Assim como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, o músico Paulinho da Viola completa 80 anos em 2022. Mais precisamente no próximo sábado (12). Em entrevista ao jornal O Globo, publicada neste domingo (6), o artista contou não se preocupar com a data.
— Não penso muito nisso, não. A gente sobrevive a tanta coisa, tem as sequelas... A vida é isso. Se eu fosse falar alguma coisa, seria para agradecer por tantas coisas legais que aconteceram, pelas oportunidades que eu tive — afirmou.
A comemoração do aniversário será na sexta-feira (11) em um show especial realizado no Rio de Janeiro. O roteiro da apresentação não será cronológico, uma vez que o artista diz não ver sentido em organizar o tempo dessa forma. Mas garante que músicas do início da carreira poderão vir à tona.
É improvável, no entanto, que o público testemunhe músicas inéditas — embora elas existam. A cobrança dos fãs para que isso aconteça tem fundamento: a última vez que Paulinho apresentou um trabalho em que predominaram novidades foi em 1996, com o disco Bebadosamba. Mas, como tudo na vida, ele parece não ter pressa.
— Vou fazer. Uma hora dessas sai. Agora estão lançando as músicas aos poucos. Se é assim, tem que ser assim.
Pai de sete filhos, de três casamentos, e avô de sete netos, o artista contou ainda que seus livros e discos ficarão de legado para a família.
— Gosto muito de ler. Tenho muitos livros e quase 6 mil discos. Nem tudo eu vou ouvir e ler. Mas penso: tenho filhos e netos. Eles vão cuidar disso. Mas aí chegam o computador e o celular. Essa é a vida da maioria hoje. Sou de outra época. Não vou ficar aí dentro, não — brincou, apontando para o aparelho.
Ele também dispensa a ajuda do celular para registras as ideias de composições.
— Às vezes acordo às seis da manhã com uma melodia na cabeça. Isso me dá uma angústia, porque quero tentar guardar a ideia. Mas sei que, se eu for pegar e ligar isso (o celular), aí já era. Aí é que eu vou perder mesmo. Deixa eu ficar com raiva.
Por fim, na entrevista, Paulinho relembrou uma cena do documentário Meu Tempo É Hoje, de 2003. Em uma das cenas do filme, o artista diz "não sentir saudade", como se tudo o que tivesse vivido permanecesse dentro dele no presente. Mesmo que ainda pense dessa maneira, diz ter ficado mais cuidadoso com as palavras:
— Naquela época, uma senhora me parou na Rua México (e disse): "Como você fala isso? Acabei de perder uma pessoa que era tudo na minha vida". Eu a abracei e comecei a chorar. E ela também. Me emociono até hoje com esse fato. Nunca mais falo o que falei — recordou, com lágrimas nos olhos.