Morreu, nesta quinta-feira (2), o saxofonista e compositor Wayne Shorter, considerado um dos maiores compositores de jazz dos Estados Unidos e um dos mais ousados do gênero.
Seu agente Alisse Kingsley confirmou à AFP sua morte em um hospital de Los Angeles, mas não especificou as causas.
O enigmático compositor já tocou com músicos como Miles Davis e liderou bandas de prestígio como Weather Report.
Foi um dos últimos grandes nomes do jazz no auge do gênero, na década de 1950, quando o som tomou conta dos salões de dança e ganhou espaço nos círculos intelectuais.
Nascido em 25 de agosto de 1933 em Newark, Nova Jersey, Shorter começou a tocar clarinete na adolescência, mas logo depois o trocou pelo saxofone. Com seu irmão, tocava bebop, e se chamavam de "Mr Weird" e "Doc Strange" por suas extravagâncias, como usar óculos escuros em clubes mal iluminados.
Shorter estudou na Universidade de Nova York, onde se formou em educação musical em 1956, e passou dois anos no exército, onde tocou com o pianista de jazz Horace Silver. Em 1964, deixou os Art Blakey's Jazz Messengers - grupo com o qual obteve fama internacional e que chegou a dirigir - para se juntar ao trompetista Davis.
O Segundo Grande Quinteto de Davis incluía o tecladista Herbie Hancock, que se tornou um de seus melhores amigos e um colaborador regular. Davis frequentemente descrevia a ética do grupo como "tempo, sem mudanças", ou seja, permitir o jazz livre sem descartar completamente os limites.
Em 1970, Shorter cofundou o Weather Report e mergulhou no jazz fusion, misturando harmonias e improvisação de jazz com formas em desenvolvimento de rock, funk e R&B. Chegaram a experimentar também elementos eletrônicos.
Ao longo de 16 anos, a banda abraçou uma nova forma de tocar, abandonando o formato padrão de solistas para que todos os membros improvisassem simultaneamente.
Shorter já era famoso por mérito próprio, mas suas colaborações com artistas como Joni Mitchell, Steely Dan e Carlos Santana levaram seus talentos para um público mais amplo.
Amante de quadrinhos e budista praticante, o músico lançou em 2018 Emanon, um disco triplo dentro de uma história em quadrinhos de fantasia que detalha as aventuras de um filósofo rebelde que combate o mal com a verdade.
"Procuro expressar a eternidade na composição", declarou Shorter em sua biografia de 2007.
Condecorado com um grande número de prêmios ao longo de sua carreira, ele continuou se apresentando em seus últimos anos, embora problemas crônicos de saúde tenham reduzido seu ritmo.
Homenagem de Milton Nascimento
O cantor Milton Nascimento foi às redes sociais fazer uma despedida emocionada a Wayne Shorter. Os dois eram amigos há décadas e, inclusive, o artista brasileiro o chamou de "meu eterno amor" em seu texto.
"Hoje é um dos dias mais difíceis da minha vida. Dia de me despedir de parte de tudo o que eu sou. Wayne Shorter foi - e sempre será - mais do que um parceiro musical. Desde que nos conhecemos, nunca nos separamos. Em 1975, ele me convidou para gravar o Native Dancer, e mudou a minha vida e carreira pra sempre. No ano passado, quando me apresentei em Los Angeles, ele não conseguiu ir me assistir, pois havia sofrido um acidente doméstico na noite anterior, mas dei um jeito de ir até a sua casa, e tivemos uma tarde linda, digna dos nossos tantos anos de irmandade e história. Meus sentimentos à sua esposa, Carolina, que tanto batalhou pela saúde do meu eterno irmão nos últimos anos. Ao meu amado amigo, o meu maior e eterno amor", publicou.
Confira a publicação, ilustrada com fotos dos dois: