Há 10 anos, os músicos Texo Cabral e Paulinho Goulart estavam na estrada tocando com Pirisca Grecco, até que, nos encontros dos camarins da vida, tiveram uma ideia: "E se tocássemos as nossas próprias músicas?" — ambos levaram a sério. Logo começaram a convidar outros artistas para abraçarem o sonho. Matheus Alves foi o terceiro a chegar, sendo seguido por Miguel Tejera e Bruno Coelho. Nascia, então, o Instrumental Picumã — a formação segue a mesma até hoje.
Este encontro sólido e duradouro é motivo de festa. Para comemorar a primeira década de história, o grupo realiza nesta terça-feira (8), a partir das 20h, um show especial no teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Avenida Independência, 75), em Porto Alegre — cidade na qual a banda foi formada. Durante a apresentação, o quinteto tocará os seus principais trabalhos autorais, bem como alguns sucessos de outros artistas, realizando uma jornada pela trajetória do conjunto, que mescla os ritmos do Sul e da América Latina.
— A música regional e latino-americana estão na nossa história, no nosso DNA. E a gente compõe com essa mistura de ritmos, então sempre procuramos colocar uma milonga, que é praticamente nossa, apesar de não ser, um candombe, uma chacarera, vários ritmos que são da América Latina e que não são estritamente brasileiros, mas são mais do Sul e que poucos aproveitam fora da música regional — explica Texo.
Desta forma, o som que o grupo faz sai do acordeom de Paulinho, do violão de Alves, da flauta de Texo, do contrabaixo acústico de Tejera e da percussão de Coelho. O quinteto se conversa na questão dos gostos e das inspirações — que vão de Renato Borghetti a Lito Vitale —, e traz na bagagem a experiência de cada um em acompanhar artistas distintos por estúdios e palcos que vão além das fronteiras do Rio Grande do Sul e do Brasil.
— O Picumã deu espaço para a gente mesclar nossas influências de música que a gente fazia com outros artistas. E para a nossa surpresa, tivemos uma grande aceitação do público, das outras pessoas, dos colegas, exatamente por essa sonoridade, que é regional gaúcha, mas com uma pitadinha de outras coisas que nos rodeiam aqui, como o Uruguai, a Argentina e, também, do Brasil — conta Paulinho.
Estas misturas podem ser ouvidas nos dois álbuns do grupo: o primeiro, lançado em 2017, leva o nome Instrumental Picumã, e recebeu quatro indicações ao Prêmio Açorianos de Música, consagrando-se como melhor disco instrumental e garantindo também a distinção de revelação do ano. Já em 2021, eles intensificaram a busca por expandir a sonoridade e convidaram o multi-instrumentista paulista Arismar do Espírito Santo para participar do disco Vinda Boa Picumã+Arismar.
A música
Mesmo que música instrumental seja, antes de tudo, música, existe uma barreira com uma parcela do público, que ainda prima por letras nas canções. O quinteto do Picumã, porém, decidiu encarar o desafio de tentar expandir a audiência — inclusive, criando o projeto Quarta Aumentada, que ocorreu entre 2019 e 2020, recebendo mais de 150 instrumentistas brasileiros nos palcos gaúchos, em especial no Amadeus Lounge, na Cidade Baixa.
— Foi um palco que a gente abriu principalmente para a música instrumental aqui em Porto Alegre. Até então, era um espaço que não existia e atualmente, na verdade, não se tem muito espaço. Hoje já tem mais bandas, mas há quatro anos, quando a gente começou esse projeto, eram muito poucas. Era bonito de ver e todo mundo queria ir para lá, tinha um som bom — explica Texo, destacando que pretende retomar o projeto, mas, desta vez, de maneira mais estruturada.
Esta, por sinal, é a meta para a próxima década: utilizar estas bases sólidas para expandir o que já foi feito, atravessando novas fronteiras. Enquanto o grupo trabalha em seu terceiro disco de inéditas, ainda sem data para lançamento, os músicos também estão em busca de editais para levarem o seu som para o maior número de pessoas possível — o show de 10 anos, por exemplo, faz parte da programação selecionada por meio do Edital de Ocupação CHC Santa Casa Para Espetáculos de Música. Em paralelo, ainda pretendem sair em turnê pelo Brasil em um futuro próximo, consolidando estes 10 anos de aventuras musicais e vislumbrando os próximos 10.
— A gente chega nesses 10 anos com uma identidade, uma sonoridade já consolidada. Então, temos a expectativa de continuar na busca de novos horizontes, mas sempre com pé na nossa regionalidade, mostrando a nossa característica aqui do Sul, a nossa paisagem sonora, como a gente costuma dizer, com influências da Argentina, do Uruguai e do Brasil. E o grupo acabou mesclando isso e inserindo no nosso trabalho, sem preconceitos. E hoje o grupo atingiu uma maturidade no seu som. E por isso, acho que os próximos 10 anos serão ótimos — finaliza Paulinho.
Instrumental Picumã 10 anos
- Nesta terça-feira (8), a partir das 20h, no teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Avenida Independência, 75, bairro Independência), em Porto Alegre
- Ingressos a R$ 40 (inteira) ou R$ 20 (meia-entrada), disponíveis na plataforma Sympla. Haverá opção de compra de entradas na hora, porém, apenas com pagamento via Pix.