A Armazém Cia. de Teatro é uma velha conhecida do público gaúcho. Por aqui, eles apresentaram, apenas nos últimos anos, as peças Inveja dos Anjos, Toda Nudez Será Castigada (ambas em 2010), Antes da Coisa Toda Começar (2011) e A Marca da Água (2013). Mas quem assistiu a estes espetáculos poderá se surpreender com o trabalho que eles trazem agora ao 10º Festival Palco Giratório Sesc/POA. Estreado nacionalmente no Festival de Curitiba de 2014, O Dia em que Sam Morreu chega a Porto Alegre com sessões nesta sexta (8/5) e sábado (9/5) no Teatro Sesc Centro (Alberto Bins, 665).
10º Festival Palco Giratório aposta na diversidade de espetáculos
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Motivada por um notável teor político, a produção se distancia dos espetáculos recentes do grupo, envolvidos em uma atmosfera de memórias, sentimentos e emoções. Mas remete, de certa forma, a trabalhos mais antigos, como A Ratoeira É o Gato (1993), peça baseada nos dramaturgos Michel de Ghelderode e Heiner Müller que discutia a violência; A Caminho de Casa (2004), que tratava da intolerância religiosa; e Mãe Coragem e Seus Filhos (2007), releitura de Brecht. O diretor Paulo de Moraes, coautor de O Dia em que Sam Morreu (ao lado do antigo parceiro Maurício Arruda Mendonça), relata em conversa por telefone:
- Não trata dos mesmos temas (das peças mais antigas), mas tem em comum uma discussão sobre acontecimentos atuais, e não tanto sobre sentimentos. Começamos a pensar no novo trabalho na época das manifestações de 2013. Na ocasião, estávamos apresentando A Marca da Água no Festival de Edimburgo, na Escócia. Eu falava muito, por Skype, com o Maurício, que estava no Brasil. O espetáculo veio muito dessa conversa sobre o que estava ocorrendo aqui.
Ambientado em um hospital, O Dia em que Sam Morreu narra histórias de sujeitos às voltas com dilemas éticos. O título faz referência a personagens com o mesmo apelido: Samuel, o jovem idealista que invade o hospital armado; Samantha, uma juíza que espera pela doação de um coração; e Samir, um palhaço que sofre de Alzheimer. A escolha de um hospital como cenário não é acidental: a companhia buscou um lugar onde as estruturas de poder estivessem colocadas de forma clara.
- Assim que estreamos a peça, tive um problema renal e me disseram que eu precisava fazer uma cirurgia imediatamente. É um poder com o qual você não consegue sequer argumentar - relata Moraes.
De forma indireta, a peça ecoa o dilema com o qual os brasileiros se defrontam historicamente: a postura ética deve começar por nós ou precisamos do exemplo de nossos governantes? O diretor e dramaturgo explica que não é intenção do espetáculo oferecer respostas:
- Na peça, tentamos levantar pontos de vista divergentes para que o público se reconheça de forma positiva ou negativa. O que cada um faz a partir daí não cabe a nós decidir. A peça não é uma lição de moral, mas um instrumento de debate.
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Dilemas éticos
Armazém Cia. retoma o teor político com a peça "O Dia em que Sam Morreu"
Mais recente trabalho do grupo está na programação do 10º Festival Palco Giratório Sesc/POA
Fábio Prikladnicki
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