Há um ano, os palcos do Brasil apagaram as luzes – e continuam sem data certa para se iluminarem outra vez. Para quem ganhava a vida debaixo dos holofotes, 2020 foi um ano de novos aprendizados, não apenas na busca de alternativas financeiras, mas também de não perder o contato com o público.
– A pandemia já durou tanto tempo que aquilo que era alternativa no começo já não é mais agora. O primeiro passo que demos para continuar tocando diante do público, que é o que mais nos motiva, foram as lives. No meu caso, também aproveitei para produzir muitas músicas novas – conta o multi-instrumentista Diego Dias.
Diego é conhecido como tecladista na banda Vera Loca, além de ser o gaiteiro e líder do grupo Beatles no Acordeon. As duas bandas costumavam ter agendas disputadas dentro e fora do Estado, colocando o músico entre os artistas de maior circulação do RS.
No início da pandemia, a Vera Loca se engajou em lives que alcançaram milhões de visualizações. Diego não parou por aí. Criou também transmissões inusitadas, em que se propunha a tocar canções que não fazem parte do repertório de seus grupos. Atualmente, cria clipes com releituras criativas de músicas conhecidas e novas composições.
– Financeiramente, nossos projetos também precisam das redes sociais porque ter uma boa resposta de público chama atenção de futuros contratantes – explica Diego.
Ele aponta que tem se dedicado cada vez mais aos shows online para diferentes empresas. Tratam-se de apresentações com link fechado para funcionários, clientes ou colaboradores:
– Acredito que esse movimento vai crescer cada vez mais, porque não há perspectiva de volta à normalidade, e as empresas que reconhecem a importância de se ligarem à arte estão correndo atrás disso.
O pianista Luciano Leães é um dos artistas gaúchos mais criativos para manter o contato com o público na pandemia. Além de lives em que passava um “chapéu virtual” para arrecadar doações, Leães também criou uma campanha de financiamento coletivo continuado na plataforma Catarse. Os fãs podem se cadastrar com doações mensais em troca de podcasts, lives exclusivas e outros conteúdos – já rolou até sessão virtual de cinema com filme sobre blues.
– Consegui me aproximar virtualmente das pessoas ao longo do ano. É uma intimidade que não se compara com os shows presenciais. Porém, o lado positivo é que também possibilita se conectar com gente do mundo inteiro. Pessoas que viram meu show em New Orleans e na Europa hoje conseguem me acompanhar, por exemplo – conta Leães.
O financiamento coletivo e o trabalho com gravações e mixagens em estúdio têm ajudado Leães a manter as contas no azul. Para 2021, o pianista planeja lançar uma série de singles e fortalecer sua presença online, mas avalia que nada substitui a experiência de tocar diretamente para os ouvintes:
– Nada substitui o palco, estar no mesmo espaço que o público, olho no olho. O modo como a audiência reage acaba influenciando muito os meus shows.
A transição dos palcos para a internet tem sido ainda mais difícil para quem se dedica ao teatro. Thiago Pirajira, do grupo Pretagô, afirma que se engajou em alguns projetos criativos para seguir representando online, mas a experiência se distancia do ofício teatral.
– O que eu tenho produzido não é bem teatro, pelo menos não o teatro que fazíamos antes da pandemia. Estamos criando algo novo, experimentando, tomando elementos do que fazíamos anteriormente. Talvez a gente só consiga entender o que estamos fazendo agora daqui a 10 ou 20 anos, quando tudo isso passar – avalia Thiago.
Thiago tem equilibrado o orçamento com aulas de teatro online – o ator e diretor já havia se dedicado anteriormente à docência. No entanto, lamenta que muitos colegas não têm conseguido se manter na mesma área de trabalho, dedicando-se agora a outras profissões:
– Muitos artistas infelizmente precisaram tomar outros rumos. Mais recentemente, alguns têm conseguido sobreviver minimamente com recursos da Lei Aldir Blanc. É muito importante que esses recursos continuem sendo distribuídos ao longo de 2021 e que cheguem às pessoas que realmente necessitam.