A cada ano que passa, Tim Bernardes parece se agigantar no cenário da música popular brasileira. Seja à frente da banda O Terno, seja compondo para Maria Bethânia (Prudência) ou seja acumulando parcerias com nomes do porte de Jards Macalé, Gal Costa e Tom Zé, além dos internacionais David Byrne e a banda Fleet Foxes. Outro passo largo foi dado em julho com o lançamento de seu segundo disco solo, Mil Coisas Invisíveis — foco do show que ele traz a Porto Alegre.
É embalado por esse álbum que ele volta à capital gaúcha: o compositor, cantor e multi-instrumentista se apresenta nesta quinta (1°) e sexta-feira (2), no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), às 21h (ainda há ingressos nas galerias, a R$ 60, à venda em teatrosaopedro.rs.gov.br). Aliás, Tim já é de casa. Já esteve no palco do teatro tanto com O Terno quanto em carreira solo. Segundo o músico, as lembranças do TSP são as melhores possíveis.
O músico recorda que foi no São Pedro que O Terno "destravou": foi na casa onde a banda realizou um de seus primeiros shows com ingressos esgotados, em 2017. Ele diz que aquilo foi fundamental para os integrantes romperem de vez a barreira da timidez e ganharem confiança. Naquela época, a banda viajava com a turnê de seu terceiro disco, Melhor do que Parece (2016).
— Tivemos a sensação de um público muito caloroso, em um teatro muito bonito. Foi um divisor de águas para percebermos que o show era um ambiente convidativo e que nos sentíamos acolhidos — relata. — É um dos teatros de que mais gosto. Não só a sala é muito bonita, mas o backstage também é muito interessante.
No show que traz desta vez, Tim se alterna entre violão, guitarra e piano. Além das novas faixas, entram no repertório músicas de seu primeiro disco solo, Recomeçar (2017), e canções do Terno.
Mil Coisas Invisíveis começou a ser gestado logo após a finalização de Atrás/Além (2019), último lançamento da banda. Após completar o quarto álbum do grupo, Tim seguiu compondo canções a respeito de coisas sobre as quais estava refletindo na época. Logo pensou em uma lógica de alternar entre disco do Terno e da carreira solo. Então, era o momento de partir para um trabalho sem a banda.
Se Atrás/Além aborda a passagem para a vida adulta, enquanto Recomeçar é uma sofrência indie — quase como se fosse uma música só —, desta vez Tim não trabalhou inicialmente com um conceito específico. Segundo o músico, Mil Coisas Invisíveis era para ser um disco mais eclético, mas que, no final, tem um fio condutor.
— Um espanto com a vida, com a existência — observa. — Há canções de amor e outras mais reflexivas, mas também conta com um elemento um pouco mais transcendental ou metafísico que achei curioso. Achei que combinava com esse momento.
Nascer, Viver, Morrer é a faixa que abre o disco, além de ter sido o primeiro single. Segundo Tim, é a canção que dá o tom que ele queria para o álbum: a transcendência cotidiana.
— De alguma forma, Nascer, Viver, Morrer tem um clima que contrasta com Recomeçar, como se fosse uma nova aurora, um encanto. Essa alegria de um renascer interno. Um tom um pouco mais leve e místico — explica.
O álbum traz uma característica marcante de Tim como letrista: linguagem direta e mansa, com versos que poderiam ter saído de uma conversa no bar ou na padaria. Mesmo quando fala de algum assunto mais denso ou metafísico, ele procura esse equilíbrio.
— As canções em que cabe ser mais poético fluem poeticamente sem medo. Um exemplo é Esse Ar, que tem uma linguagem que mexe um pouco mais com o formato das palavras — frisa. — Gosto da ideia de tentar falar de coisas profundas, mas numa linguagem direta para o coração, algo meio Erasmo/Roberto.
Entre as 15 faixas do disco, há espaço para autorreferência e ironia — remetendo até a um humor visto desde as primeiras composições de O Terno — com A Balada de Tim Bernardes, como se fosse a sua versão de Bob Dylan's Dream ou The Ballad of John and Yoko. Aqui o compositor apresenta um fluxo de consciência que joga entre a autoanálise e o cotidiano banal ("Que eu peguei caxumba uma segunda vez").
— Quis brincar um pouco com essa coisa da cultura pop. Algo para não se levar a sério. Quis ter uma quebrada para destoar de qualquer "blaseísmo" — arremata.
Aos 31 anos, Tim deve seguir viajando com o show de sua carreira solo pelo restante de 2022. Ele irá acompanhar o Fleet Foxes na Europa ao longo do mês de setembro — entre junho e julho, excursionou com a banda indie pelos Estados Unidos e pelo Canadá.
Ao mesmo tempo, está juntando canções para entender o que elas são, se formarão um novo disco de O Terno. Mas, antes disso, ainda pretende fazer mais alguns shows do disco Atrás/Além.
— Seria bom também para a gente ficar junto e ver as músicas que nós temos, entender o que podem virar e para o que apontam, um disco ou EP — assinala.
Tim Bernardes em "Mil Coisas Invisíveis"
- Nesta quinta (1º) e sexta-feira (2), às 21h.
- Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
- Ainda há ingressos nas galerias, a R$ 60, à venda em teatrosaopedro.rs.gov.br.