Não existe fim de temporada bom. Quando se acompanha uma série durante cinco, seis, sete anos ou mais, é bastante melancólico dizer adeus para aqueles personagens que se tornaram muito mais familiares para você do que a sua velha Tia Adelaide. O contrário, porém, é bastante comum: finais tão sem pé nem cabeça que você fica com raiva por ter perdido tantas horas da sua vida - horas que poderiam ter sido dedicadas, digamos, para conhecer melhor a sua velha Tia Adelaide. Nesta categoria, Lost permanece imbatível.
Dito isso, e assumindo que quem chegou até aqui não tem medo de spoilers, o que posso dizer é que gostei de quase tudo no episódio final de Mad Men. Numa escala do "gostei menos" para o "gostei mais", o ponto menos inspirado do epílogo talvez tenha sido o romance deus ex machina de Peggy (Elizabeth Moss) e Rizzo (Jay R. Ferguson), arranjado nos últimos minutos do último episódio. OK, Peggy merecia algum sucesso romântico em sua atrapalhada vida pessoal, mas os roteiristas poderiam ter pensado nisso alguns episódios antes.
Já o desfecho "oooom" de Don Draper (Jon Hamm), ainda que surpreendente, mostrou como realmente termina uma época: não quando os penteados e o figurino mudam ou quando as drogas da moda são substituídas por outras, mas quando a publicidade assimila as mudanças de costumes em curso para vender produtos. Terminar a série com uma icônica campanha de 1971 da Coca-Cola foi um final mais do que apropriado para uma série que nos mostrou como a publicidade pode ser genial e oportunista - muitas vezes ao mesmo tempo. (Se o comercial foi criado por Don, Peggy ou nenhum dos dois é um elemento que ficou em aberto para a escolha do espectador.)
Sexo, drogas e publicidade: conheça as referências de Mad Men
Apesar do charme de Don Draper, seus conflitos internos nem sempre foram muito convincentes ao longo da série. Seus erros do passado, suas mancadas do presente, suas dúvidas sobre o futuro, nada disso se sustentaria não fossem o personagem e a série, em conjunto, tão sedutores. A trama mais arrebatadora de Mad Men, no final, foi a das mulheres - e o desfecho das personagens principais deixou isso claro. Betty (January Jones), a mãe de família linda, loira e desocupada, marchou com a dignidade possível rumo à extinção, enquanto sua filha independente e determinada, Sally (Kiernan Shipka), assumia o comando da casa. Peggy seguiu sua marcha, sem sobressaltos, rumo ao topo da carreira, enquanto Joan (Christina Hendricks) abriu mão de um marido que queria transformá-la em bibelô e abriu o próprio negócio. Nada mal, meninas.
Parafraseando Neil Armstrong, que chegou à Lua na primeira metade desta última temporada, os anos 1960 foram um pequeno passo para os homens, mas um salto gigantesco para as mulheres.