"Cada palavra guarda uma cilada", já disse Torquato Neto. Eu li, lemos todos, a declaração da presidente sobre delatores. Desde quando um preso político torturado, sob coação física, merece ser comparado a alguém que usa o instituto da delação premiada?
Enquanto confusões nacionais prosperam, a menina carioca Kailane Campos, de 11 anos, porque vestia roupas de candomblé, foi apedrejada por imbecis que gritavam "Jesus está voltando!". No Maranhão, ao assaltar um bar, um homem foi amarrado nu a um poste e morto a pauladas por uma multidão enfurecida. Aqui, os crimes contra adolescentes cresceram 61%. O Brasil não deveria flertar com a intolerância de letrados e ignorantes. Arrogância e barbárie. Chegamos ao fundo do poço? Há perigo na esquina.
"Quando as pessoas se falam, nascem flores ou muros", verso da Ana Terra, sintetiza à perfeição a função das palavras nas relações pessoais. Esclarecedoras ou confusas, difusas ou iluminadas, para o bem ou para o mal, as palavras guardam em si mesmas a grandeza e o mistério do destino humano. Guardar, do filósofo e letrista Antônio Cícero é, aliás, o nome do meu poema preferido. Começa assim: "Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la."
Leio poesia como quem bebe água. Escrevo em guardanapos versos que me chamam atenção, encho cadernos com citações que me comovem. Por isso, a decisão da comissão ligada à Academia Brasileira de Letras, constituída por Ferreira Gullar, Cleonice Berardinelli e Alberto Costa e Silva, de não conceder premiação à categoria, referente à produção de 2014, me deixou mudo.
Em compensação, comecei a falar pelos cotovelos depois de ver o DVD da Baby Consuelo. A Menina Ainda Dança é eficientíssima injeção de ânimo na alma da nação maltratada. Com seu cabelo roxo e figurino esquisito, Janis Joplin tupiniquim com pegada própria, Baby é genial. O show, para felicidade geral da nação, a preços populares, está confirmado na programação do Porto Alegre Em Cena. Será histórico.
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