Daqui pra frente, tudo se renova para o NX Zero. Após um hiato de quase seis anos, a banda inicia a turnê Cedo ou Tarde em Porto Alegre, com apresentações nesta quinta (22) e sexta-feira (23), sempre às 20h, no Auditório Araújo Vianna (veja detalhes sobre ingressos ao final do texto).
O grupo paulista iniciou a retomada com duas apresentações no Festival Mita — no dia 28 de maio, no Rio de Janeiro, e em 4 de junho, em São Paulo —, além de um pocket-show no Big Brother Brasil, em março. Mas a primeira exibição valendo da nova turnê será na capital gaúcha.
Formada em 2001 e hoje composta por Di Ferrero (vocal), Gee Rocha (guitarra e vocal de apoio), Fi Ricardo (guitarra), Dani Weksler (bateria) e Caco Grandino (baixo), a banda apresentará todos os hits de sua trajetória de mais de duas décadas. Portanto, vai ser uma noite para os fãs fazerem coro a Cedo ou Tarde, Razões e Emoções, Daqui pra Frente, Apenas um Olhar, Além de Mim, Só Rezo, entre outros clássicos que embalaram juventudes nos anos 2000 — e viravam legendas de fotos no Orkut e Fotolog, assim como indiretas nos status do MSN.
Há um consenso entre os integrantes do NX de que esta é a turnê com melhor estrutura de palco que já tiveram, contando com bom aproveitamento do uso de LED. Para Fi, a série de apresentações começa em um lugar onde a banda tem muita história.
— Desde a nossa época independente, Porto Alegre era quase a nossa segunda casa — diz o guitarrista. — Tem uma cena forte também, até pelos amigos do Fresno, com quem andamos bastante juntos. Sempre foi um lugar que nos deu um ótimo suporte.
Antes da reunião, o último show do NX havia sido em dezembro de 2017, em São Paulo. Segundo a banda divulgou, o hiato foi decidido "sem desentendimentos", apenas porque seus integrantes queriam explorar projetos pessoais — dentro e fora da música. Di Ferrero ressalta que, nos últimos seis anos, os membros do grupo ainda preservavam a amizade e eventualmente se encontravam no Goela, bar que Fi mantém em São Paulo.
O quinteto imaginava que logo haveria uma reunião nos palcos, cedo ou tarde. O vocalista lembra que começou a sentir muita vontade de encontrar os colegas, seja para ensaiar ou só conversar.
— Isso começou a crescer dentro de nós, tanto que falamos sobre esse retorno faz um ano. Não foi do dia para a noite. Todo mundo tinha vários outros projetos — recorda Di. — A gente se programou muito, mas ninguém hesitou.
Segundo Fi, nesse tempo eles perceberam também o tamanho da banda:
— Criamos um negócio muito forte, que fez parte da vida de muita gente. Quando a gente percebeu o quanto isso representa para as pessoas, daí virou essa chave. Vamos voltar e pegar isso de volta.
Zerar e recomeçar
Assim que saiu o anúncio da turnê, em fevereiro, a comoção foi significativa nas redes sociais. Os comentários eram de fãs nostálgicos, boa parte brincando que nunca deixou de ser emo.
Isso se refletiu nas vendas: os ingressos para algumas datas se esgotaram rapidamente — em Porto Alegre, foi aberto um show extra. Em maio, foi divulgado que a apresentação final da turnê será no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 16 de dezembro, e as entradas se esgotaram em menos de duas horas. A banda marcou outra data para o dia 15.
A recepção do público à turnê foi mais intensa do que eles esperavam, como observa Di. Não só pela venda de ingressos, mas também pelas histórias dos fãs que passaram a ser compartilhadas.
— Tinha gente comentando que nunca pôde ir a um show nosso por ser de uma geração mais nova — diz o vocalista. — Nos impressionamos com as histórias de vida, de fã apontando música que fez diferença ou que ouvia com uma pessoa que não está mais aqui, mostrando tatuagem. Foi tanta coisa que a gente se deu por conta de que tudo isso era uma bênção.
No entanto, apesar do sucesso na divulgação dos shows e da repercussão positiva, ainda não há planos para um novo trabalho de estúdio. A ideia é viver o momento, sem se atropelar. Depois da turnê, NX Zero vai zerar e recomeçar.
— Vamos até dezembro. Entre esses shows podem acontecer várias coisas, o que a gente estiver sentindo no ensaio. Vamos deixar rolar. Se for rolar algo no ano que vem, será fora do Brasil — sentencia Di.
Mais perguntas para Di e Fi
Vocês chegam a Porto Alegre depois de dois shows no Mita, sem contar aquela pontual apresentação no BBB, tudo isso depois de um hiato de quase seis anos. Até o momento, como vocês estão se sentindo no palco nessa retomada?
Di:A gente sempre cria expectativas, é inevitável, mas as apresentações superaram todas. Isso no sentido do carinho da gente estar junto, de estarmos tocando bem, nos sentindo bem ali. Parece que demos uma pausa e já pulamos para esses shows.
Fi: A energia está demais! Já esgotaram vários shows assim que saíram as datas. Nos festivais, vimos a galera cantando tudo, foi muito especial. Em questão de dois ensaios, nós já estávamos colados, agora só melhora.
O que vocês preparam de diferente para os shows em Porto Alegre em comparação às apresentações em festival?
Di: Os setlists dos dois shows serão diferentes. Nunca levamos uma estrutura tão legal de show, tanto de palco quanto de vídeos. Estamos pirando nisso. Vai começar em um lugar em que temos muita história.
Hoje em dia, há uma boa valorização e aceitação daqueles grupos associados ao cenário emocore dos anos 2000. A impressão que se tem é que essa cena hoje é tratada com mais carinho e menos preconceito. Vocês percebem isso também?
Di: Muito. Isso é cíclico. Eu já ouvia das outras pessoas que era fã. Quando começou o grunge, por exemplo, era aquela coisa de sad boys ("garotos tristes") também. E a galera não gostava de ser chamada de grunge, mas depois virou uma coisa style e cool. Com o punk, a mesma coisa. E agora acontece com o emo. Tudo que é novo e diferente, que vem para chocar, sejam movimentos, estilos ou tendências, essas que chocam são as que vão durar. Se ela choca, acaba mexendo com alguma pessoa do lado bom ou ruim. Mas ela mexe. Problema é se não mexesse. É genuíno, é verdadeiro. Por isso que hoje é legal falar "eu fui emo", "eu sou", "nunca foi só uma fase". É muito legal também se sentir parte de algo.
Fi: Antes, tinha aquele lance pejorativo de acusar a pessoa de ser emo, e já associava com questões de gênero, que hoje estão sendo muito mais discutidas. Claro, ainda há muita coisa para ser conquistada na questão do respeito e tolerância, mas a galera está com a cabeça mais aberta quanto a isso. Mas na época não tinha isso, o lance da cena que o NX fez parte também foi desse lugar. Principalmente a molecada nessa questão de se descobrir ou se libertar, foi esse lugar que a galera encontrou, nesse movimento. Hoje, a galera tem mais consciência disso, por isso pode se sentir mais em paz em falar "fui emo e tá tudo bem". Não fica mais uma coisa tão travada ou negativa como era antes.
Esses dias, Lucas Silveira (Fresno) comentou que "Nunca nenhuma música 'emo' ocupou o topo do Hot 100 da Billboard/EUA. Já no Brasil, sim (NX Zero, muitas vezes)". Ele até brincou: "Maior nação emo sim ou claro?". O que vocês acham que fizeram de tão certo?
Fi: A gente soube falar muito "não". Sempre engolimos muitos sapos, mas sempre do nosso jeito. Desde quando éramos independentes, até quando começamos a ter estrutura, não mudamos nossa essência. Também teve épocas em que lançávamos um disco por ano. Até que compreendemos que precisávamos ter "calma", podíamos ficar um tempo, respirar, não precisa ser tudo agora. O principal é a conexão, a história que você conta. Por mais que, a partir de um ponto, exista um lance de mercado, de você ter uma abertura para tocar na rádio ou na TV, tem o lance do que o público coloca nisso também, e a verdade entre todo mundo da banda estar ali 100%. São várias coisinhas que tornam a carreira do grupo mais extensa do que só pensar em fazer um sucesso momentâneo ou pegar uma onda.
NX Zero — Cedo ou Tarde
- Nesta quinta (22) e sexta-feira (23), sempre às 20h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre
- Ingressos a partir de R$ 102 (solidário, mediante doação de 1kg de alimento). Ponto de venda com taxa: pelo site da Eventim. Ponto de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Praia de Belas Shopping (Av. Praia de Belas, 1.181)