O talento é de gente grande, mas nos festivais de música, Enzo Castro tem o olhar e os desejos de crianças na faixa dos seus oito anos de idade. O único problema é o risco de embarrar as vestimentas em cima da hora do espetáculo.
— A gente chega no festival, ele olha para as crianças no campo de ginete e pergunta: "Quanto tempo falta pra começar o festival, pai? Uma hora? Então vou brincar". E volta pro show — conta Gonzalo Castro, 36 anos.
Nascido em Rivera, município uruguaio fronteiriço com o Brasil, o menino é o atual campeão do concurso Got Talent, espécie de The Voice disputado no país vizinho. Transmitida em rede nacional de TV, a final da competição ocorreu em 20 de setembro de 2021, um presente de aniversário para o garoto: ele havia completado oito anos no dia anterior.
— Quando falaram meu nome eu pensei se era real ou um sonho. Era tarde, eu já tava com um pouquinho de sono — admite, com a franqueza infantil.
O premiado artista se apresentará, pela primeira vez, na região metropolitana de Porto Alegre nesta quinta-feira (2). O show será às 20h30min no CTG Independência Gaúcha, em Esteio (Rua Avelino Antônio Zonta, 649, bairro Novo Esteio). Ao seu lado, Tchê Barbaridade, César Oliveira e Rogério Melo, Som do Sul e João Cabral.
Os ingressos antecipados já estão esgotados. Restam apenas algumas entradas na bilheteria, no horário do espetáculo, ao custo de R$ 35. A programação completa pode ser conferida no Instagram @independenciagaucha.
Uruguai de ponta a ponta
Ao vivo na Rádio Gaúcha, o acordeonista deu uma palhinha da apresentação na manhã desta quinta - e ficou nítido o que o pai havia alertado: antes e depois da entrevista, o filho brincava com a gaita de 60 baixos, assistia a desenhos no celular e contava histórias da escola.
A liberdade para se divertir é incentivada pelos pais.
— Se a gente criar ele como um artista adulto, isolado, que só sai na hora do show, é péssimo pra ele. O Enzo é uma criança, faz amizade nas viagens e depois mantém contato com a garotada pelo celular — garante Gonzalo.
A comerciante Belkis Mello, 34 anos, conta que a chegada do filho às cidades - grandes ou pequenas - é sempre saudada pelos moradores, com filas para tirar foto. O retorno a Rivera, após o anúncio de campeão do Got Talent, teve carreata e festa nas ruas. A partir dali, a rotina da família mudou completamente.
— Ele já percorreu todo o país. Tudo bem que o Uruguai não é muito grande, mas pra idade dele (é bastante coisa), né — pondera a mãe.
Via de regra, os shows ocupam sexta, sábado e domingo. Durante a semana, a prioridade é a escola - atualmente na terceira série do ensino fundamental.
— Quero ser gaiteiro, piloto e ginete — complementa, sobre outras paixões além da música.
Dentre os ritmos no palco, música gaúcha nas vaneras e milongas, mas muito embalo latino, na polca uruguaia, cumbia colombiana e o tango argentino.
Outra influência vem de casa: o pai arrisca algumas canções, e foi a partir daí a escolha do instrumento. Já o talento, parece ser mesmo um dom.
— O pai não toca nada, só faz um barulho — brinca Belkis sobre o marido.