Ela começou indo só no sapatinho, devagar, devagarinho, mas quando resolveu pisar de vez no terreiro do samba, fincou o pé. Embora não de berço, Maria Rita é uma sambista — e ela já não tem mais nenhum receio em assumir esse título para si. Nem teria motivo, afinal, a cantora passou mais de 10 dos seus 20 anos de carreira dedicada ao gênero musical. Com o samba, Maria Rita foi a pé a Salvador, de joelho ao Redentor, para citar seu sucesso Tá Perdoado, e agora traz mais uma vez a Porto Alegre a turnê Samba da Maria, responsável por grifar em definitivo o seu nome junto ao do samba.
A sambista sobe ao palco do Auditório Araújo Vianna na noite desta sexta-feira (30), a partir das 21h. Em 2021 (9 de outubro, há quase um ano redondo), ela já havia trazido sua roda para a casa de espetáculos. Foi dela, aliás, o primeiro show a valer apresentado no Araújo Vianna após o hiato imposto pela pandemia — antes disso, somente eventos-teste haviam sido realizados ali.
O cenário daquele outubro de 2021 era bem diferente do que Maria Rita vai encontrar agora ao desembarcar na capital gaúcha. Os protocolos eram muitos, o público era reduzido, a incerteza ainda tomava conta e muitos de seus fãs sentiam-se inseguros em comparecer ao Araújo Vianna para reencontrá-la — algo que a própria relatou durante o show, dizendo ter recebido diversas mensagens de admiradores porto-alegrenses que preocuparam-se em justificar a ausência. Na ocasião, Maria Rita revelou a resposta que deu a esses fãs, a fim de tranquilizá-los:
— Se está inseguro, não vem. Esse é o primeiro de muitos (shows).
Acertou o presságio. Depois disso, ainda esteve em Porto Alegre para celebrar os 250 anos da cidade, em show gratuito realizado na Redenção, em março. Mas é agora que ela volta com tudo à terra natal de sua mãe, Elis Regina, cria do IAPI. Canções eternizadas na voz da Pimentinha têm espaço no Samba da Maria, que, apesar de dispensar as comparações com a mãe, jamais deixou de reverenciá-la em seus shows.
Além da matriarca, a grande voz da MPB, Maria Rita também presta sua homenagem aos grandes intérpretes e compositores do samba, agora seu chão. Inclui no repertório aqueles e aquelas que lhe abriram os caminhos: Beth Carvalho, com Vou Festejar; Clara Nunes, com Juízo Final; Jorge Aragão, com Lucidez e Coisa de Pele; Arlindo Cruz, com O Meu Lugar; e Gonzaguinha, com É e O Homem Falou, entre outros e outras baluartes.
Acompanhada por Leandro Pereira no violão sete cordas, Fred Camacho no banjo e no cavaquinho, Feijão no pandeiro, e Jorge Quininho e Adilson Didão na percussão, Maria Rita ainda dá uma pausa nos tributos para interpretar os grandes sucessos da sua discografia. Músicas como Tá Perdoado, Cara Valente, Maltratar Não é Direito e Num Corpo Só, ajudam a embalar as cerca de duas horas de duração do show.
Nesses 120 minutos, também vai ter um tempo reservado pra curimba. Esta, aliás, é a grande novidade em relação ao Samba da Maria apresentado em 2021. Em meio a esse quase um ano que se passou, Maria Rita lançou o EP Desse Jeito, por meio do qual reverencia o sagrado e a musicalidade do candomblé, sua religião, e de outras vertentes da religiosidade de matriz africana.
Se não todas, pelo menos uma das seis músicas do EP estará no show. A favorita é a homônima Desse Jeito, na qual Maria Rita saúda o povo de terreiro: "Quem comeu sarapatel na ribeira/ E traçou o caruru do Erê/ Já deu doce pra Doum na esquina/ E pipoca pra Obaluaê/ Quem cuspiu a canjibrina no santo/ Veste branco em dia de Oxalá/ Tem a ginga do andar do malandro/ Não é qualquer um, que vibra na força de Ogum".
Com o acréscimo da nova discografia, o Samba da Maria ganha ainda mais cara de sambão raiz. Bem aos moldes do samba que comandou em sua recente passagem pelo Rock in Rio, onde apresentou um show que botou o público da Cidade do Rock para mexer os quadris como se não houvesse amanhã. É mais ou menos isso que deve acontecer também com o público de Porto Alegre. Claro, não há como ter certeza de que os fãs estarão dispostos a mostrar o samba no pé — isso, só mesmo na hora para saber. A certeza, por enquanto, é somente uma: o couro vai comer.
Samba da Maria
- Nesta sexta-feira (30), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos inteiros a partir de R$ 200, disponíveis na plataforma Sympla.
- Sócios do Clube do Assinante RBS têm 50% de desconto no valor do ingresso inteiro.