Representando a música sertaneja, a sofrência e, quem sabe, os bares de Goiás, Matheus e Kauan promoveram um baile sertanejo nesta sexta-feira (3) com sua apresentação no Palco Planeta, na 26ª edição do Planeta Atlântida.
Sim, baile, pois a dupla fez os planetários dançarem agarrados e, alguns sortudos, se beijarem. Também foi uma apresentação para cantar junto e se emocionar. Teve pirotecnia, fogos e fumaça. Foi um show no qual a felicidade esteve nítida na cara do público. Talvez nem tanto para quem tenha sido atingido pelas músicas e mandado mensagem para o ex, mas faz parte.
Quem causou tudo isso foram dois irmãos de Itapuranga (GO), que se chamam Matheus Aleixo Pinto (Matheus), 28 anos, e Osvaldo Pinto Rosa Filho (Kauan, obviamente), 34 anos. Estão em atividade desde 2010, mas foram projetados mesmo a partir de 2015, com Que Sorte a Nossa.
Matheus e Kauan abriram o show com Te Assumi Pro Brasil, com o público cantando junto e balançando os braços. Na letra, um rapaz está terrivelmente emocionado com a peguete (“Mudei meu status/ Já tô namorando/ Antes de você aceitar/ Já te assumi pro Brasil”). Talvez um pouco precipitado?
Essa empolgação se explica nos versos: "O que na vida ninguém fez/ Você fez em menos de um mês”). O que será que ele fez? Um contraponto ao pocketing (termo do momento em inglês para nomear a situação em que uma pessoa esconde o relacionamento dos outros. Ou seja, nem mesmo uma fotinho nos Stories).
— Minhas pernas estavam tremendo no camarim. Estamos realizando um sonho em se apresentar aqui — disse Matheus durante a primeira música.
Depois de A Rosa e o Beija-Flor, foi a vez da divertida Quarta Cadeira (“'Tá viciando outra boca, como fez com a minha/ Esse frio na barriga já me pertenceu/ Ele só 'tá te amando desse jeito/ Porque ainda não te conheceu direito/ Mas o fim dessa história é sempre o mesmo”). Ou seja, o cara aqui ainda não superou o término. O refrão é impagável: “Tô numa mesa com quatro cadeiras/ Aqui já tem três enganados por ela/ Bebendo, esperando a rasteira que você vai levar dela/ Fica tranquilo, que a quarta cadeira te espera". No caso, a solução é, casualmente, beber com os outros exs.
Com o Nosso Santo Bateu, há uma excelente quebra de expectativa no refrão: “O nosso santo bateu/ O amor da sua vida sou eu/ E tudo que é meu hoje é seu/ E o fim nem precisa rimar”.
No repertório não poderia faltar a surpreendente Basiquinho (“Se for fazer amor com ela, faz o basiquin'/ Porque se der tapa, ela lembra de mim/ Puxão de cabelo, ela lembra de mim”). Uma rapaz que não superou o término, que aconselha um futuro ficante a não fazer certas coisas com a amada. Muita autoestima do homem hétero, talvez? Certamente falta de terapia.
Pactos também aborda a mesma questão (“Eu nem dormi pensando em tudo que aconteceu, iê iê/ Guardei em mim cada detalhe que a gente viveu, iê iê/ (...) Plantou amor no peito e não voltou pra regar/ Promessas não são contratos/ Beijos nem sempre são pactos, iê iê/ Eu deveria saber/ Que sentimentos vazios/ Não preenchem os espaços/ 'Cê nem aí e eu amando você”). Um iludindo vivendo a fase da tristeza.
Parceria com Anitta, Ao Vivo e A Cores tem uma pegada mais pop, quem sabe r&b. Os planetários cantaram: “A tela fria desse celular/ Só ver sua foto não vai me esquentar/ Amar você de longe é tão ruim/ Te quero ao vivo e a cores aqui, aqui”.
É Problema fala de afogar as mágoas no boteco, mas sem os exs, desta vez (“Tô sentado no boteco/ No boteco tem cadeira/ A cadeira tem a mesa/ Que apanha a minha cerveja/ E a cerveja tem o copo/ E o copo, a minha mão/ E na minha mão não tem mais aliança, não/ Que acabou, eu só fiquei com os cacos dessa relação”). Matheus e Kauan talvez tenham feito a alegria dos comerciantes e garçons de Goiás. Aliás, "É problema puxando problema” gruda na cabeça.
Já Gatilho traz outro sujeito que não superou a ex (“Beijei três bocas diferentes/ Indecentes/ Só a minha carente/ Sentindo o que esse povo aqui não sente/ Definitivamente eu não combino com esse ambiente”). Mesmo beijando outras bocas, o coitado se sente deslocado.
Antes de apresentar Que Sorte a Nossa, Matheus contou que costumava assistir ao festival pela televisão e pela internet. Era seu sonho tocar no Planeta.
— Eu dizia: "Um dia vou tocar nesse palco". Feliz demais por estar aqui.
A dupla seguiu com Nessas Horas, que aborda a saudade e o romance a distância. Com Vou Ter Que Superar, rolou homenagem à Marília Mendonça, além de uma participação da cantora por gravação.
Em Expectativa x Realidade, a dupla canta o verdadeiro (500) Dias Com Ela do sertanejo, remetendo a uma sequência do filme de 2009. Eles relatam: “Tô disfarçando a minha carência em mentira/ Sorriso falso, vídeo fake, foto antiga/ Tô inventando outra vida/ Pra não ter que viver a minha/ Expectativa: Beijar você/ Realidade: Chorar e beber”.
Além do sertanejo, houve espaço para um bloco carnavalesco, que contou com trechos de Praieiro e Não Quero Dinheiro. Em seguida, uma reprise de Te Assumi Pro Brasil, com direito a Jam Session.
Matheus e Kauan têm músicas festivas, para os apaixonados, para os casais, para tudo, como já disseram em entrevista ao Diário Gaúcho. São letras alcançáveis e identificáveis, como costuma ser o sertanejo no geral. Um dos motivos que faz o gênero se conectar mais fácil com o povo.
Pela reações observadas, dá para entender porque Matheus e Kauan foram tão abraçados no Planeta.