Os 36 anos que separam Marcel Powell, 41, do maestro Gilson Peranzzetta, 77, parecem pouco fazer diferença quando ambos tocam juntos, colocando o violão do primeiro em total sincronia com o piano do veterano. Parecem contemporâneos. O duo, que está completando uma década desde a primeira apresentação conjunta, vem a Porto Alegre nesta terça-feira (4) para apresentar Pro Tião, álbum que homenageia o lendário violonista Sebastião Tapajós (1944-2021).
Lançado em agosto do ano passado, o disco — que pode ser encontrado nos formatos físico e digital — conta com 11 faixas instrumentais, que serão tocadas na íntegra durante a série Jazz Day, promovida no Farol Santander (Rua Sete de Setembro, 1.028 – Centro), em Porto Alegre, para celebrar o gênero. A apresentação ocorre a partir das 20h, e os ingressos estão à venda a R$ 35 na plataforma Sympla.
No repertório do disco, destacam-se composições de Baden Powell — pai de Marcel —, Tom Jobim, Carlos Lyra, Garoto, Waldir Azevedo e Tapajós, bem como dos próprios Peranzzetta e Marcel. O álbum traz em destaque algumas canções com histórias curiosas, como Tocata para Billy Blanco, música que surgiu durante um ensaio. Na ocasião, Tapajós compôs o tema em apenas 15 minutos, olhou para o maestro Peranzzetta — seu grande parceiro musical, entre 1986 e 2021 — e disse:
— A melodia está aí, agora se vira para fazer um arranjo que remeta a Bach.
Peranzzetta fez o arranjo, que se tornou o preferido de Tapajós.
Outra música que está no projeto que será apresentado nesta terça na Capital é Pro Tião, que dá título ao álbum e foi composta por Peranzzetta e Marcel em homenagem a Tapajós, meses após a morte do músico. Já Pedacinhos do Céu, clássico da música popular brasileira, também tem sua história entre os músicos: a composição de Waldir Azevedo fazia parte do repertório do duo que Tapajós tinha com Peranzzetta e, para a gravação deste novo álbum, o maestro manteve o arranjo original que o saudoso violonista adorava tocar.
Porém, selecionar quais faixas, de fato, entrariam no disco não foi uma tarefa tão simples. Mesmo escolhendo as canções com as quais mais se identificavam e que já vinham tocando, Marcel e Peranzzetta tiveram dificuldades para aceitar que muitas canções ficariam de fora. A dupla, entretanto, celebra poder entregar este projeto cheio de carinho e história para o público.
— A música é a estrela, nós somos só instrumentos — enfatiza Peranzzetta.
Instrumental
Reconhecidos como dois dos mais importantes nomes da música instrumental nacional, eles não concordam com esta distinção feita entre o trabalho que ambos fazem e a "música com letra". Para eles, música é música e, com ou sem alguém cantando, estão presentes nas faixas as texturas, as cores, as suavidades, as sonoridades, os timbres, o vigor e, principalmente, a emoção. Mas, já que existe a divisão, ambos comentam sobre o que acham do atual momento.
— A música instrumental nunca saiu de cena. Ela sempre esteve presente. Mas, agora, ela tem tido oportunidades que antes não tinha. Eu acho que isso é uma coisa muito legal, muito interessante, porque é música brasileira, coisa de raiz, que leva a pensar duas vezes quando você escuta. A música instrumental é para sempre, é uma coisa divina — enfatiza Peranzzetta, que acredita que o cenário poderia melhorar caso houvesse mais espaço nas rádios.
Marcel complementa:
— A música instrumental, historicamente, nunca deixou de produzir grandes instrumentistas. Ela teve vários bons momentos antes desse atual e eu vejo também que as dificuldades continuam meio parecidas com antes, apesar de ela estar se renovando. Dizer que hoje está melhor ou pior é um pouco difícil, mas ela está sempre atualizada.
Ídolos
Sobre a parceria, o violonista observa:
— É literalmente sonhar acordado. Se eu pudesse definir o que eu estou vivendo em uma frase, seria essa. Poder dividir o palco, uma música, como parceiro do Gilson, que fez história com o Sebastião, como duo, é um sonho.
Peranzzetta, por sinal, sempre esteve presente na casa do violonista, uma vez que o seu pai, Baden Powell, ao mesmo tempo que ensinava o filho a tocar violão, tinha no pianista uma referência como músico. Assim, quando Marcel foi convidado para tocar com o ídolo pela primeira vez, em 2013, em um festival, sentiu-se honrado. A parceria foi se estreitando e atingiu o ápice durante a pandemia, com a dupla fazendo lives e, a partir disso, começando a gestar o álbum Pro Tião.
Já para Peranzzetta, fazer um duo com um artista mais jovem, que conversa com gerações mais novas, é essencial, pois pode experimentar descobertas e, com isso, acredita que consegue crescer ainda mais como artista:
— É uma maravilha ter sangue novo por perto, porque tem sempre informação nova, tem sempre uma coisa nova para você ouvir. Isso, para mim é muito importante. À medida que você vai conhecendo músicos jovens com talento, você vê e ouve coisas que diz: "Olha que coisa linda, por que não pensei nisso?". E isso não tem dinheiro que pague.
E sobre formar um duo com o ídolo Peranzzetta, Marcel aponta algo que aprendeu com o pai:
— Ele me ensinou o seguinte: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Então, quem pode mandar é o Gilson. E eu tenho que obedecer. Por isso que funciona (risos).
Já o maestro devolve, em clima de descontração:
— Eu finjo que mando, ele finge que obedece e fica tudo certo (risos).
Jazz Day – Gilson Peranzzetta e Marcel Powell
- Nesta terça-feira (4), às 20h, no Farol Santander (Rua 7 de Setembro, 1028), em Porto Alegre
- Ingressos: por R$ 35 (inteira), para cadeiras centrais e laterais, com ocupação por ordem de chegada
- Ponto de venda sem taxa: bilheteria do Farol Santander, nesta segunda e na terça, das 10h às 19h. Ponto de venda com taxa: na plataforma Sympla
- Classificação: 14 anos