Quando Diego Dias nasceu, seu pai tinha um sonho: que o filho se tornasse gaiteiro dos Serranos. Acordeonista amador em Tupanciretã, Alciomar Dias queria ver o menino viajando pelo sul do Brasil embalado pelo instrumento. O jovem cresceu, trocou o regionalismo pelo rock, mas parte do sonho do pai foi realizado: é o ronco da cordeona que impulsiona Diego a viajar cada vez mais longe.
Conhecido na cena roqueira local como tecladista da banda Vera Loca, o músico lançou há cinco anos o projeto The Beatles no Acordeon, em que interpreta temas conhecidos dos fab four. O show ampliou sua visibilidade depois de fazer parte da programação da International Beatle Week Festival, em Liverpool, na Inglaterra, a convite de Julia Baird, irmã de John Lennon. O projeto está prestes a ser lembrado em DVD, e agora Diego quer conquistar o Brasil.
Antes de partir em turnê por Santa Catarina e Paraná, The Beatles no Acordeon poderá ser visto em duas datas: nesta quinta-feira (10/1) e dia 24 de janeiro, às 21h, no Sgt Peppers (Rua Quintino Bocaiúva, 256), com ingressos a R$ 30. Serão os primeiros shows na Capital depois do maior conquista do projeto até agora, a excursão britânica em agosto do ano passado.
A Beatle Week reúne todos os anos em Liverpool dezenas de bandas e milhares de fãs dos Beatles. Em 2018, foram 70 grupos, vindo de 40 países. O evento é organizado por Julia Baird para o Cavern Club, bar conhecido como marco inicial do famoso quarteto. Ali, os convidados têm oportunidade de tocar no mesmo palco em que seus ídolos fizeram história.
– Foram 11 shows em sete dias. A gente foi criando um público. As pessoas achavam inusitada nossa formação. É claro que o acordeom é um instrumento muito conhecido na Europa, mas aqui no Estado tem um sotaque diferente. Além disso, a banda que me acompanha tem uma pegada roqueira – conta Diego.
O músico é acompanhado por Diogo Farina (violão), Cassiano Farina (baixo) e Robledo Rock (bateria). Como o acordeom tem uma ampla gama de recursos sonoros, como diferentes timbres e sustentação de notas, o grupo consegue executar de maneira expressiva clássicos dos Beatles com arranjos mais complexos e delicados, elemento que cativou os britânicos.
– A maior parte dos grupos era inspirada na primeira fase dos Beatles, então era muito comum ouvir She Loves You ou I Want to Hold Your Hand, por exemplo, mas quase ninguém tocava Hey Jude ou Let it Be, pois fica difícil reproduzir canções assim em um formato de guitarra, baixo e bateria. Acho que isso ajudou a fazer as pessoas voltarem muitas vezes ao nosso show – avalia Diego.
No final da Beatle Week, o grupo estava tão à vontade que resolveu registrar a performance para um DVD, que deve ser lançado nos próximos meses, e até ousou quebrar o protocolo: em homenagem ao folclorista Paixão Côrtes, que morreu no dia de uma das apresentações, Diego tocou no mítico palco o clássico regionalista Milonga para as Missões.
– Foi um dos pontos altos. O público adorou – lembra Diego.
Depois de conquistar os britânicos, o gaiteiro tem um objetivo claro: cativar as plateias do Brasil. O show tem uma boa circulação pelo Rio Grande do Sul mas só saiu uma vez do Estado, para visitar Joinville. Em março, o plano é voltar a Santa Catarina e também fazer apresentações em Curitiba.
– Lotamos o show em Joinville e voltaremos agora. Isso demonstra que o show é universal e tem potencial para conquistar outros Estados – diz Diego.
The Beatles no Acordeon também surpreende por conquistar o público tocando apenas temas instrumentais. Não é raro, no entanto, que a plateia cante junto as melodias do repertório, montado para abranger todas as fases do quarteto britânico. Além disso, há canções das carreiras solo de John Lennon (Imagine) e Paul McCartney (Live and Let Die).
Não deixa de ser inusitado que elementos como o rock e o acordeom estejam unidos no palco, já que os Beatles são considerados grandes responsáveis pela perda da popularidade do instrumento no mundo – depois que a banda se tornou mania, muitos jovens deixaram o acordeom de lado para aderir ao violão ou à guitarra.
– A gaita é um símbolo da cultura gaúcha, e as melodias do Beatles são conhecidas por todos. Ou seja, juntei duas coisas que são praticamente unanimidades – conclui Diego.