Aos 55 anos, o roqueiro gaúcho Eduardo Branca, compositor, multi-instrumentista e produtor musical e cultural, já tocou de tudo: do hard ao pop rock, da black music ao funk, passando ainda pelo reggae e vários outros gêneros. Agora, entretanto, assume uma nova identidade, a de BrancaEDM (electronic dance music). A mudança é acompanhada de uma guinada de rumo na carreira, passando ao universo da música eletrônica — e, ainda por cima, entrando em um mercado inusitado: a Coreia do Sul.
— Eu estou feliz, porque foram muitos anos de luta, fazendo vários estilos musicais. Foi fruto de tudo que eu já aprendi, do que eu já toquei — enfatiza o músico. — Estou feliz de não estar fazendo uma coisa mecânica apenas para faturar uma grana.
Natural de Porto Alegre, Branca iniciou a carreira aos 16 anos. É fundador das bandas Pupilas Dilatadas e M-16, de punk rock e da black soul music, das décadas de 1980 e 1990. E também é um dos músicos que relatou vivências no livro Gauleses Irredutíveis, causos e atitudes do Rock Gaúcho (Buqui Livros, 2001).
Ao longo da carreira, desenvolveu projetos que utilizam a música como ferramenta de ensino e preservação da cultura brasileira-afro-ameríndia e da herança de matriz africana de seus ancestrais — como MitoÁfrica, com apresentações na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal, no Auditório Araújo Vianna e no Uruguai. Lançou ainda o álbum de rock Patente Universal e o projeto Eletroblack, além de ajudar a produzir outras bandas.
A nova fase de eletrônica iniciou em 2018, com os projetos EB Groover e Eletro 80 Vampire Songs — mas foi apenas durante a pandemia que o compositor lançou as primeiras músicas como BrancaEDM. O artista executa o teclado ao vivo sobre bases previamente compostas e produzidas por ele, uma proposta que define como keyboard jockey (KJ, diferentemente dos DJs, que utilizam discos).
— Com isso, eu consigo atingir uma boa qualidade sonora, a ponto do mercado lá fora aceitar. Eles não sabem que eu sou brasileiro. Eles escutam e pensam "ah, música gringa". Só que eu não sou gringo. Sou de Porto Alegre — revela.
Como muitas pessoas, o músico buscou se reinventar durante a pandemia. Ele comprou um teclado arranjador para compor sozinho em casa, já que não podia tocar com outros artistas. Desse modo, quando tudo passasse, teria as músicas prontas. E o motivo pelo qual decidiu mudar de rumo e enveredar pela música eletrônica?
— Foi a que me bateu mais forte, pelo beat, pela profundidade musical — explica.
E foi com um vídeo de uma dessas criações, publicado nas redes sociais, que o morador de Porto Alegre começou a receber curtidas e comentários e foi encontrado pela gravadora nova-iorquina Bentley Records, que divulga artistas independentes. Branca assinou contrato e tornou-se um artista do selo, iniciando na categoria prata e passando a ter seu trabalho distribuído em outros países. O compositor esclarece que recebeu um relatório da gravadora avaliando seus trabalhos, o que lhe forneceu segurança para continuar.
A parceria deu tão certo que o contrato foi renovado e ele passou para a categoria ouro. Isso, somado ao seu estilo musical, que difere do de outros artistas da Bentley Records, rendeu a Branca um convite para ingressar no mercado sul-coreano de música eletrônica — um dos maiores desse gênero no mundo.
O primeiro single de BrancaEDM, Stay There, foi lançado em 2021 no país. A outra canção que está sendo distribuída é Copacabana Beach, divulgada neste ano e que, assim como a anterior, faz parte do álbum homônimo, um disco eletrônico baseado no afrofuturismo. Com esse trabalho, o produtor sente que está no caminho certo.
— As lojas gostaram, deram o sinal verde, e agora estou esperando o resultado. Meu primeiro pagamento foi muito rentável, foi bem legal, pelo Spotify, agora espero o segundo. Os números estão mostrando que a recepção está sendo boa, então acredito que muito em breve eu esteja tocando por lá — ressalta.
Após cair de paraquedas na música eletrônica, Branca passou a estudar o novo gênero musical no qual descobriu um talento, e fez um curso com o DJ Bhaskar, irmão de Alok.
— Na (música) eletrônica, é tudo novo para mim, sou um marinheiro de primeira viagem — conta.
Porém, vale ressaltar que o contrato com a gravadora dos Estados Unidos e o ingresso no mercado da Ásia não foram os primeiros passos do artista rumo a uma carreira internacional. Branca morou e se apresentou na Argentina e na Espanha durante vários anos.
Resistência em solo nacional
O principal desafio, porém, a seu ver, está no Brasil. O músico porto-alegrense chegou a procurar rádios e espaços no sul do país para tentar divulgar sua música, porém não obteve sucesso.
— A dificuldade mesmo está aqui no Brasil. O próprio Alok mesmo vem de fora para dentro, do exterior para cá — frisa.
Por enquanto, BrancaEDM fez apenas apresentações em festas particulares, um pré-lançamento em Porto Alegre e está desenvolvendo um projeto chamado Rooftops and Gardens Sessions, que ocorre em terraços, jardins e exposições, buscando o contato com a natureza e paisagens históricas que potencializem as vibrações de sua música. Um novo álbum também está nos planos ainda para 2022, bem como um lançamento oficial da nova fase da carreira em Porto Alegre.
Agora, com um contrato firmado com a gravadora como artista ouro, o músico relata que há interesse em seu trabalho no Brasil — mas seu foco principal está no mercado internacional. Há planos de expandir ainda mais os horizontes, com negociações em andamento para apresentações em Dubai. Além disso, BrancaEDM espera estar em Seul até o final do próximo verão deste hemisfério. E se tudo der certo, pretende ficar por lá:
— Com certeza, eu vou esperar começar essa sequência de shows para ver em qual lugar vou me adaptar melhor para ficar.