"Quantas vezes você já foi amado?" é a pergunta que o público porto-alegrense será desafiado a responder nas noites desta quarta (18) e quinta-feira (19). Quem indaga é Baco Exu do Blues, o baiano Diogo Moncorvo no RG, rapper que volta a Porto Alegre para apresentar nestas datas, no Bar Opinião, shows de seu terceiro álbum de estúdio.
Para instigar o público com a questão que também dá nome ao disco, Baco não oferece rimas graciosas sobre o amor romântico dos finais felizes — sentimento e desfecho que sempre lhe pareceram reservados apenas a quem é claro o suficiente. Traz, pelo contrário, versos duros, que por vezes atingem o ouvinte quase como um soco, para falar sobre as peculiaridades desse tal amor quando se trata de negros como ele — "Tudo o que eu ouvi sobre esse tal amor me assusta", canta na faixa Lágrimas.
— A diferença nas respostas das pessoas pretas e das pessoas brancas quando se pergunta quantas vezes foi amado é absurda — pontuou, em entrevista à revista Carta Capital, à época do lançamento do álbum. — Quando coloco as pessoas para refletirem sobre isso, vejo as feridas delas se abrindo.
Para Baco, essas feridas existem por um motivo: o amor foi "embranquecido" — assim como Jesus Cristo, ponto de vista que ele defende em Bluesman, seu aclamado segundo álbum, lançado em 2018. É por isso que, como desabafa ao longo das 12 faixas de Quantas Vezes Você Já Foi Amado?, tem sido doloroso perceber que o racismo influencia também em suas formas de dar e receber amor — "Eu sinto tanta raiva que amar parece errado", lamenta na canção Sinto Tanta Raiva.
Afinal, como aborda em Autoestima, é difícil entender que o amor também é para si, tendo vivido a vida inteira em um país de falsa democracia racial como o Brasil — onde, por exemplo, a chance de uma pessoa negra ser assassinada é 2,6 vezes superior a de uma pessoa branca, conforme o Atlas da Violência 2021. "Sempre tive o mesmo rosto / A moda é que mudou de gosto / E agora querem que eu entenda / Seu afeto repentino", ele canta.
A pertinência da provocação, que faz pensar a negros e brancos, e o trabalho impecável de produção do álbum garantiram o sucesso do mais novo trabalho de Baco Exu do Blues. Na semana do lançamento, o disco figurou entre os cinco mais ouvidos do Spotify no mundo. A aceitação é refletida também nesta passagem do rapper por Porto Alegre: como a apresentação marcada para a quarta-feira teve as entradas de pista esgotadas rapidamente, tão logo o show foi anunciado, uma data extra precisou ser aberta na quinta.
São muitos os porto-alegrenses ávidos para fazer ecoar pelo Opinião desde os versos ferozes de Inimigos ("Acham que me cercaram, mas não sinto perigo / Só cheiro de medo e de inimigos mortos) até o gostosinho Samba em Paris ("Drinks, lingeries, Gucci / Mainha ou mon chéri / Fiz um samba em Paris / Só pra te ver dançar"). E é possível que parte deste público também estivesse presente na Cucko, em 2017, quando Baco veio pela primeira vez à capital gaúcha para se apresentar de forma bem mais singela na festa Downtown 1037.
À época, embora todos os presentes soubessem de cor e salteado a letra de Te Amo Disgraça ("Bebendo vinho, quebrando as taça, f*dendo por toda a casa / Se eu divido o maço, eu te amo desgraça / Te amo desgraça"), hit do primeiro álbum dele, o emblemático Esú, o baiano ainda não havia alcançado a projeção nacional que tem agora. Desde aquele aparentemente tão distante 2017, Porto Alegre esteve atenta para ouvir o que Baco, o Exu do Blues, tem para dizer. Agora, é também a vez de responder: "Quantas Vezes Você Já Foi Amado?".
Baco Exu do Blues
- Quarta e quinta-feira, 18 e 19 de maio, às 23h, no Bar Opinião (José do Patrocínio, 834), em Porto Alegre
- Ingressos a partir de R$ 200, integral, ou R$ 105 solidário, mediante doação de um quilo de alimento não perecível. Sócios do Clube do Assinante têm 50% de desconto
- Compras disponíveis na plataforma Sympla