Apesar do inverno que parece ter voltado com tudo ao Rio Grande do Sul, os próximos dias serão de sol entre músicas em São Francisco de Paula, na região serrana do Estado. Isso porque desta sexta (2) até segunda (5) a cidade recebe a terceira edição do Festival de Choro da Serra Gaúcha, cuja programação, que é inteiramente gratuita, dedica-se a celebrar o gênero musical genuinamente brasileiro — e gaúcho.
— O Rio Grande do Sul tem uma história fortíssima em relação ao choro — afirma o produtor Carlos Branco, titular da Branco Produções e um dos criadores do festival. — Temos gravações de choro feitas em Porto Alegre, na antiga Casa Elétrica, que datam de 1910. Daqui saíram artistas como Octávio Dutra, Lúcio do Cavaquinho, Jessé Silva e Plauto Cruz, fora os grandes nomes da nova geração. É uma história que a gente precisa divulgar e celebrar.
Para difundir a raiz gaúcha do choro, o evento convoca o público a subir a Serra e prestigiar, também, a cultura, a gastronomia e as belezas de São Francisco de Paula. A programação ocorre em alguns dos principais — e mais bonitos — pontos turísticos da cidade, como o Mátria Parque de Flores e o Lago São Bernardo.
Quem aceitar a convocatória pode curtir boa música diante de paisagens deslumbrantes e, de quebra, apoiar o processo de retomada do Estado após a enchente histórica.
— Fizemos questão de manter a realização do festival, porque entendemos que a economia da cultura precisa voltar a girar. É importante para os artistas, para os trabalhadores, para os técnicos, para os produtores e, também, para as nossas cidades — diz Branco.
A programação inclui apresentações de grupos gaúchos de diferentes regiões do Estado, como o caxiense Descendo a Serra e o porto-alegrense Barbarizando o Choro, e um show especial da carioca Nilze Carvalho, uma das mais prestigiadas artistas de choro do país, com mais de 45 anos de carreira. Nesta quinta (1º), às 20h, ela também se apresenta no Instituto Ling, em Porto Alegre, com ingressos esgotados.
Para o Festival de Choro da Serra Gaúcha, Nilze prepara um repertório recheado de clássicos, pensado para fazer o público dançar e cantar junto. Estarão no setlist canções como Naquele Tempo, de Benedito Lacerda e Pixinguinha; Odeon, de Ernesto Nazareth; Barracão, de Dona Ivone Lara; e Os Boêmios, de Anacleto de Medeiros. Músicas do repertório autoral da artista também estarão no show, com destaque especial para faixas do novo disco dela, Nos Combates da Vida, lançado há duas semanas.
— Darei essa amostrinha para que, quando eu levar o show do disco, a galera já esteja sabendo do que se trata — projeta Nilze. — O Rio Grande do Sul é um lugar onde eu sei que sempre serei bem recebida; um lugar que tem um público muito qualificado, que entende o choro e o samba. Fico feliz de participar do momento de reconstrução do Estado levando um pouco de música e alegria — diz.
A artista começou a despontar no cenário musical ainda na infância, quando lançou a emblemática coletânea de LPs Choro de Menina. Já o primeiro contato de Nilze com um instrumento musical ocorreu aos cinco anos, quando aprendeu a tocar cavaquinho. Para ela, a música deve fazer parte da formação de toda criança.
É por isso que a artista elogia a programação do Festival de Choro da Serra Gaúcha. Além dos shows, o evento também engloba a realização de oficinas de choro para quase 500 crianças da rede escolar de São Francisco de Paula e cerca de 20 alunos da ONG Sol Maior, de Porto Alegre, que subirão a Serra para participar das atividades formativas.
— É muito importante que sejam oferecidas às crianças essas oportunidades de se aproximar da música. Não para que se tornem artistas, mas porque a música traz inúmeros benefícios, é algo que deveria fazer parte da formação de todos os cidadãos. E se essa música puder ser o choro, melhor ainda (risos) — brinca a artista. — O choro é um gênero que atravessou o século, que tem uma base sólida e que abraça a todos, da criança ao idoso. É uma música que não tem contra-indicação.
Festival de Choro da Serra Gaúcha
- Desta sexta-feira (2) até segunda (5), em diferentes espaços de São Francisco de Paula, na serra gaúcha, com entrada gratuita.
- Na segunda-feira, a programação é restrita às atividades formativas, sem atrações abertas ao público.
Programação
Nesta sexta-feira (2)
- Show de abertura com vários artistas na prefeitura Municipal de São Francisco de Paula (Av. Júlio de Castilhos, 444), às 16h.
Sábado (3)
- Oficina de composição coletiva no Centro de Informações Turísticas de São Francisco de Paula (Av. Getúlio Vargas, 1.850), às 10h.
- Painel "Choro: Patrimônio Histórico Imaterial" no Centro de Informações Turísticas de São Francisco de Paula, às 13h.
- Shows com o grupo Descendo a Serra (Caxias do Sul); Luiz Machado e Paulo Carvalho (Porto Alegre); Bruno Silva (Rio de Janeiro); grupo Barbarizando o Choro (Porto Alegre); grupo da Oficina de Choro de Porto Alegre (Porto Alegre); Rafael Velloso e grupo Nosso Choro (Pelotas); e Nilze Carvalho (Rio de Janeiro) no boulevard do Mátria Parque de Flores (Quilômetro 68 da RS-235), das 15h às 21h.
Domingo (4)
- Roda de Choro no Largo São Bernardo, às 11h.
Segunda-feira (5)
- Oficina "A Música da Nossa Gente" nas escolas municipais de São Francisco de Paula, das 8h30min às 15h30min.