O produtor musical americano Phil Spector morreu no último sábado (16), aos 81 anos, enquanto cumpria pena por homicídio. A informação foi divulgado pelo Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia neste domingo (17).
Preso pelo assassinato da atriz Lana Clarkson, crime que cometeu em 2003, ele morreu em decorrência de covid-19. Spector foi diagnosticado com coronavírus há quatro semanas e foi transferido de sua cela na cadeia a um hospital, segundo informações do jornal Daily Mail.
Produtor que introduziu métodos inovadores como a "parede de som", trabalhou com diversas estrelas da música, como os Beatles em seu álbum Let it Be. Em seu auge na década de 1960, tornou-se um dos produtores de pop e rock de seu tempo, cujo trabalho ajudou a definir o otimismo sem limites de uma geração.
Nascido em Nova York em 1939 em uma família judia de origem russa, Spector tinha apenas oito anos quando seu pai cometeu suicídio, uma tragédia que o marcaria para sempre. Sua mãe decidiu se mudar para Los Angeles para um novo começo e lá foi ele com sua irmã.
Não demorou muito para que o talento musical emergisse em um adolescente que exibia uma enorme habilidade para escrever letras e tocar violão.
Ele formou seu primeiro grupo, que se chamava The Teddy Bears, com três amigos do colégio. Obteve sucesso quase imediatamente com a canção de 1958 To Know Him Is to Love Him, o epitáfio inscrito na lápide de seu pai. A canção alcançou o primeiro lugar no ranking da Billboard e vendeu cinco milhões de cópias. Contudo, o grupo não conseguiu repetir o sucesso e se separou no ano seguinte.
Parede de som
Severamente assustado com o medo do palco, Spector lentamente começou a produzir e compor músicas. Ajudou na autoria do sucesso de Ben E. King, intitulado Spanish Harlem, em 1961.
A criação do seu próprio selo Philles foi o início de uma época de ouro, quando quase sozinho ele mudou a indústria da música com sua técnica wall of sound ("parede de som"). Usando um grande número de músicos que tocavam as suas partes separadamente e depois as colocavam umas sobre as outras, a técnica trouxe uma qualidade orquestral única às suas produções. Spector criava sonoridades densas e cheia de camadas, com muitos instrumentos tocando uma mesma nota em uníssono.
Segundo a revista Rolling Stone, ele descreveu a técnica como uma "abordagem wagneriana do rock n 'roll, pequenas sinfonias para crianças". "Sabia que Beethoven era mais importante do que qualquer um que tocasse a sua música. E é o que eu queria ser", disse.
Spector se tornaria uma figuras mais influentes da história da música pop. Antes de ser condenado, ele seria aclamado como um visionário por conta da parede sonora e por estabelecer a imagem do produtor musical como autor — uma força criativa tão importante quanto os artistas, com uma sonoridade identificável instantaneamente.
John Lennon, que trabalhou com Spector em mais de uma oportunidade, o chamou de "o maior produtor musical de todos os tempos". Influenciou nomes como Bruce Springsteen e Brian Wilson (Beach Boys), que se declararam adeptos de suas técnicas de gravação.
Máquina de sucessos
Graças ao seu trabalho com grupos como The Crystals, The Ronettes e The Righteous Brothers, Spector se tornou uma máquina de sucessos musicais, acumulando hits como Da Doo Ron Ron, Then He Kissed Me, Be My Baby, You've Lost That Lovin' Feelin e Unchained Melody.
Casou-se com Ronnie Bennett, voz principal das Ronettes e em 1968 se distanciou da vida pública, já então milionário. O jornalista e escritor Tom Wolfe o descrevia como o "primeiro magnata da juventude".
Retornou no começo dos anos 1970 colaborando com os Beatles e último disco Let it Be. Depois depois produziu álbuns solo para John Lennon (Imagine) e George Harrison (All Things Must Pass). Ele também trabalharia com artistas como Leonard Cohen (Death of a Ladies' Man) e Ramones (End of Century).
Alma atormentada
À medida que os anos 1970 avançavam, Spector foi se tornando cada vez mais antissocial. Foi nessa época que começaram a se espalhar os boatos sobre suas excentricidades. Ronnie, que o abandonou em 1974, relatou em sua biografia que sofreu abusos por anos, inclusive ameaças de que a mataria e exporia seu corpo em um caixão com adornos em ouro que guardava no porão. Suas ameaças com armas se estenderam aos artistas com os quais ele trabalhava.
Supostamente, deu um disparo em um estúdio quando produzia Rock 'n' Roll para John Lennon e pôs uma arma na cabeça de Leonard Cohen durante as sessões para Death of a Ladies Man. Havia uma lenda urbana de que Spector teria mantido os Ramones de refém com uma arma enquanto gravavam o álbum End of the Century, mas a história foi desmentida pelo baterista Marky Ramone em entrevista concedida a NME, em 2008.
Algumas chaves sobre a personalidade atribulada de Spector vieram à tona em uma rara e longa entrevista ao jornal britânico The Daily Telegraph, semanas antes de Lana Clarkson morrer em sua mansão, em fevereiro de 2003. "Sou meu pior inimigo. Tenho demônios em mim que me desafiam", disse à publicação.
Ele prosseguiu: "As pessoas me idolatram, querem ser como eu, mas eu lhes digo 'acreditem em mim, vocês não iam querer a minha vida'. Porque não tem sido uma vida muito agradável". Spector concluiu: "Sou uma alma muito atormentada. Nunca estive em paz comigo mesmo. Não fui feliz".
Crime e prisão
O crime ocorreu em 3 de fevereiro de 2003. A polícia encontrou a atriz de filmes B Lana Clarkson baleada na mansão de Spector, em Los Angeles. Os dois teriam se conhecido em um clube noturno onde ela trabalhava como hostess, horas antes do assassinato. O produtor a convidou para ir até sua casa.
O brasileiro Adriano de Souza, que era motorista de Spector, foi uma das testemunhas chaves do julgamento: ele contou ao tribunal que viu o produtor sair de casa após ouvir um barulho de tiro, portando uma arma na mão cheia de sangue. Por outro defesa de Spector alegou que Lana havia se suicidado com um tiro na boca por conta da depressão que sofria.
Spector foi condenado em 2009, com uma pena que ia de 19 anos à prisão perpétua.