Michel Zózimo garimpa livros didáticos e enciclopédias antigas para investigar o conhecimento científico do passado. Encontra, nessas publicações desatualizadas e fora de uso, imagens que ele reinventa, em suas obras, como pequenas peças de ficção. Algumas imaginárias, outras impossíveis.
- Tento encontrar nessas imagens algo que seja estranho a mim, que possa ser tirado do contexto de ciência defasada e ser levado para o campo da arte. Uso a intuição como potência inventiva - diz.
Sétimo artista da série sobre os gaúchos que participam da 9ª Bienal do Mercosul, Zózimo produz livros, selos, adesivos e outros impressos. Costuma relacionar imagens a textos, aproximando seus trabalhos da arte conceitual. Suas obras são, como ele mesmo chama, "postais para lugares imaginários", "manuais para conquistar pequenos mundos", "histórias sobre banalidades nacionais", "cartazes de filmes inventados" e "bulas de remédios fictícios". Com esses projetos, muitos deles apresentados em eventos e exposições pelo Brasil, Zózimo ganhou bolsa de residência na Espanha e foi selecionado em diversos prêmios e editais no país, como Rumos Itaú Cultural e Funarte:
- Quando faço um trabalho, penso mais que estou fazendo literatura do que artes visuais. Ou que estou fazendo roteiro para filmes que não precisam existir em película - explica o artista, que em 2007 participou do Projeto Diálogos na 6ª Bienal.
Nascido em 1977, em Santa Maria, e atualmente professor e doutorando na UFRGS, Michel fez dos livros seu interesse artístico ainda na graduação, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Começou usando as páginas como suporte para seus desenhos e logo passou a se interessar pelo conteúdo e pelas possibilidades do meio impresso. No mestrado em Artes Visuais da UFRGS, criou um "remédio" chamado Droga de Artista, que originou derivados como Droga de Museu e Droga de Curador. Eram trabalhos com tiragem em série e inspirados nas tradicionais embalagens de remédio e nas respectivas bulas. A motivação era usar a ideia de prescrição médica para discutir o que se fala e escreve sobre arte:
- Os textos das bulas acabavam sendo bulas sobre o funcionamento do campo artístico. Livros e textos sobre arte muitas vezes parecem bulas sobre arte.
O atual interesse pela "ciência defasada" aparece no principal projeto de Zózimo, que faz parte de sua pesquisa de doutorado. Iniciado em 2008, Fluxorama consiste em trabalhos baseados em imagens recolhidas de publicações didáticas e informativas das décadas de 1920 a 1970 que são ressignificadas a partir de colagens, montagens, composições e outros procedimentos. Zózimo já fez séries sobre astros, meteoritos, formações rochosas, mergulhadores no fundo do mar e aventureiros em terras desconhecidas. Boa parte pode ser conferida no site do artista, www.michelzozimo.com.
- Fluxorama é uma série com trabalhos que vão levando a outros. Parte de imagens e ilustrações desses livros antigos, desse meu encontro quase que ignorante com essas imagens, sem saber do que elas tratam. São livros científicos que, com o passar do tempo, tornam-se defasados. Reúno as imagens que me interessam e, em algum momento, percebo que tenho um trabalho - conta.
É mais um passo do projeto Fluxorama que Zózimo apresentará na Bienal. Como um dos artistas de destaque da mostra, ele terá um espaço no Memorial do Rio Grande do Sul, onde simulará um ambiente didático dos anos 1970. Seu ponto de partida são as pesquisas de um alemão chamado Augusto Mayer (não confundir com o escritor gaúcho Augusto Meyer), que se refugiou no Estado na época do nazismo e desenvolveu, segundo Zózimo, algumas "teorias estranhas". Preservando o ineditismo do trabalho para a Bienal, que começa em 13 de setembro, o artista adianta mais um pouco:
- Vou expor parte da pesquisa, que são fotos de uma energia muito estranha que brota das mãos das pessoas. Haverá uma relação com o casal russo Kirlian, que desenvolveu uma técnica para fotografar a energia em torno das pessoas, que conseguia capturar a "aura".
A série
> Fernando Duval (1937, Pelotas)
> Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
> Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> Leonardo Remor (1987, Getúlio Vargas)
> Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)
> Katia Prates (1964, Porto Alegre)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
Até setembro
> Leticia Ramos (1976, Santo Antônio da Patrulha)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)