Gravada em mais de 14 idiomas, incluindo hebraico e russo, com 1 bilhão de reproduções nas plataformas digitais e com 74 regravações espalhadas pelo mundo, É o Amor, principal hit de Zezé Di Camargo & Luciano e um dos principais sucessos da música nacional, completa 30 anos de lançamento em 2021.
Composta na metade de 1990 por Zezé, de madrugada, no apartamento em que morava à época, em São Paulo, a canção acabou entrando de última hora no primeiro disco dos irmãos, que leva o nome da dupla, lançado no dia 19 de abril de 1991, data que os dois elegeram para comemorar os 30 anos de carreira.
Naquele dia, o pai da dupla, Seu Francisco, falecido no ano passado aos 83 anos e retratado no filme 2 Filhos de Francisco (2005) pelo ator Ângelo Antonio, pediu para amigos da obra em que trabalhava ligarem, de telefones públicos, para as rádios de Goiás, requisitando que tocassem a canção do filho.
Em apenas seis meses, o disco de estreia dos sertanejos goianos, impulsionado pelo hit, vendeu 750 mil cópias, ganhando disco de platina duplo. Em mais alguns meses, atingiu a marca de 1 milhão de cópias. Nas décadas seguintes, a dupla seguiu empilhando sucessos, lançamentos e prêmios: venderam mais de 40 milhões de álbuns, lançaram 27 CDs, um EP e seis DVDs, ganharam cinco estatuetas do Grammy Latino, entre seis indicações, e somam 20 discos de platina, 15 discos de platina duplo, 27 discos de ouro, 27 discos de prata e 27 discos de diamante.
Entrevista com Zezé Di Camargo:
O que você lembra do dia da criação de É o Amor?
Fazia frio em São Paulo e eu estava na rua o dia todo, resolvendo coisas. Daí, quando entrei no carro, estava tocando uma música da (Maria) Bethânia, Negue. E fiquei pensando: “Caramba, é legal esse negócio de ficar repetindo uma palavra na música”.
Fiquei com isso na cabeça. Cheguei em casa com a ideia de fazer essa música. Lá pela meia-noite, sentei no chão, escorado no sofá, liguei o som 3x1 que eu tinha na época. Sabe, acredito que a primeira parte da música veio psicografada pra mim. Fiquei um tempão na sala e o Luciano me disse: “Vou dormir, não aguento mais”.
Alguns artistas relatam sentimentos especiais quando fazem algumas canções. Qual foi o seu sentimento ao compor É o Amor?
Eu sabia que tinha feito uma grande música. A gente não tinha peso, não tinha prestígio, mas tinha certeza do que tinha feito. Temos mais de 70 musicas de sucesso, mas, quando falam de alguma música de Zezé Di Camargo & Luciano, falam de É o Amor.
É o Amor se confunde com a história de vocês. Qual o motivo, nas sua avaliação, de ela ter feito tanto sucesso?
A gente urbanizou um pouco mais a música sertaneja no país, o que nos ajudou a fazer sucesso no país inteiro. É o Amor era mais romântica do que sertaneja ou regional. Assim como os gaúchos têm os ritmos típicos como chamamé, o pessoal do Centro-Oeste tinha os modões, por exemplo. Isso fez com que a gente derrubasse essas barreiras, trouxemos um som com mais bateria, mais guitarras, sempre fui um cara que ouvia de tudo.
Nesses 30 anos, pensou em deixar de tocá-la?
Lá por 2006, deixei ela de fora de uns três shows e o Luciano brigando comigo por causa disso. Falei: “Parece que as pessoas só querem ouvir É o Amor”. Em um desses shows, as pessoas começaram a cantar a música no final do espetáculo. Não teve como, tive de cantar. Não dá para renegar o filho primogênito.
Entrevista com Luciano
Qual é a tua lembrança do dia em que É o Amor foi composta?
Naquele dia, ele (Zezé) chegou em casa com uma parte da música da Bethânia (Negue) na cabeça e falou: "Não vou negar, vou assumir que eu amo". Ele começou a compor, ficou ali um tempão e eu disse que iria dormir.
E o interessante é que todas as músicas daquele disco já tinham sido gravadas e É o Amor entrou por último. E nasceu para ser sucesso mesmo. Depois de lançar o disco, a primeira música que tínhamos de sucesso era essa. Claro, daquele primeiro disco estourou outras canções, depois. E o primeiro show da nossa vida, chegamos a duvidar que É o Amor estivesse realmente lá. E estava.
Quais motivos tu enxerga para que É o Amor tenha feito tanto sucesso?
Acredito que seja pelo fato de falar de amor. O amor é universal. E Deus foi de uma generosidade imensa de ter colocado essa música na vida do Zezé e na minha. Eu devo muito a ela. Por mais que a gente tenha gravado outras canções, É o Amor é a identidade de Zezé Di Camargo & Luciano. Sou tão privilegiado como artista, já que fiz sucesso "de cara", no meu primeiro disco, já que o Zezé tinha lançado outros discos, em carreira solo, antes de formarmos a dupla.
Zezé já era mais experiente (29 anos), mas tu era bem mais jovem (18 anos), quando vocês começaram e quando É o Amor estourou. Como foi tudo isso na tua vida?
Eu não tinha a dimensão do sucesso porque nunca tinha vivido aquilo. Quando recebemos o primeiro disco de ouro, muito em razão do sucesso de É o Amor, o cara da gravadora me chamou e disse: "Olha o que temos para vocês". Essa é uma das imagens que mais me tocam. Foi a primeira vez que vi um disco de ouro na minha vida. Nos anos seguintes, vi que estávamos crescendo muito e que seríamos grandes. Mas, desde o estúdio, quando gravávamos o disco, eu tinha esta certeza, a de que a gente venderia 1 milhão no primeiro disco.