A música acaba de ganhar uma nova casa. E ela fica entre os municípios de Restinga Seca e São João do Polêsine, na região da Quarta Colônia de Imigração Italiana, a cerca de 30 quilômetros de Santa Maria. Ali, no Centro Internacional de Arte e Cultura Humanista Recanto Maestro, será inaugurado oficialmente nesta sexta-feira (25), o Palco Bell'Anima.
Idealizado pelo músico Vagner Cunha e pelo empresário Claudio Carrara, o espaço, que foi construído em nove meses, foi inspirado nos teatros gregos do período clássico. E, para a sua inauguração oficial, o grupo de música de câmara português Quarteto Lopes-Graça se apresentará no local, a partir das 20h, fazendo a sua estreia no Rio Grande do Sul.
O grupo de cordas apresentará obras de compositores de Portugal e da América Latina, como Fernando Lopes-Graça, Joly Braga Santos, Luís de Freitas Branco, Astor Piazzolla, Alberto Ginastera, Heitor Villa-Lobos e Osvaldo Lacerda. O concerto ainda contará com as participações especiais da soprano sérvia Natasa Sibalic e do contrabaixista e compositor argentino Alejandro Erlich-Oliva.
— Eu enxergo esse espaço não só como um novo polo cultural para o Rio Grande do Sul, mas também para o Brasil. A gente realmente está pensando que a coisa vai crescer muito nos próximos anos. E não estou falando de investimento, mas de criação e produção musical. Vamos realmente pisar no acelerador em termos de produção de novas parcerias e trazer, inclusive, nomes que nunca vieram ao Brasil para esse espaço — projeta Cunha.
E para mostrar isso, o local já conta com várias atrações musicais confirmadas para os próximos meses. A programação do primeiro semestre do ano vai da música erudita à popular. Na semana seguinte à inauguração, em 2 de abril, o novo espaço receberá o grupo paulista Demônios da Garoa para interpretar sambas que acompanham o conjunto em seus mais de 70 anos de atividade e grandes sucessos de Adoniran Barbosa.
Já no dia 30 de abril, haverá um espetáculo inédito de Os Fagundes, com o grupo explorando novas sonoridades na companhia das cordas da Orquestra Jovem Recanto Maestro. Depois, em 28 de maio, será a vez da cantora norte-americana Cerissa McQueen apresentar sua mistura de estilos como blues, gospel, jazz, rock, soul, pop e funk. O espetáculo Uma Noite na Gafieira, com o carioca Pedro Miranda e o grupo gaúcho Central do Samba, chega no espaço em 11 de junho, fechando a programação do primeiro semestre. Para 2 de julho, outro nome nacional já está confirmado: Toquinho.
Segundo Vagner Cunha, esta programação diversificada, mas dentro de uma proposta de trazer "música boa", é para ajudar a suprir uma carência que existe na região. Para o músico, a cultura está "muito baleada" e, com o Palco Bell'Anima, está se buscando encontrar uma lógica que seja sustentável de promover espetáculos.
— Existe um preconceito que as pessoas não gostam de música boa, de música erudita, de MPB. Mas é que essas coisas precisam circular, a gente precisa criar um público. As pessoas querem. A gente está construindo um público e um centro não só de levar shows, mas de criação musical e que vai proporcionar muitas parcerias. Já estamos, inclusive, programando um festival de música para o segundo semestre — conta.
Ambicioso
Para a construção do espaço, o empresário Claudio Carrara cedeu parte do terreno de sua própria casa, que já era um local para produção musical no Recanto Maestro. No desenvolvimento, foram investidos R$ 2,5 milhões, com projeto do arquiteto italiano Enrico Torrice. O Palco Bell'Anima tem mais de cem metros quadrados, em formato de meia-lua. São 7,5 metros de pé direito e, à sua frente, uma sequência de 14 degraus em pedra que servem de arquibancada para receber até 450 espectadores. Em dezembro, foi feito um evento de pré-inauguração, com 80% das obras concluídas e, de acordo com os realizadores, o retorno foi surpreendentemente positivo.
— A gente vai pensando, tateando as coisas e vai realizando. Apesar de todo esse cenário de pandemia e tudo mais, fizemos esse investimento. Foi uma resolução muito lógica para nós usar aquele espaço dessa forma. Inclusive, inicialmente, a gente pensou em fazer uma coisa bem barata, mas, no fim, a coisa foi crescendo e o investimento foi muito maior do que o planejado — explica Cunha.
O anfiteatro, que pode receber concertos com ou sem amplificação, tem projeto de sonorização do engenheiro de som gaúcho Leo Bracht e projeto acústico do professor da Universidade Nacional de La Plata e engenheiro argentino Gustavo Basso, um dos responsáveis pela restauração acústica do Teatro Colón, de Buenos Aires. Segundo os idealizadores, a construção aproveita o caminho natural que o som percorre na concha acústica criada pela própria estrutura da arquibancada de pedra, permitindo a distribuição sonora uniforme por toda a área ocupada pelos espectadores.
Para o começo da temporada 2022, o anfiteatro já conta com a infraestrutura completa, incluindo iluminação, camarins e placas acústicas. Para a segunda metade do ano, está sendo preparado um espaço coberto, que receberá a programação em caso de chuva. A longo prazo, os planos vão além de espetáculos de música e concertos: o Palco Bell'Anima será usado também como cinema ao ar livre e para apresentações cênicas.
Esse investimento, segundo Cunha, conversa com o desenvolvimento da região, que conta com uma grande procura pelo ecoturismo, com resorts, pousadas e hotéis no entorno. Ou seja, quem for prestigiar as atrações do anfiteatro, terá também outras opções para complementar a experiência.
— O Rio Grande do Sul não é um território que tem pouca coisa, mas é uma mata virgem cheia de oportunidades na área cultural. E não adianta esperar as coisas acontecerem. A nossa ideia é bem ambiciosa, no sentido de criar um espaço que as pessoas queiram vir se apresentar — idealiza Cunha.
Os ingressos para as apresentações do primeiro semestre estão à venda no site e na Lojas Dullius do Recanto Maestro.