As letras sentimentais e a sonoridade soft pop não são as únicas semelhanças entre Jão e Taylor Swift. Desde que lançou seu último álbum, Super, o cantor brasileiro quebrou recordes no Spotify e lotou um show no estádio Allianz Parque, em São Paulo, vendendo mais de 50 mil ingressos em menos de cinco horas. Tamanho sucesso não é tão comum com artistas pop no Brasil, terra do funk e do sertanejo. Mas Jão tem um bem valioso: fãs fiéis e engajados, com quem vem cultivando há anos uma relação mais intimista. Como Taylor Swift.
— Eu percebo que tem uma congruência muito próxima dos meus fãs com os fãs dela — assumiu Jão, em entrevista ao podcast PodPah no ano passado. — São fãs muito parecidos, gostam das mesmas coisas.
Nas redes sociais, as comparações entre os artistas se intensificaram desde que Jão lançou Super, em 14 de agosto. Primeiro porque o disco cravou o recorde de maior estreia do Spotify Brasil, superando justamente os números de Taylor Swift, com Midnights (2022).
Depois, Jão conseguiu lotar um show no estádio Allianz Parque, mesmo lugar onde a loirinha fará três apresentações em novembro. Para um artista pop brasileiro, o número é impressionante — algo comparável só foi conquistado por Ludmilla, que levou 60 mil pessoas ao Engenhão, no Rio de Janeiro.
— É impressionante o nível da produção dos shows dele — diz a fã Luísa Bell, 21 anos, que assistiu a Jão no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre. — Tinha um barco gigante em cima do palco. Show de luzes, telões grandes, sets em que ele montava uma mesa e ficava conversando com a galera. Eu nunca tinha visto uma coisa desse tipo em um show feito por artistas brasileiros.
Para muitos, Jão faz tanto sucesso justamente porque bebe na fonte de Taylor Swift. As músicas têm sonoridades semelhantes, com referências ao rock e ao alternativo, e letras que geralmente falam sobre amor, como foco nos sentimentos e na "sofrência".
Julho, por exemplo, tem sido comparada com All Too Well, uma das produções querididas dos fãs da loirinha. As duas abordam de forma nostálgica um relacionamento que já passou, descrevendo detalhadamente cenários e sensações. O instrumental também é parecido, o que deu origem a várias postagens nas redes sociais:
Jão já explicou em entrevistas que busca criar "um universo" com suas composições. Essa fórmula é seguida por muitos artistas, de Manu Gavassi a Billie Eilish, de Nando Reis a Lana Del Rey. Taylor Swift, porém, é provavelmente quem mais fez sucesso com ela.
— Eu sempre escrevi de uma forma narrativa e eu conto, mais ou menos, a minha vida nos discos. É óbvio que eu deixo uma forma muito mais legal, porque se você for falar da sua vida como ela é… chata. É óbvio que tem uma criação de universo. Acho narrativa uma coisa muito poderosa — disse Jão ao Podpah.
São letras que ressoam especialmente entre os jovens da geração Z, que compõem a maioria do seu público.
— Da primeira vez que eu ouvi (as músicas de Jão), eu me identifiquei muito com a questão de se sentir sozinho, de querer encontrar o seu lugar no mundo, das pessoas terem sempre duvidado dele — explica a fã Luísa.
Proximidade com fãs
O conteúdo das músicas é apenas um fator na equação. Assim como Taylor Swift, o cantor cultiva com seu público uma relação próxima. Antes de Super sair, por exemplo, ele promoveu uma sessão de audição exclusiva para 12 mil fãs no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
Jão também costuma dar pistas e "spoilers" de seus projetos, abrindo margem para que o público crie teorias e mantenha-se engajado. Ao longo dos anos, muitos fãs especulavam que cada álbum dele representava um elemento — Lobos (2018) seria terra, Anti-Herói (2019) seria ar e Pirata (2021), água. Ao lançar o novo disco, o cantor confirmou a teoria e anunciou que estava fechando um ciclo ao focar no elemento fogo.
— Ele também abriu uma live no Instagram pra conversar (com os fãs) sobre importância do álbum pra ele — conta o fã Marino Junior, 23 anos, de Novo Hamburgo. — E disse que esperava que as músicas tocassem o coração dos fãs assim como tocou o dele.
A interatividade também é percebida nos palcos:
— Na última apresentação, ele chegou a bater um papo com uma senhorinha que era fã dele e foi com a neta — conta Marino, que também viu o artista no Araújo Vianna. — Acho muito importante essa relação de afetividade por quem faz um esforço para ir até o show.
É assim que, atualmente, Jão desponta como uma das poucas referências masculinas e assumidamente LGBT+ no pop brasileiro, posto que já foi ocupado por nomes como Renato Russo e Cazuza, nos anos 1980. Esse último, aliás, é um das grandes referências do músico de 27 anos, que revelou recentemente que irá gravar músicas inéditas do ídolo morto em 1990.
— Quero fazer da maneira certa, respeitando a obra dele. Mas já vi uma música que ele nunca gravou e é perfeita, como não poderia deixar de ser. Preciso me provar muitas vezes. É uma coisa constante, que vou querer para sempre — disse, em entrevista à Folha de S. Paulo.
*Produção: Mariana Barcellos