Vinte e três — quase 24 — anos pode parecer pouca coisa para quem olha de fora. Mas Laura Dalmás certamente já traz consigo muita experiência: cantou em corais quando pequena, foi parar na quinta edição do The Voice Brasil, saiu de Carlos Barbosa para perseguir seus sonhos na Capital e já correu a Europa em turnê. Consagrando sua trajetória até aqui, a artista lança no domingo (3) o álbum visual Minha Essência, que mescla a sonoridade pop e MPB no único conceito de transformar as diferentes fases da vida em arte.
O projeto surgiu lá no final de 2019, quando o produtor de Laura a instigou a fazer um álbum mais conceitual. Na época, a cantora ficou pensativa: se era para contar uma história, porque não a dela? Assim, nasceram aos poucos as oito faixas de Minha Essência, título que já deixa claro, logo de início, o propósito do disco.
— Fui mapeando as ideias que eu queria escrever, sempre buscando transmitir aquilo que eu acredito: uma mensagem positiva, de ver o mundo com bons olhos, sempre com esperança — diz ela à reportagem, na véspera de seu aniversário.
Para contar a vivência da artista, o álbum foi pensado em ordem cronológica. Ser Criança, a primeira faixa do disco, fala sobre a infância, enquanto que em Nós Contra o Mundo já vem o carinho e a parceria com o irmão de Laura, hoje com 17 anos.
Como não poderia deixar de ser, a cantora conta em JKs sobre sua vinda à Capital em 2017, aos 18 anos, para morar sozinha pela primeira vez. Mas além de falar sobre as mudanças de perspectivas e novos sonhos que vir morar na cidade grande trouxe, Laura também explana o fato de que Porto Alegre a fez encarar situações nem tão agradáveis.
— Em Carlos Barbosa, tem pouquíssima desigualdade social, e em Porto Alegre eu vi muitas realidades diferentes do que eu estava acostumada, me impactou muito. Fez eu me tornar muito mais sensível e humana. Demorei a me acostumar com a violência, a insegurança, mas eu sabia que estava lá para ir atrás dos meus sonhos — afirma a artista.
Depois da infância e da independência, vem a libertação. Faixa mais rock do álbum, Transcender Amarras traz em sonoridade e letra a revolta contra uma sociedade machista. Nela se ouve: "Querem que você seja bonita / mas nem tanto pra não assustar". Laura — e Jéssica Berdet, que escreveu a canção em parceria — escancara os padrões inalcançáveis que ainda se acredita que mulheres devem perseguir.
— Como uma mulher jovem e do Interior, acho que as pessoas demoram um pouco mais para acreditar na gente, para dar confiança. Muitas vezes descredibilizam mesmo — desabafa Laura.
Sem qualquer contradição, a temática do amor aparece logo na sequência — já que, diz Laura, ser feminista não impede qualquer mulher de se apaixonar e ficar vulnerável também. Mas a chave de ouro fica para as duas últimas músicas, que são "secretamente" as preferidas da cantora. Ao contrário das outras canções, a artista se absteve de comentar tanto sobre a faixa-título, quanto Última Música, uma vez que prefere deixar para o público interpretar suas mensagens subjetivas.
Projeto visual
Amarrando todo o conceito visual do álbum está a singela figura da borboleta azul. Criada em meio à natureza, Laura explica que escolheu o animal por conta de suas diferentes fases — até porque, quando está em sua fase larval, normalmente ele sequer é reconhecido por outras pessoas. A confirmação de que esse deveria ser seu símbolo veio por meio de um sinal:
— Um belo dia, eu estava fazendo trilha com meus amigos no meio do mato e encontrei uma borboleta azul. Borboleta azul é mais rara de encontrar, normalmente encontramos de outras cores. Aí me deu um insight: tem que ser uma borboleta mesmo, e tem que ser azul.
Além do próprio lançamento do álbum nas plataformas digitais, no domingo, também ficará disponível no YouTube um curta-metragem de 30 minutos, unindo todas as músicas e alguns depoimentos. Engana-se, contudo, quem pensa que esses relatos são sobre Laura: na verdade, os convidados falam sobre si e suas experiências, relacionando-as com as canções da artista. Sem contar muito sobre o que está por vir, Laura adianta apenas a participação de uma haitiana de 26 anos que conseguiu conectar-se com JKs, já que, assim como a cantora, mudou-se para conquistar sonhos.