É mais ou menos assim: escritores não costumam gostar ou levar na boa a ideia de que mexam no seu texto.
Permitir-se quebrar essa regra foi o desafio assumido por seis autores gaúchos no livro juvenil Foi o que Coube na Mochila, que será lançado hoje na Feira do Livro.
Na verdade, deixar que colegas de ofício colocassem o dedo no seu texto - e, por sua vez, colocar o dedo no texto alheio - era a condição para participar do projeto. Por isso, foi um desafio encontrar quem estivesse disposto a participar de um grupo para produzir um livro escrito de forma coletiva. Airton Ortiz, Carlos Urbim, Christina Dias, Luciana Thomé, Luiz Paulo Faccioli e Sergio Napp toparam a proposta e, assim, formaram o autointitulado grupo "Osseis de Poa". A organização coube a Nóia Kern.
- Queríamos que cada um criticasse muito o texto do outro. O desafio do escritor é ter o primeiro leitor crítico antes do livro estar pronto, um leitor também escritor, que qualifique o texto - conta a idealizadora do projeto, Christina.
Hoje, às 16h30min, os autores participam do debate Os Desafios da Produção Literária Coletiva, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. Mais tarde, às 18h, autografam Foi o que Coube na Mochila no térreo do Memorial do RS.
O trabalho de construção e reconstrução do texto a 12 mãos fez com que a obra levasse três anos para ficar pronta. O compromisso eram dois encontros por mês, o restante dos debates foi realizado pela internet. Foi o que Coube na Mochila conta a história de seis jovens de diferentes partes do Brasil, convocados para uma viagem misteriosa à Selva Amazônica. Cada um deles recebe pelos Correios um envelope com passagem aérea para Manaus, um voucher de hospedagem de 30 dias em um hotel às margens do Rio Negro e uma ordem de pagamento no valor de R$ 10 mil a ser retirada na cidade amazonense.
A história segue na Amazônia até uma reviravolta reportar o leitor à Paris de 1889, ano da inauguração da Torre Eiffel. Essa mudança no script, que não estava no roteiro inicial, foi resultado do processo de escrita coletiva. Para Christina, a dinâmica teve ainda outro sabor:
- O trabalho do escritor é muito solitário, e a grande delícia desse projeto foi diminuir a solidão. Nos tornamos grandes amigos e desenvolvemos muito o exercício de se colocar no lugar do outro cotidianamente.
Sem preocupação com a autoria nos textos, cada um dos escritores criou um personagem. Em comum, são jovens envoltos em problemas e dificuldades para enfrentar a vida. E, no livro, eles acabam convocados para a viagem por possuírem habilidades especiais.
- Criamos os personagens em linhas gerais, mas, no movimento e na trajetória deles, todo mundo meteu a colher. O resultado final ficou híbrido, às vezes não sabemos onde começa o texto de um e termina o do outro - relata Faccioli.
Foi o que Coube na Mochila
Infantojuvenil, editora Artes e Ofícios, 136 páginas, R$ 34 (em média).
Lançamento hoje, às 18h, no Memorial do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega)