Vindo ao Rio Grande do Sul com sua turnê de despedida, o Skank se apresenta nesta sexta-feira (1º) e no sábado (2), às 21h, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, e no domingo, às 20h, no Teatro Feevale, em Novo Hamburgo. Restam poucos ingressos para os três shows (leia reportagem sobre a turnê e os shows no RS).
Integrada por Samuel Rosa (guitarra e voz), Lelo Zanetti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferretti (bateria), a banda anunciou o encerramento das atividades em novembro de 2019.
Em entrevista a GZH, Samuel falou sobre a trajetória do grupo e a situação do rock no Brasil.
A vinda do Skank para Porto Alegre estava prevista originalmente para 2020. De lá para cá, a apresentação foi adiada algumas vezes por conta da pandemia. Como foi para vocês acompanhar esses adiamentos em meio a uma turnê tão significativa para a banda?
Tivemos todo o planejamento refeito. Não houve um momento sequer, nesses quase dois anos, em que a gente não pensasse ou sentisse saudade da estrada, dos shows, do público, das pessoas que nos seguem, da conexão que acontece com o público há praticamente 30 anos, cantando nossas músicas a plenos pulmões. Skank nunca caiu num período de ostracismo ou ficou muito tempo fora da estrada. Sentimos muita falta. Imagina, para pessoas que ficaram as últimas décadas viajando foi muito estranho. Sempre pensando na retomada, sempre pensando nas noites já esgotadas. Agora é torcer pela consolidação do programa de vacinação e pelo fim da pandemia. Claro, deixou marcas profundas em pessoas que perderam parentes, isso não tem como remediar, ainda mais sabendo que a história poderia ter sido outra. Deixou a gente mais angustiado ainda. Retomamos e tem sido incrível. Essa aura de celebração da banda, fechando um ciclo, gera uma comoção muito grande do público, e nossa também.
Ao longo dos anos, Skank sempre foi uma banda querida aqui no Rio Grande do Sul. Fora as apresentações memoráveis no Planeta Atlântida, com as famosas "fotos de capa da Zero Hora", que o grupo promovia em seus shows no festival. Como é a relação da banda com o Estado? Que lembranças boas vocês levam daqui?
Vivemos momentos incríveis no Estado. Como as apresentações no Planeta Atlântida, os grandes amigos que fizemos. A turma do Opinião, as bandas como Acústicos & Valvulados, Nenhum de Nós e Cachorro Grande, entre tantas outras. Guardo com muito carinho os amigos que fiz aí, que vão continuar sendo meus amigos, pois vamos continuar frequentando o Estado. Os churrascos promovidos depois dos joguinhos de futebol. Até contra o time feminino do Inter a gente jogou. O Estado do RS deixa marcas na vida de qualquer um pela sua personalidade, pelas suas características tão marcantes. Os shows no Gigantinho lotado, o Bar Opinião quando ainda era uma casinha. Lembro do lançamento de Cosmotron, de ver o Beto Bruno e o Marcelo Gross na plateia. Depois saímos e acabamos a noite no Van Gogh, um lugar tradicional aí de sopas e boemia. Temos muita história no Estado. Nossos shows em Erechim, Ijuí, no Chuí, onde lembro de ter colocado uma blusa de lã em pleno janeiro. Muitas histórias marcantes, que vão estar na nossa cabeça quando subirmos ao palco do Araújo Vianna.
Como têm sido os shows de despedida? Como vocês têm se sentido no palco?
Um misto de celebração com final de ciclo. Passa na nossa cabeça o que vem depois, como será individualmente. Será que a banda retomará um dia? Por agora, isso não tem coibido a nossa alegria de estar no palco depois de um longo e tenebroso inverno. É muito catártico isso tudo, mobiliza muito o emocional da gente. Tem sido um turbilhão de emoções.
Como foi a decisão de encerrar as atividades do grupo? Foi uma questão que já vinha amadurecendo há um tempo?
Devemos fazer shows de despedida com clima muito harmônico, muito mais do que bandas que estão aí continuando.
SAMUEL ROSA
Vocalista do Skank
A decisão de parar já vinha sendo aventada há mais tempo. Não tem um grande motivo, ou os nossos motivos não foram suficientemente midiáticos para que as pessoas entendessem melhor. Muita gente especulando se havia algum tipo de conflito dentro do grupo, mas não. Claro, conflitos sempre haverá em uma banda que reúne diferentes cabeças. Mas é simplesmente o fato de ver que se passaram 30 anos e a gente tem um certo tempo. E o tempo também vai ficando mais curto para experimentar coisas novas. E eu vejo isso também com alegria, pois todo fim é um começo. Também usando outro ditado: tudo que tem começo tem fim. Procuro ver com alegria e expectativa pelas possibilidades novas. Sempre há uma possibilidade de trabalhos novos, de tocar com pessoas diferentes. Não que eu não queira mais tocar com os meninos, não é à toa que somos uma das bandas mais longevas com a mesma formação do cenário brasileiro e mundial. Continuamos amigos, continuamos nos amando. Estamos tendo todo o cuidado nessa despedida. Cuidar do fim como cuidamos do começo. Queremos ser exceção: uma banda que termina bem. Devemos fazer shows de despedida com clima muito harmônico, muito mais do que bandas que estão aí continuando. Vamos terminar com todo mundo se falando (risos).
O que você pretende fazer depois da turnê de despedida?
Música (risos)! Não vou mudar de ramo. Como fala o mineiro, não vou "pendurar a chuteira". Se o Mick Jagger e o Paul McCartney estão marcando turnê aos 80, não há de ser eu com míseros 55 que vou encerrar minha carreira agora. Acho que consigo dar uns pulinhos no palco. Pretendo fazer músicas e shows. E bastante.
Ao longo de sua trajetória, Skank se consolidou como um dos principais nomes da história do rock brasileiro. Como você avalia a produção atual do rock no país? Como o gênero se transformou ao longo dos anos?
Hoje, o rock tem um espaço menor com a juventude do que tinha em outras décadas. Mas não que não venha produzindo bandas boas.
SAMUEL ROSA
Vocalista do Skank
Eu acho que o rock hoje perdeu a preferência no gosto da juventude no mundo todo. Sempre enxerguei o rock como um braço da música pop: em alguns momentos, o pop foi mais rock; em outros, menos. Hoje, o rock tem um espaço menor com a juventude do que tinha em outras décadas. Mas não que não venha produzindo bandas boas. Tem, sim, coisas muito interessantes e promissoras. Vejo, por exemplo, em Belo Horizonte, o Lagum, que mistura rock com reggae, tem a Daparte, que é do meu filho (Juliano Alvarenga), tem o Terno-Rei, de São Paulo. Mesmo esses artistas que mesclam rock com música popular brasileira, que foi um pouco o que o Skank fez. Tem coisas muitas promissoras. Só não sei se tem a quantidade de ouvidos que mereciam ter. Ninguém pode cravar nada, tudo na música é muito cíclico, a gente não sabe o que pode vir amanhã. Só espero que o rock possa retomar sua popularidade.
De que maneira o Skank evoluiu ao longo de sua trajetória?
Se você escuta o "Cosmotron" e depois escuta o "Samba Poconé", que foi feito sete anos antes, parece que são duas bandas diferentes.
SAMUEL ROSA
Vocalista do Skank
O Skank foi evoluindo ao longo do tempo para sobreviver. Eu acho que a razão da nossa longevidade, desses 30 anos, foi a mão na massa. A revolução na nossa própria sonoridade, que a gente tentava e nem sempre conseguia, mas em alguns momentos tinha êxito. Se você escuta o Cosmotron e depois escuta o Samba Poconé, que foi feito sete anos antes, parece que são duas bandas diferentes. Skank tem esse lado meio esquizofrênico. São vertentes muito distintas. Nunca tivemos cerimônia pra meter a mão na massa e mudar o som. A partir do Maquinarama, isso ficou mais perceptível, com a supressão dos metais. A gente começou a investir mais nas guitarras, nos teclados, nos vocais. Mas se a gente pegar o Sgt. Pepper's e comparar com A Hard Day's Night, parece também que são duas bandas distintas. Algumas bandas propõem essa mudança mais radical, outras nem tanto. Não é uma questão qualitativa, mas sim de ideologia interna da banda. Começamos muito um dancehall misturado com música brasileira, mas já com guitarras. Isso se acentuou no Samba Poconé. Depois, veio o Maquinarama, que, daí sim, foi uma revolução maior. Acho que essas surpresas sempre acompanharam o Skank e levaram a banda para um lado legal, de ter essa inquietação. Acho que sempre conseguimos dar vazão para aquelas influências que sempre foram verdadeiras para a gente.
Quais são os momentos com o Skank dos quais você mais se orgulha?
Enfim, o Skank viveu grandes momentos. E quem sabe ainda viverá? Eu acho que sim. Posso cravar que sim.
SAMUEL ROSA
Vocalista do Skank
Skank goza o benefício de ter experimentado a indústria musical em momentos muito distintos. Pegamos a transição do vinil para o CD. Pegamos a chegada da internet. O início das redes sociais. Ou seja, a gente viveu tudo! Tivemos uma dificuldade maior de se adaptar do que os garotos que já vêm com o HD preparado para essa cena. Mas estamos conseguindo. Fomos acumulando umas visões de mundo, que foram mudando em uma velocidade muito grande. Pegamos desde o mercado fonográfico clássico, onde as bandas dependiam da MTV, da televisão, dos clipes. Dependia muito mais da rádio do que depende hoje, não tinha plataforma digital, não tinha YouTube. Até começar a dialogar com essa nova era foi um aprendizado. É muito legal esse acúmulo de bagagem. Enfim, o Skank viveu grandes momentos. E quem sabe ainda viverá? Eu acho que sim. Posso cravar que sim. As grandes apresentações do Planeta Atlântida, as viagens intermináveis de ônibus do início de carreira, os perrengues, até momentos apoteóticos. Shows no Exterior para plateias que não sabiam nada da banda, mas que acabavam sendo muito legais. Os grandes festivais como Rock in Rio, Roskilde (Dinamarca), Paléo (Suíça). Skank percorreu quase 20 países, rodamos o Brasil várias vezes de cabo a rabo. Os artistas com os quais a gente tabelou ao longo desse tempo todo. Grandes ídolos que viraram amigos. É muita história pra contar. E eu fico pensando o que há de mais importante do que isso: chegar nesse lugar de ter sua música reconhecida, viver dela, ter esses amigos que um dia foram grandes ídolos. Ver outras coisas acontecerem, novas gerações chegarem e ocuparem lugar, você ter um outro lugar, de mais respeito, se tornando um clássico, se é que eu posso dizer isso sobre Skank (ser um clássico), talvez seja muita prepotência, enfim. Mas é isso. Não posso falar mais senão eu vou às lágrimas aqui (risos).
Skank - Turnê de Despedida
Porto Alegre:
- Sexta (1º/4) e sábado (2/4), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685). Ingressos pelo site Sympla.
Novo Hamburgo:
- Domingo (3/4), às 20h, no Teatro Feevale (Universidade Feevale, RS-239, 2.755, Campus II). Ingressos pelo site Uhuu.