? E as mulheres mais lindas, o público mais culto, a carne mais saborosa? Se você respondeu sim a essas perguntas, você é o gaúcho típico. Desses que se bastam a si mesmos e com os quais não adianta argumentar.
Estou furioso com o Rio Grande do Sul. Com nossa inércia e miopia. E culpar somente o claudicante governo Sartori seria injusto. Todos nós, do primeiro escalão ao baixo clero mais insignificante, por omissão ou conveniência, deixamos a situação chegar aonde chegou. Proporcionalmente o Estado mais endividado do país, temos a P.I.B. - Piração Interna Bruta, expressão do Gabeira - mais preocupante do país. Nossos tempos são duríssimos: salários injustamente parcelados, obras inconclusas que se arrastam, educação decadente, futuro tenebroso. Meu coração farrapo está em farrapos. O amor, descompensado. Minha autoestima está mais baixa que o índice de popularidade da presidente.
Choro pelo Rio Grande. Lágrimas amargas. Tudo o que precisamos aqui é renovação e eficiência. Grande Rio Grande do Sul, pobre Rio Grande do Sul, amado Rio Grande do Sul: que Deus e os homens de bem, de todos os credos e cores, se apiedem de ti. Hoje. Agora. Amém.
P.S.: Meu astral melhora muito quando leio um bom livro. Mulher de Barro, último romance da Joyce Carol Oates, é poderoso, irresistível e perturbador. Minha escritora americana favorita merece o Nobel há anos. Ele virá. Setembro também.