Os fãs de Comunidade Nin-Jitsu, Ultramen, Tequila Baby, Cachorro Grande, Fresno e outras bandas que despontaram entre os anos 1990 e 2000 têm encontro marcado com o podcast gratuito Eu Quero Ser Seu Amigo de Novo. A atração estreia nesta quinta-feira (31), a partir das 19h30min, na Cubo Play, em vídeo, e em áudio nas principais plataformas de streaming.
Apresentado pelo comunicador Lelê Bortholacci e pela jornalista Carol Govari, o programa apresenta a história da cena do rock gaúcho entre 1995 e 2015 — período que corresponde ao tempo de atividade da produtora Olelê Music, comandada pelo próprio comunicador. No projeto, que conta com 10 episódios na primeira temporada, variando entre 40 e 60 minutos, ele vai resgatar de sua memória e, também, de suas gavetas de casa, causos e itens que as bandas sequer sabem que existem.
— Eu sou um cara bem cricri na organização das minhas coisas. E eu guardei um material com várias coisas bizarras, de release de bandas, passando por fotos, documentos de show, revistas, cartazes e muitos registros de vídeos. Por exemplo, eu tenho uma planilha de bilheteria que mostra músico da Cachorro Grande ganhando R$ 15 depois de fazer um show — explica Lelê.
A ideia do podcast surgiu em um encontro entre Carol e Lelê, quando ele foi entrevistado pela jornalista e pesquisadora, ainda na época da Olelê Music. Ele se deu conta, então, que tinha muita história para contar. Os anos se passaram, a produtora fechou, mas Lelê sempre foi instigado por colegas e amigos a contar a sua trajetória — e, consequentemente, a história da cena que ajudou a construir por 20 anos.
Além disso, o podcast pretende relembrar e ressaltar a importância dessas bandas para a música e a cultura do Estado. Nas pesquisas de Carol, ela percebeu a carência de registros sobre essa cena de meados dos anos 1990 para cá, época em que, conforme Lelê conta, o mercado efervesceu novamente com a geração com a qual ele trabalhou, além de outras bandas que surgiram.
— O importante disso é que eu faço questão que todos os músicos das bandas que passaram pela Olelê participem dos episódios. Eu quero que eles deem as versões deles. As versões definitivas dos fatos não são as que eu conto — destaca o radialista.
Do programa, então, participarão todos os grupos que passaram pela Olelê ao longo dos anos. Além disso, para dar uma dimensão ainda maior à narrativa do podcast, que tentará respeitar uma ordem cronológica, a pauta foi ampliada para falar da história do rock em si em Porto Alegre naquela época. Assim, outras bandas, empresários, produtores e donos de bares também terão voz em Eu Quero Ser Seu Amigo de Novo.
Respostas
Segundo Lelê, trazer diversas vozes para resgatar a história é importante porque ajuda a completar momentos dos quais, talvez, ele próprio não se lembre em detalhes. E mesmo que o podcast destaque uma época em que o rock gaúcho esteve em um momento próspero, o comunicador aponta que também aconteceram muitos problemas, discussões e até brigas. Por isso, o nome do podcast é Eu Quero Ser Seu Amigo de Novo, frase marcante da música Hey Amigo, da Cachorro Grande.
— Um dos pontos essenciais desta história toda são as idas e vindas, as brigas e as reconciliações de gente, de músicos comigo, eu com músicos, os músicos entre eles. E acho necessário falar dos problemas, até porque uma das grandes perguntas que muita gente faz hoje em dia é: "Por que essa geração não deu certo fora daqui?". Talvez, aí esteja a resposta — adianta Lelê.
O radialista também abordará no podcast as transições de tecnologia durante os 20 anos de atuação junto às bandas, indo do vinil para o CD e do CD para o mp3, enquanto a internet ia surgindo e ganhando espaço, mudando a forma de trabalhar. Ele ainda contará as suas estratégias para emplacar bandas, inclusive, tirando algumas do Rio Grande do Sul para fazerem sucesso fora do Estado primeiro.
Lelê e Carol
O comunicador explica que convidou Carol para ser sua coapresentadora neste projeto por ela ter uma linguagem mais nova, de alguém que ia aos shows das bandas que ele gerenciava.
— Eu sou o cara de trás da cortina. Achei legal fazer essa mescla, ao invés de convidar um jornalista da minha geração. Ela é jornalista e doutora no assunto. Ela via as coisas acontecendo enquanto eu estava lá atrás — ressalta Lelê.
Desde 1995, Lelê Bortholacci atua na produção cultural de Porto Alegre, seja como DJ, roadie, produtor, empresário — termo que ele não gosta, porque empresário é rico e ele afirma que nunca foi rico — e radialista. Em 1997, ele montou o seu primeiro escritório, junto ao estúdio Bafo de Bira, do músico Rafael Malenotti, seu amigo de infância. Foi quando começou a levar o material autoral dos grupos para as casas de shows pelo interior do Estado.
Com a produtora, gerenciou a carreira de bandas como Ultramen, Tequila Baby, Comunidade Nin-Jitsu, Cachorro Grande, Reação em Cadeia, Fresno, entre outras. Desde 2015, com o fechamento da Olelê, dedica-se exclusivamente à função de radialista e comunicador nas rádios Atlântida, 102.3 e Gaúcha.
Já Carol Govari é jornalista graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação pela Unisinos. Realizou estágio doutoral no Department of Art History & Communication Studies da McGill University, em Montreal, Canadá, onde aprofundou sua pesquisa sobre cenas musicais.
Ela é autora do livro As próximas horas serão muito boas. Materialidades e estéticas da Comunicação em duas apresentações ao vivo da banda Cachorro Grande (Novas Edições Acadêmicas, 2019) e, desde 2010, atua na cobertura de shows no blog The Backstage. É vinculada ao Laboratório de Pesquisa Cultpop — Cultura Pop, Comunicação e Tecnologia, da Unisinos, e colaboradora do Centro de Investigação em Artes e Comunicação, da Universidade do Algarve (Portugal).