A emoção vai tomar conta do Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre. Pelo menos é isso o que prometem os organizadores da oitava edição de O Grande Encontro — Música dos Gaúchos, evento que ocorre no espaço a partir das 20h30min desta terça-feira (5) e reúne nomes consagrados do Rio Grande do Sul e jovens talentos da música nativista para dividir o mesmo palco. No total, 104 músicos e intérpretes deverão se apresentar (veja serviço de ingressos ao final do texto).
Este grupo, que será dividido em combinações — algumas inéditas —, será responsável por entoar 26 canções históricas. Assim como as edições anteriores, a seleção busca retomar músicas consideradas referências da cultura regional e que se tornaram patrimônio coletivo. Os idealizadores do evento pregam que o Rio Grande do Sul tem sua própria voz e que é preciso sempre cantar a realidade e os símbolos do Estado.
— Quem conhece os artistas e os vê chegando no palco do Araújo Vianna, com aquela lotação, percebe que o momento é especial. Ainda mais com o repertório escolhido, que foi marcante para a carreira deles. O clima é de empolgação, porque é incrível como todo ano cresce mais, tanto em termos de público quanto de interpretações — diz o produtor Ayrton dos Anjos, conhecido como Patineti, idealizador do projeto.
Entre os mais de cem nomes confirmados, artistas como Renato Borghetti, Analise Severo, Grupo Quero-Quero, Rock de Galpão, Joca Martins, Gaúcho da Fronteira, Charlise Bandeira, Elton Saldanha, Os Serranos, Shana Müller, Dante Ramon Ledesma, Luiza Barbosa, Daniel Torres, César Oliveira & Rogério Melo, Luiz Carlos Borges e João de Almeida Neto estarão distribuindo a sua arte no Araújo Vianna. Guri de Uruguaiana e Paulinho Mixaria ficam encarregados de levar o humor para a plateia.
— O Grande Encontro é um lugar onde todos cantam com felicidade. E ainda com colegas. Eu coloco duplas cantando que nunca alguém imaginou que estariam juntas. Eu pergunto para o artista com quem ele gostaria de cantar. O Mauro Morais, por exemplo, tinha o sonho de cantar com Os Fagundes. E eles vão se apresentar juntos. Tudo com amizade, com brincadeira. É um clima maravilhoso, só alegria. É isso que me deixa cada vez mais louco — brinca Patineti.
Após não ter sido realizado em 2020 e 2021, devido à pandemia, O Grande Encontro retorna neste ano com a apresentação do grupo de dança do CTG Campo dos Bugres, de Caxias do Sul, que tem a direção artística do professor Emerson Ribeiro. Ainda ocorrerá, ao longo do evento, homenagens aos 40 anos do programa Galpão Crioulo, da RBS TV, e a uma das mais importantes artistas do Estado: Mary Terezinha.
Icônica
Mary, que completou 76 anos no último 30 de março, vai se reencontrar com o palco depois de anos — ela não se lembra de quando foi a última vez em que se apresentou. Durante O Grande Encontro, ela não vai cantar ou tocar o seu acordeom, por não ter mais condições para tal, mas se diz entusiasmada para encarar o público de frente novamente e receber a homenagem.
— É muita alegria, muita satisfação. É uma bênção. Depois dessa pandemia, parece que as coisas estão abrindo. Não é fácil, mas estou muito feliz em poder reencontrar o meu povo, o meu público, as pessoas. Depois do sucesso que a dupla Teixeirinha e Mary Terezinha fez, que foi divino, vai ser um prazer muito grande — diz a artista.
Mary, que passou a se dedicar à música gospel nos últimos 20 anos, após se batizar na Igreja do Evangelho Quadrangular, mostra-se muito agradecida por ser lembrada em um evento que reúne tantos nomes icônicos da música gaúcha. Ela, em sua jornada religiosa, gravou seis CDs com letras de sua autoria. Todas falando de fé, mas dentro dos ritmos vanerão, rancheira e música popular.
Agora, chegou a hora de descansar. Mesmo estando bem de saúde, Mary diz que o problema na coluna tem sido um aborrecimento constante — foram anos se apresentando com o seu acordeom, enquanto tocava e dançava, exigindo muito das costas. Apesar deste problema crônico, ela não se arrepende de todo o esforço que fez. Cravou o seu nome na história. Mas da estrada não sente falta.
— Eu viajei demais ao lado do Teixeirinha. Foi muita viagem, muitos países em que eu morei, em que eu me apresentei. No Brasil, não tem município em que eu não me apresentei com a dupla. Estava na hora de descansar — garante. — Mas estou muito feliz, me sentindo renovada, em paz comigo mesma.
Patineti
Empolgado por estar promovendo mais uma edição de O Grande Encontro, Patineti comemora:
— Já fizemos um show de três horas. Já me disseram que os caras iriam embora, que ninguém iria ficar todo esse tempo assistindo, mas não vão embora coisa nenhuma. Não querem ir, querem ouvir mais.
Com muita história para contar — desde como foi um dos idealizadores do projeto do Galpão Crioulo até como foi o produtor de grandes artistas do Estado, que acabaram sendo reconhecidos até mesmo fora do Brasil —, Patineti garante que subirão ao palco "os melhores dos melhores". E esse conceito de reunir vários intérpretes surgiu do seu trabalho com lançamentos de discos, entre os quais ele afirma que os de maior sucesso foram as coletâneas.
E, falando em sucesso, ele esteve presente nos primeiros passos de Elis Regina, quando a Pimentinha estava prestes a se tornar um fenômeno no país. Foi ela, inclusive, que lhe deu, mesmo que sem querer, o apelido que o acompanha até hoje. Foi em um baile no Teresópolis Tênis Clube, em 1962, no qual a cantora foi coroada Rainha do Disco Club, que Patineti, muito próximo dela, a tirou para dançar.
Um repórter de rádio chegou perto de Elis para perguntar como ela estava se sentindo — provavelmente, em relação à carreira que estava deslanchando. A artista, porém, imaginou que o questionamento era sobre o seu parceiro de dança, sempre acelerado, e respondeu:
— Me sinto como se estivesse andando de patinete.
Pronto, foi o suficiente. A história se espalhou rapidamente pelos círculos sociais onde os dois frequentavam e, no dia seguinte, Ayrton dos Anjos já era chamado de Patinete. Porém, ele mesmo adaptou o apelido, assinando com a grafia errada: Patineti — afinal, ele acreditava que patinetes já existiam muitos. Patineti, só ele.
— Eu procuro fazer sempre o melhor, fazer diferente, algo que ninguém nunca fez. Se tenho chance de colocar 104 caras em um palco, pode alguém perguntar: "Tu não achas muito?". Eu nem sinto. E os músicos também não — enfatiza o produtor.
Os nomes que vão fazer a festa (e o que vão cantar):
- Capitão Faustino - O Grande Retorno e Boas Vindas / Ginete Universitário
- João Luiz Corrêa e Paullo Costa - Quando Tapeia o Chapelão
- Regis Marques e Lincon Ramos - Gritos de Liberdade
- Renato Borghetti, Pedrinho Figueiredo, Daniel Sá, Vitor Peixoto e Jorginho do Trompete - Alfonsina y el Mar
- Bruno Neher, Paulo Silva e Bier Meine Frau - Vaquinha Preta
- Marcello Caminha e Marcello Caminha Filho - La Ariscona
- Grupo Quero-Quero - Baile do Quero-Quero
- Juliana Spanevello e Maria Alice - Guerreiras
- João de Almeida Neto e Milongueiro - Esquina da Paixão
- Sergio Rojas, Diogo Barcelos, Dhouglas Umabel, Xandi Olly e Vanessa de Maria - Dança dos Trigais
- Alejandro Brittes, Robison Boeira, Beto Zaccaro e Kako Pacheco - La Cau, Bailanta do Tio Flor e Milonga para as Missões
- Tatieli Bueno, Charlise Bandeira e Luiza Barbosa - Gaudêncio Sete Luas
- Rock de Galpão - Vento Negro
- André Teixeira e Joca Martins - Esquilador
- Analise Severo, Jean Kirchoff e Oristela Alves - Só Podia Ser Mulher
- Gaúcho da Fronteira e Gustavo Brodinho - Herdeiro da Pampa Pobre
- César Oliveira & Rogério Melo e Família Guedes - Nego Betão
- Shana Müller, Cristiano Quevedo, Ângelo Franco e Érlon Péricles - O Descobrimento do Rio Grande
"O Grande Encontro - Música dos Gaúchos" (8ª edição)
- Nesta terça-feira (5), às 20h30min
- Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre
- Ingressos a partir de R$ 30 à venda no Sympla
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante