Ela não brinca, ela pirraça. Pouco após subir ao palco, na 26ª edição do Planeta Atlântida, Gloria Groove sentenciou: "Extra! Extra!/ Logo logo o show começa/ Melhor do que a subida, só mesmo assistir à queda". O público foi ao êxtase — o que aconteceria bastante ao longo de uma hora.
Foi com a irônica e imponente A Queda que a cantora drag queen abriu a segunda apresentação do Palco Planeta, nesta sexta-feira (3). Gloria promoveu um show animado e apoteótico, que colocou o público para dançar sob uma chuva que insistia em ir e vir.
Acompanhada de 10 dançarinos e dançarinas, ela iniciou a apresentação vestida como se fosse uma apresentadora de circo, com direto à cartola e bastão. Com esse time, Gloria entregou coreografias bem entrosadas, dignas de uma diva pop.
Falando nisso, o show teve trocas de figurinos, luzes, projeções em vídeo, fumaça, domínio de palco e, o essencial, uma cantora com interpretação e performances contundentes. Coisas de diva.
No repertório, Glória trouxe sua versatilidade sonora, que permeia funk, rap, r&b, pop, rock e romantismo, sem medo de soar brega. Enfim, flexibilidade de estilos com coesão.
A cantora pôs os planetários para dançar até o chão com Coisa Boa e a entoarem a resiliência de Sobrevivi ("Se ainda quiser fugir comigo/ Eu não desisti/ Se você estiver ouvindo isso/ Eu sobrevivi"). Lançou covers do rock nacional - Máscara, da Pitty, e Exagerado, de Cazuza — e fez os casais se beijarem com Apaga a Luz e Samba in Paris, parceria com Baco Exu do Blues. Antes do pop romântico e delicado de A Tua Voz (destaque para o alcance vocal de Glória nessa), ela agradeceu:
— Muito obrigado, Planeta Atlântida! Sempre considerei um dos passos mais importantes da minha carreira me apresentar neste festival, e agora está realmente acontecendo.
Com Bonekinha, do disco Lady Leste, foi a catarse. Aliás, a maior parte do repertório saiu do bem-sucedido segundo álbum da cantora, lançado em fevereiro de 2022. Do mesmo disco, o funk SFM também agitou a apresentação. E o baile seguiu funk, com Proibidona, single mais recente de Glória, que conta com as parcerias de Anitta e Valesca Popozuda.
Ainda, Fogo no Barraco e Bumbum de Ouro mantiveram o ambiente rebolativo. Já com Ameianoite, o clima passou a ser de boate. Parceria com Pablo Vittar, a música traz um dos versos mais espirituosos de 2022: "Abracadabra, tu toma sentada".
Radar promoveu um clima de pop alto astral. Entrando na reta final do show, Glória ressaltou mais uma vez que o show no Planeta era um passo importante em sua carreira. Em seguida, cantou um trecho de Malandragem, de Cássia Eller, que serviu de introdução para o superhit Vermelho. Aqui foi o clímax do show. O público pulava e cantava o refrão "Quem é essa menina de vermelho/ Eu vim pro baile só pra ver/ Ela rebolando até o chão".
Possivelmente estará no top 5 momentos do Planeta Atlântida 2023. O fim, com chuva de papel picado, foi o encerramento perfeito para um show completo de diva. A bonequinha, de fato, sabe brincar.