Em uma celebração pelos seus 50 anos de carreira, em 2021, o jornalista Juarez Fonseca lançou o primeiro livro de uma série que relembra suas entrevistas com os maiores nomes da música brasileira - e Rita Lee não ficou de fora.
A cantora, que morreu aos 75 anos na noite de segunda-feira (8), teve seu bate-papo com o especialista publicado nas páginas de Zero Hora há 45 anos, em 4 de maio de 1978, e transposto para as páginas de Aquarela Brasileira (Diadorim, 304 páginas), com foco na década de 1970. Já estão previstos os volumes contemplando outros períodos.
Com o título bem ao estilo da rainha do rock: "Adoro o deboche, que é a linguagem do jovem", a entrevista, também presente na capa da Revista ZH, que era veiculada aos finais de semana, foi feita durante a passagem da turnê Babilônia pelo Estado.
Na ocasião, entre outros temas, Rita falou de carreira, de filhos (quando passou de filha para mãe) e das transformações pelas quais passou.
Alguns trechos publicados em 4 de maio de 1978
- Sobre como educar os filhos: "Não sei, fico me baseando na experiência de filha. Têm coisas que minha mãe e meu pai falavam que eu achava um absurdo, e só agora eu saquei que não é tão absurdo assim. Mas não vou impor nada. Se quiser ser médico ou pedreiro, tudo bem pra mim, quero que ele seja feliz, tanto como marginal como presidente da República"
- Sobre pregar alegria, enquanto as pessoas queriam que ela falasse sobre "o reino da tristeza": "Hoje mesmo aconteceu isso. Eu falei que Babilônia era um show que eu fazia principalmente para divertir as pessoas, eu banco a palhaça em tudo. Então me perguntara: "Por que você está pregando essa alegria, essa diversão, se você sabe muito bem que hoje a gente atravessa momento... Eu respondi: Olha, eu não posso ficar cantando canções de protestos, porque eu não sou deputada. Faço minhas músicas e nelas dou os meus toques, mas através da diversão"
- Planejamento (ou não) da vida: Ah, tem pessoas que fazem poupança, que de repente compra uma casa à prestação e tal. Toda a grana que eu ganho, eu jogo em som porque é o meu trabalho. As pessoas pensam que artista é rico, fazem uma ideia diferente, projetam seus sonhos".
- Como se via no Os Mutantes: "Eu me imaginava uma pessoa de outro planeta..."
- O planeta Bauretz?: "Hoje em dia eu já me imagino como deste planeta, querendo ir pra outro. Mas eu sempre pego o lado positivo das coisas, sempre vejo o lado engraçado, o lado de deboche, eu adoro o deboche, que é a linguagem do jovem, da adolescência..."