Então o pianista começou a tocar Villa-Lobos num auditório chamado Villa-Lobos. No Rio de Janeiro. Alguns acordes e me dei conta que aquele era o lugar certo para ouvir aquela música. Ainda mais que se tocava a Suíte Floral, peça da época em que Villa-Lobos ainda era um músico local, embora já bem entrosado com a intelectualidade carioca e com pianistas de nome, como Arthur Rubinstein. Talvez lá fora sobrasse algum Rio de Janeiro daqueles anos dos 1910. Só que naquele momento a pancadaria corria solta na Avenida Rio Branco, mascarados aqui, polícia ali, na iminência do confronto urgente. E aos pés do Pão de Açúcar, Villa-Lobos. A música dele também era iminente e urgente. No lugar certo. Talvez Villa-Lobos seja mesmo um músico local - a música dele viaja bem para outras lonjuras, mas tem valor ali mesmo nas suas raízes. Com e sem pancadaria.
Sonoridades
Celso Loureiro Chaves: Localidades
É bom proteger o localismo de certas músicas, não esquecer de mantê-las integradas à sua paisagem original