Músico negro que fez carreira no Rio Grande do Sul, Serginho Moah foi entrevistado no programa Supersábado, da Rádio Gaúcha, na manhã deste sábado (21). O cantor falou sobre o caso do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro espancado até a morte por seguranças brancos no Carrefour, em Porto Alegre.
— Tive que consolar pessoas jovens das minhas relações que ficaram extremamente abaladas com isso. Tive que ir conversar e dizer que infelizmente esse tipo de episódio está na nossa conta. Da comunidade negra, do Brasil e do mundo. Porque existem os olhares de negação. Mas precisamos ter força, atitude. Essas pessoas que exercem um lugar de poder, como no caso desses cidadãos que cometeram esse assassinato, não têm outra palavra para definir. Covardia, assassinato. Acho que devemos nos manifestar, em prol de que isso tem que mudar. As pessoas precisam ter uma relação diferente com o poder.
No bate-papo, o artista fez um paralelo sobre o crime com a sentença do caso Mariana Ferrer, que terminou com a absolvição do empresário André de Camargo Aranha da acusação de estupro — e repercutiu nas redes sociais.
— Hoje voltou a sensação de muita dúvida do que vai acontecer daqui para frente. Já tivemos o resultado de um julgamento que acabou em estupro culposo. O que vai ser isso aí? Banditismo culposo? Covardia culposa? Racismo culposo? — questionou.
Moah reforçou que já foi "vigiado" em supermercados, presenciou pessoas atravessando a rua para evitar contato e que conversa sobre esse assunto frequentemente com os filhos. Ele também defendeu que pertence à comunidade negra e se preocupa em nome da sua família, dos filhos, dos amigos, e frisou que "podia ser eu":
— Explico que sempre seremos mais vigiados, nossa condição será sempre colocada em dúvida, como os vereadores negros (vereadores negros eleitos para a Câmara de Porto Alegre), já foi colocada em dúvida a capacidade deles. É mais um leão, provar que tem condições. E é óbvio que eles têm.
Na entrevista, ele ainda elogiou a nova geração de jovens que está encarando o problema do racismo de frente. Lembrou da luta das minorias, da comunidade LGBT+ e fez uma crítica à violência em manifestações.
— Acho muito importante que as pessoas se posicionem, que estejam fortes e a fim de lutar o bom combate, não é vandalizar, é lutar positivamente para virar esse jogo. Precisamos continuar lutando.
Live com cunho social
Serginho Moah estará no palco do Teatro CIEE neste domingo (22), a partir das 20h, com transmissão por seu canal no YouTube. Ele adiantou que o show celebra o Dia do Músico e que terá participação do Guri de Uruguaiana, além da arrecadação de doações para instituições carentes.
— Quero dedicar a todas as pessoas, músicos, a quem trabalha com arte. Vai ser uma live pela paz também. Precisamos falar de paz mesmo em episódios tão horrendos como o do Carrefour. É a paz proveniente da justiça — afirmou Moah.