Tão tradicional no final do ano dos gaúchos quanto vestir roupas brancas, pular as sete ondinhas, comer lentilha e sementes de romã — sete, de preferência —, a campanha do Grupo RBS alusiva ao período já está no ar. Desta vez, o clássico jingle Vida é interpretado pelo grupo Casa Ramil, formado por sete membros da família que desde a década de 1970 marca o cancioneiro do Rio Grande do Sul.
Dividindo os vocais estão os irmãos Kleiton, Kledir e Vitor Ramil, representando a "velha guarda" do clã musical, e Ian (filho de Vitor), João (filho de Kledir), Gutcha e Thiago (filhos de Katia, que não seguiu carreira na música) com o status de "nova geração" dos Ramil. Cada um dos músicos interpreta uma estrofe da canção e, a partir do refrão, todos eles se unem em coro.
O arranjo vocal que definiu o encaixe das vozes foi feito por Kleiton, que é aficionado pela função desde os tempos de Almôndegas — a banda que integrou na década de 1970 ao lado de Kledir, antes de virarem dupla. Já a criação do arranjo instrumental foi coordenado por Vitor, Ian e Thiago, "a turma do Sul".
A alcunha vem porque a Casa Ramil tem sede em diversos cantos do país. Kleiton, Kledir e João vivem no Rio de Janeiro. Ian e Thiago, em Porto Alegre. Vitor, na cidade natal Pelotas. E Gutcha, que é antropóloga de formação, vive atualmente em uma aldeia indígena no Amapá, na região amazônica, onde trabalha junto à população local. Ou seja, não foi fácil botar os sete Ramil a cantarem juntos.
— Foi uma engenharia (risos) — resume Vitor. — Hoje em dia, a gente tem uma facilidade da tecnologia, mas a logística era sim uma questão. De todas as nossas posições, a mais delicada era a da Gutcha, que está trabalhando com indígenas na Amazônia e tem uma dificuldade de sinal. Foi um pouco complicado, mas ao mesmo tempo muito bacana e muito prazeroso.
Ian também contou um pouco sobre como foi todo o processo de produção.
— Eu, o pai e o Thiago, por estarmos aqui, ficamos experimentando as ideias. O pai veio com uma ideia de harmonia de violão, eu trabalhei junto com ele nessa harmonia e a coisa foi fluindo naturalmente. O Thiago participou bastante da construção dessa base com o baixo. Finalizamos a base, o Kleiton fez o arranjo vocal, cada um gravou sua parte individual e a gente uniu em estúdio — completa o filho de Vitor, que em paralelo também trabalha no lançamento de seu próximo disco.
O resultado da engenharia trouxe aos versos "Vida! / É um grito de gol / É um banho de mar / É inverno e verão..." um jeito Casa Ramil de ser. Os músicos não aparecem nas imagens do vídeo que ilustra a campanha, apenas interpretam a canção. Mas quem assistir, saberá que eles estão por trás do vídeo. Era esse o objetivo, conforme Vitor Ramil:
— Logo de cara, todos nós concordamos que não queríamos só cantar. Tínhamos de encontrar um caminho, um arranjo, algo que fizesse com que a música ficasse bem ao nosso modo, que fosse o nosso som, que tivesse cara de Casa Ramil. E é interessante que, apesar de todos nós termos as nossas carreiras individuais, este é um grupo muito novo. Surgiu antes da pandemia, mas foi interrompido por ela. É como se agora estivéssemos recomeçando, e justamente com esse signo representativo que é a campanha de final de ano da RBS.
Kleiton e Kledir celebram algo além da reunião do grupo: a possibilidade de também "matar a saudade de casa". Os dois vivem há quatro décadas longe do Rio Grande do Sul, mas, dizem, estão sempre conectados ao Estado.
Cantar uma canção que já é marca registrada no final de ano dos gaúchos, para eles, é uma afirmação de como esta relação continua próxima, ainda que fisicamente distante.
— Eu e o Kledir moramos há mais de 40 anos no Rio de Janeiro, mas a ligação com o Sul é muito forte e fundamental para a nossa vida e a nossa obra. A gente sempre fica muito feliz com essas aproximações, em sermos lembrados pelos gaúchos. Por isso recebemos esse convite com muita alegria, pois é mais uma oportunidade de nos aproximarmos do nosso Estado. É algo muito significativo para mim, para o Kledir e para todos da Casa Ramil — diz Kleiton.
Kledir falou sobre a relação entre o final de ano a aproximação com a família.
— Quanto mais longe eu fico, mais gaúcho eu me sinto (risos) — brinca. — Onde quer que a gente vá, somos identificados como os gaúchos. As nossas músicas são muito ligadas à base cultural do Rio Grande do Sul, e acho que esse encontro com a RBS, para cantar uma canção que é tão emblemática para os gaúchos, é mais um sinal disso. Ainda mais especial por ser junto ao nosso coletivo familiar. Há uma simbologia em ter nessa campanha uma família junta, reunida, cantando, pois o final do ano é o período em que as famílias se encontram para celebrar.
Para Thiago Ramil, o encontro da família também foi um dos pontos altos do projeto. Com cada um vivendo em um canto do país, não é sempre que a reunião de todos é possível — mesmo que mediada por telas. O trabalho criou um pretexto para que o clã Ramil voltasse a se encontrar e para fazer aquilo que mais gosta.
— Foi muito bacana a oportunidade de nos reunirmos, ainda mais por ser uma reunião em torno de um processo criativo. É algo que sempre atravessou a nossa família, é uma potência muito grande que a gente tem para além das relações familiares. Reunir já é um prazer, mas fazer isso como um encontro artístico é um prazer a mais — diz.