Todo mundo conhece a manobra: quando o assunto é delicado, adaptamos o linguajar. Dizer que aquele sujeito está "alterado" soa melhor do que escancarar que ele está caindo de bêbado. No dia a dia, usamos tantos eufemismos que a lexicógrafa Roseli Oliveira encontrou mais de 3.722 mil exemplos.
O fruto dessa pesquisa de anos, em fontes tão variadas quanto conversas casuais, revistas e roteiros de cinema, é o Dicionário de Eufemismos da Língua Portuguesa. O livro será lançado nesta quarta-feira, às 19h, na Escola de Autopesquisa da Consciência (EAC), em Porto Alegre.
Acessível a leigos, mas voltado principalmente a estudiosos da língua, o dicionário é inédito entre os países lusófonos. Ao listar os termos, acaba por mostrar preconceitos comuns e assuntos com os quais temos dificuldade em lidar, entre eles morte, sexualidade, crenças e doenças. Em entrevista por e-mail, Roseli explica por que precisamos dos eufemismos:
- Por questão de educação, bom- tom, delicadeza, polidez, bom senso e gentileza.
O esforço por suavizar ideias desagradáveis ou ofensivas acaba por originar eufemismos bem curiosos (confira alguns abaixo).
Veja alguns dos eufemismos compilados por Roseli Oliveira:
Baixas civis = morte de inocentes
Confronto militar armado = guerra
Conversa de atualizações das informações alheias = fofoca
Desprovido de simetria facial = feio
Edifício senhorial = prédio velho
Essência eterna = Deus
Importador alternativo = contrabandista
Indivíduo carente de A a Z = analfabeto
Inimigo = diabo
Libido de altíssima voltagem = tarado sexual
Omitir a verdade = mentir
Partir = morrer
Senil = velho, velha
Sensação olfativa = cheiro
Substância proibida = droga
Tomar posse = roubar
Dicionário de Eufemismos da Língua Portuguesa
De Roseli Oliveira
Dicionário (inclui CD-ROM). Editares, 520 páginas, R$ 111.
Sessão de autógrafos quarta-feira (25/2), às 19h, na Escola de Autopesquisa da Consciência (Miguel Tostes, 275).