Quatro décadas se passaram desde que João Maldonado, 58 anos, decidiu que a música seria a escolha da sua vida. Do início em festivais de bandas estudantis o músico tornou-se referência na cena jazz brasileira, como pianista, e marcou seu nome também na história do rock gaúcho como tecladista do TNT. A história desses 40 anos de música será rememorada neste sábado (1º), em show no Teatro Oficina Olga Reverbel no Multipalco Eva Sopher (Praça Marechal Deodoro, s/n°), às 19h, com ingressos a R$ 60, à venda pelo site.
O espetáculo intercalará momentos de piano de cauda solo e de sexteto, com Maldonado acompanhado dos músicos Miguel Tejera (baixo acústico), Dani Vargas (bateria), Cristiano Ludvig (sax tenor), Amauri Iablonovski (sax soprano) e Ronaldo Pereira (sax tenor). O repertório contemplará, sobretudo, o recém-lançado álbum de piano solo OITO, que traz regravações de canções autorais de Maldonado e também releituras de Little Man, de Art Blakey & The Jazz Messengers; Witch Hunt, de Wayne Shorter; e Nunca Mais Voltar, do TNT.
— O show será formado por partituras antigas, por músicas do TNT que datam do final dos anos 1980, ou seja, pela minha história musical — adianta Maldonado. — Acho bonito perceber que, ao longo desses 40 anos, carreguei na mochila canções que posso ainda usar em 2023, mas que também sigo fazendo coisas novas.
Além de OITO, que chegou às plataformas digitais em janeiro, Maldonado deve lançar outros dois discos até o final do ano: mais um de piano solo e outro de bossa nova, com o gaúcho tocando e cantando ao lado de nomes como Roberto Menescal, Paulo Braga e Analu Sampaio. Este último trabalho representa algo totalmente inédito na carreira do artista, que transitou entre o jazz, o blues e o rock durante toda a sua carreira, mas ainda não havia adentrado os meandros da música popular brasileira.
Maldonado vê na própria inquietude o combustível que permitiu chegar às quatro décadas de carreira. Independentemente do tempo de estrada, tem de estar sempre em movimento, aprendendo e explorando novas possibilidades musicais. É algo que o artista diz ter absorvido dos pais, a quem atribui também sua paixão pela música, que faz questão de manter.
— Minha família sempre apoiou aquilo que, na época, era só o sonho de um garoto que queria viver de música. Mas eles sempre me falaram: "Tu podes ser o que quiseres, mas precisas estudar" — lembra o artista. — Até hoje eu estudo, até hoje faço aulas, mesmo depois de 40 anos. A gente precisa manter sempre a vontade de aprender e descobrir coisas novas, pois a nossa vida nos dá eternamente a possibilidade da descoberta. Estou sempre disposto a percorrer caminhos que ainda não percorri.
Às vezes, porém, os novos caminhos bifurcam-se em estradas já trilhadas. É o caso do videoclipe que Maldonado lançará nas plataformas digitais durante o show deste sábado, com transmissão em um telão que também servirá para contar, ao vivo, as visualizações que o trabalho receber. Embora a forma do lançamento seja inédita para o artista, a canção que embala o videoclipe remete a sua juventude: trata-se de uma versão instrumental de Nunca Mais Voltar, do TNT.
Dirigido por Alex Sernambi, o clipe é ambientado no Bom Fim e rememora os anos de ouro do rock gaúcho, passando por locais que fazem parte da história de Maldonado, do TNT e de todos que viram de perto a efervescência musical daquela Porto Alegre dos anos 1980. Lembrar disso, para Maldonado, é reconhecer nos caminhos percorridos um mapa para os que ainda se pode desbravar.
— Vivi as décadas de 70, 80 e 90 de uma forma muito intensa. É bom olhar para trás e lembrar de tudo isso — reflete Maldonado. — Aos 18 anos, eu vivia dentro do Clube de Cultura com um bando de cabeludos. Minha mãe nem fazia ideia, mas isso moldou quem eu sou hoje: um cara que está quase chegando aos 60 anos e nada mil metros todos os dias, faz pilates duas vezes na semana e nunca para de fazer música (risos).