A cantora Rita Lee, que morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos, deixou um legado único para o cenário do rock brasileiro ao longo de quase seis décadas de carreira. Seu nome ficou conhecido pelo grande público em 1966, quando ela se tornou vocalista do grupo Os Mutantes.
Além da cantora, a banda era composta pelo baixista e vocalista Arnaldo Baptista, pelo guitarrista e vocalista Sérgio Dias, pelo baterista Dinho Leme e pelo baixista Liminha. Durante os 12 anos em que permaneceram juntos, os músicos lançaram nove discos. Entre os mais famosos estão A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970) e Jardim Elétrico (1971).
Devido a divergências criativas e ao relacionamento conturbado de Rita com Arnaldo Baptista, com quem foi casada durante quatro anos, a artista deixou o Os Mutantes em 1972. Durante entrevista à Bruna Lombardi, em 1992, a cantora revelou que foi expulsa da banda.
— Chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso e denso. Até que o Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica: "A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista" — relembrou.
Ainda durante a entrevista, a artista revelou que, apesar de ter ficado chateada, não disse nada, retirou-se da sala, fez a mala, pegou sua cachorra Danny e foi embora. "No meio da estradinha da Cantareira, a caminho de São Paulo, parei no acostamento e chorei, gritei, descabelei, xinguei feito louca", diz trecho do livro Rita Lee: Uma Autobiografia (2016), que também relata esse episódio.
Início solo
Em 1970, ainda durante o período em que atuava como uma das vocalistas do Os Mutantes, Rita conseguiu gravar seu primeiro álbum solo, intitulado Build Up. O trabalho teve repercussão positiva da crítica especializada.
Em maio de 1972, o grupo já havia lançado um álbum com músicas inéditas e pretendia gravar outro, mas o então produtor executivo André Midani, da gravadora Philips, não queria investir na banda. No entanto, desejava trabalhar com Rita devido ao que ele considerava como uma mistura de talento e carisma. Com isso, em outubro desse ano, foi lançado o disco Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida, que contava com o autorretrato da artista na capa e com a participação dos outros músicos da banda.
A expulsão ocorreu quase que simultaneamente com o fim do casamento de Rita com Arnaldo Baptista, que durou de 1968 a 1972. Nesse período, ela tentou fazer uma dupla com sua amiga Lúcia Turnbull, mas a parceira durou menos de um ano.
Em 1973, Rita resolveu integrar mais um grupo, Tutti Frutti, que era liderado pelo guitarrista Luis Sérgio Carlini. Com a chegada da cantora e por sugestão da gravadora, a banda mudou de nome para Rita Lee & Tutti Frutti.
Foi durante o período em que ficou nesse grupo que a cantora se consagrou como um importante nome no cenário do rock nacional, tendo lançado sucessos como Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow, Jardins da Babilônia e Ovelha Negra.
O lançamento do disco Babilônia (1978) marcou o fim da parceria de Rita com o grupo. Um ano depois, ela se lançou em carreia solo. Nesse período, contou com o apoio e ajuda do marido, o multi-instrumentista e compositor Roberto de Carvalho, 70 anos. Ele foi parceiro da cantora até o fim de sua vida.