Recriando um dos shows mais antológicos do rock brasileiro dos anos 1980, Paulo Ricardo volta a Porto Alegre neste sábado (20) com a turnê Rádio Pirata ao Vivo — 35 anos. A apresentação será realizada no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), a partir das 21h. O espetáculo celebra o álbum ao vivo da RPM, lançado em 1986, que consolidou a banda como fenômeno pop.
Dirigido por Ney Matogrosso, o show chamou atenção por sua sofisticação, inspirando-se no filme Blade Runner, utilizando laser e luz néon em toda a beirada do palco, remetendo também a uma nave espacial. Neste sábado, esse espetáculo dos anos 1980 será remontado no palco do Araújo.
— Há muito a se comemorar nesse show. Foi, sob muitos aspectos, um divisor de águas no show business brasileiro — sublinha Paulo Ricardo, que era baixista e vocalista da banda.
O repertório conta com canções do disco ao vivo e do primeiro trabalho da banda, Revoluções por Minuto (1985). Segundo Paulo, havia canções naquele espetáculo que eram muito diferentes do pop mais alegre que fazia sucesso na época — vide Olhar 43 e Rádio Pirata. Para ele, há músicas do grupo que preservam frescor e relevância, além de representarem o espírito daquele tempo. O cantor cita Sob a Luz do Sol e Estação do Inferno para exemplificar.
— São músicas mais sombrias, que chamávamos de gótico ou dark, representando o lado mais sombrio daquele período, que cresceu marcado pela Guerra Fria e pelo livro 1984, de George Orwell. Havia uma tensão no ar que teve um efeito marcante no espírito do tempo da nossa geração. Há parte do show que é muito densa, e as pessoas ficam hipnotizadas, aí sinto muita força do zeitgeist — destaca.
Naquela época, a RPM era uma coqueluche: estampava capas de revistas adolescentes, eram seguidos por fãs em histeria e vendiam milhões de LPs e fitas K7. Os shows eram lotados. Uma dessas apresentações foi no Gigantinho, na capital gaúcha, que acabou sendo o pontapé inicial para Rádio Pirata ao Vivo, conforme Paulo. Em 1985, o grupo participou do festival Atlântida Rock Concert, realizado no ginásio. Na apresentação, a RPM tocou uma versão de London, London, de Caetano Veloso. Como o evento foi transmitido pela Rede Transamérica, logo o Brasil inteiro começou a executar o cover que a banda tocou naquele show, sem ao menos ter sido lançada em álbum. Paulo conta que, a partir daí, o grupo se viu obrigado a gravar um disco ao vivo.
— Tudo isso aconteceu aí no Gigantinho, e é uma passagem que tem uma metalinguagem muito rara nesse nível: ter uma música pirateada que dá origem ao álbum que se chama Rádio Pirata ao Vivo. É um ciclo muito interessante, só podia ter acontecido aí mesmo (risos). O Rio Grande do Sul sempre foi um grande consumidor e produtor de rock — atesta.
Após idas e vindas, Paulo Ricardo deixou o grupo em 2017 — Dioy Pallone entrou em seu lugar. Em março deste ano, o cantor foi impedido pela Justiça de São Paulo de usar a marca RPM ou explorar comercialmente as principais músicas do grupo. A condenação ocorre no âmbito de um processo movido em 2017 pelos outros integrantes da banda, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo Pagni, que faleceu em 2019. Eles alegam que Paulo teria quebrado um contrato de 2007 que definia que nenhum integrante exploraria individualmente o nome RPM — no caso, sendo impedido de regravá-las.
A banda descobriu, em 2017, que Paulo tinha registrado a marca da banda no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) apenas em seu nome. Os outros integrantes alegam que o vocalista havia se comprometido a fazer o registro em nome dos quatro músicos. Paulo nega a acusação.
— Não há nenhum impedimento de cantar as músicas, não me atrapalha em nada. Triste como as coisas são distorcidas. Felizmente em todas as etapas desse processo na Justiça, a verdade está prevalecendo e estou vencendo tudo isso. É lamentável, é uma passagem muito triste. A maior homenagem a um compositor é alguém regravar uma de suas músicas. Tentar cercear quem quer que seja... Essas picuinhas de banda são lamentáveis — afirma.
Retomada
Com o avanço da vacinação e a liberação de eventos, Paulo Ricardo tem retomado a rotina de shows. Além da turnê Rádio Pirata ao Vivo — 35 Anos, o cantor tem realizado o show Voz e Violão, que define como uma apresentação de rock acústico. Ele pretende gravar um DVD desse projeto.
Até o final do mês, planeja lançar um projeto de NFT (token não fungível, uma tecnologia de autenticação de um produto digital) com o desenhista Mike Deodato. Para o ano que vem, um álbum de inéditas está nos planos, para o qual o músico promete letras mais engajadas como Alvorada Voraz. Sobre o retorno aos palcos, Paulo define-o como um renascimento:
— Uma sensação de alívio muito grande. Assim como fazer amor, nada substitui a energia de um show ao vivo e o contato com as pessoas. A intenção é valorizar cada elemento, cada viagem, como se fosse nova. Coisas do dia a dia que a gente não dava valor, que estava no automático.
Rádio Pirata ao Vivo — 35 Anos
- Sábado, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Abertura da casa: 19h.
- Classificação: 16 anos.
- Ingressos: de R$ 90 a R$ 280 pelo site sympla.com.br. Há desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante. Também há desconto para quem doar 1kg de alimento não perecível ou apresentar a carteira de vacinação contra a covid-19).
- Protocolos: necessário uso de máscara e a apresentação do comprovante de vacinação para a entrada no evento.