O Auditório Araújo Vianna vai virar Pagode da Tia Gessy na noite deste sábado (18), a partir das 21h. Mas não haverá troca de nome e tampouco será inaugurada alguma filial carioca do auditório gaúcho no quintal da casa de Gessy Soares Machado, a Tia Gessy, moradora da zona norte do Rio de Janeiro. A mudança será puramente simbólica, orquestrada pelo sambista Xande de Pilares, que apresenta na casa de espetáculos porto-alegrense o show de seu mais novo álbum, cujo nome é justamente Pagode da Tia Gessy.
Lançado nas plataformas digitais em abril deste ano, o disco é uma homenagem do ex-Revelação à proprietária do pequeno local onde ele tocou as primeiras notas no cavaquinho que, anos depois, viria a se tornar seu fiel escudeiro nos palcos de todo o país.
— Quando estava começando a achar que levava jeito para a música, eu precisava ter um espaço para tocar e, de tanto bater na porta, ela resolveu me dar uma oportunidade. Foi ali que eu aprendi tudo. Resolvi homenageá-la em vida com esse disco porque essa coisa de homenagear depois que a pessoa vai embora... Sei lá, eu não gosto muito — explica o músico.
O disco é, assim, também uma revisita do sambista às origens, aos tempos em que tocava partido alto em boteco do lado do povo e, sobretudo, às músicas que embalavam sua vida quando ele era ainda apenas o Alexandre, cria do Morro da Chacrinha que sonhava em um dia viver de fazer samba. Aquela mesma época que ele canta em Perseverança: "Subi o morro, muitas vezes, me perdi pelas vielas / Meu cavaco e meu samba eram as armas que eu tinha nas mãos".
Por isso que, diferentemente da já clássica Perseverança, as músicas presentes no disco são aquilo que o cantor define como "o Lado B do Lado B". Não estão nele canções do Revelação como Velocidade da Luz e Deixa Acontecer, nem os sucessos de sua carreira solo. Há, por outro lado, canetadas próprias e também regravações que traçam quase que um roteiro da trajetória percorrida por Xande até alcançar o topo do mainstream, desde as madrugadas que passava comandando samba de mesa no Pagode da Tia Gessy.
— Nesse álbum, tem coisas desse tempo aí. Coisas que, quando eu nem fazia parte de grupo nenhum, eu já gostava de cantar. Músicas que nunca tocaram no rádio, mas que as pessoas conhecem da noite. E, para mim, a noite é o mais importante de tudo — reflete.
Entre as canções, estão quatro composições novas: Mundo Particular, Samba Bombom, Tá Correndo Errado e Sonhei. Esta última, incorporada posteriormente ao repertório do álbum como faixa-bônus, é a que promete mais emocionar o público do Araújo Vianna. Porque tem tudo a ver com o momento que o mundo vive agora, e a esperança de que tempos melhores virão. "Sonhei que só de alegria rolava o pranto / Que a paz ecoava pelos quatro cantos / Sonhei, eu sonhei / Que o amor reinava a humanidade / Que se dava valor ao valor da amizade / Sonhei, eu sonhei", diz um trecho da canção, assinada por Xande em parceria com Helinho do Salgueiro.
A música, aliás, soma-se a outras composições dele que se destacam por suas mensagens positivas. É o caso de Tá Escrito ("Ergue essa cabeça / Mete o pé e vai na fé / Manda essa tristeza embora"), que já se tornou indispensável em qualquer apresentação do sambista, seja no Araújo Vianna ou no Pagode da Tia Gessy. Deve estar no repertório do show em Porto Alegre. Mas para Xande, mais indispensável do que cantar Tá Escrito é fazer de sua música um instrumento de transformação na vida das pessoas.
— Isso na minha vida é lei. Eu não posso lançar nenhum tipo de trabalho sem músicas com essas características positivas, porque a música me ajudou muito em um momento difícil da minha vida. Eu venho de um lugar onde é difícil de acreditar que você vai realizar os seus sonhos, mas a música me ajudou muito nisso. Gonzaguinha, Milton Nascimento, Fundo de Quintal... Essas são as minhas referências. Se a música deles foi o que me projetou para a frente, eu tento dar continuidade a isso com o meu trabalho — diz.
Esta preocupação do músico com seu público vai além das composições. Remonta, por exemplo, à última vinda dele a Porto Alegre, na segunda-feira de 2 dezembro de 2019, na Banda Saldanha. Na ocasião, uma verdadeira multidão ainda aguardava na calçada da Avenida Padre Cacique no momento em que o show deveria iniciar no palco da Saldanha. Xande, então, atrasou a apresentação em mais de uma hora e só subiu ao palco da Vermelho e Verde quando todos os fãs haviam conseguido entrar. A apresentação seguiu madrugada adentro, e ninguém reclamou (mesmo sendo segunda-feira).
É esse mesmo clima acolhedor que o artista espera encontrar neste retorno a Porto Alegre, depois de dois anos sem pisar na cidade. E isso que ele tem uma relação de longa data com a capital gaúcha. Seja pela amizade com os gaúchos do Louca Sedução, que neste sábado fazem a abertura de seu show e com quem já dividiu churrascos e peladas de futebol, ou pelo que confidenciou às gargalhadas durante a entrevista com a reportagem de GZH: várias vezes "quase veio a Porto Alegre para ficar", por conta de affairs vividos aqui.
Brincadeiras à parte, Xande considera o Rio Grande do Sul a terra de um dos mais fiéis públicos de sua música. E neste sábado vem para mostrar, além da música, também um pouco do gingado aprimorado por ele na recente participação no quadro Dança dos Famosos, do Domingão. Mas não garantiu que vá mandar tão bem na dança quanto manda bem na música. Questionado se deve "fazer um pezinho" no palco do Araújo Vianna, apenas adiantou, aos risos:
— Vou surpreender muita gente.
Xande de Pilares
- Neste sábado (18), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 160 (inteiro) ou R$ 85 (solidário, mediante a doação de 1kg de alimento não perecível), à venda no Sympla.
- Desconto de 50% sobre o valor inteiro para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante.