Revolucionário, simples e influente, Sir Richard Starkey completa 80 anos nesta terça-feira (7). Inglês de Liverpool, consagrou-se como Ringo Starr sentado à bateria da maior banda de todos os tempos. Ao longo das décadas, houve quem o relegasse a um posto secundário nos Beatles ou questionasse suas habilidades na bateria. Mas Ringo não é um mero coadjuvante.
Durante parte de sua infância e adolescência, ele passou um bom tempo em hospitais enfrentando problemas de saúde como apendicite e tuberculose, o que o atrasou nos seus primeiros anos escolares. Enquanto esteve internado, Ringo se interessou pela bateria – costumava batucar no armário ao lado de sua cama com baquetas improvisadas. O baterista tocaria em grupos de skiffle e em casas noturnas até se juntar ao Rory Storm and The Hurricanes, onde ganharia o apelido de Ringo por conta dos anéis (“ring”, em inglês) que usava. Foi tocando com essa banda que ele conheceu os Beatles, em Hamburgo (Alemanha), em 1960. Dois anos depois, ele seria chamado para entrar no lugar de Pete Best. Estreou em estúdio no primeiro compacto gravado pela banda, com Love Me Do e P.S. I Love You, lançado em 5 de outubro de 1962.
Nos Beatles, o instrumentista nunca teve o mesmo protagonismo que os outros três integrantes – John Lennon, Paul McCartney e George Harrison. A biografia Ringo – A História do Baterista Mais Famoso do Mundo Antes e Depois dos Beatles, de Michael Seth Starr, indica que ele era até tratado com desprezo por Paul e John.
Com os Beatles, Ringo compôs apenas duas músicas: Don't Pass Me By e Octopus Garden. Também teve outras em que dividiu a autoria – como What Goes On, Flying e Dig It –, além daquelas que emprestou o vocal (como Yellow Submarine).
Após o fim dos Beatles, Ringo se viu afundado no álcool e nas drogas por duas décadas. Sua carreira solo não teve a mesma badalação que a de seus colegas de quarteto, mas ele conseguiu emplacar canções como Photograph e You're Sixteen ao longo de 20 discos. O baterista também montaria o projeto Ringo Starr & His All Starr Band, que contou com integrantes que vão de Peter Frampton até a banda Toto.
Baterista revolucionário
Ringo é canhoto, mas toca bateria como destro. Na época em que começou, o kit de bateria para canhotos era praticamente inexistente. Segundo o instrumentista, foram as dificuldades propiciadas pelo fato de ser canhoto que influenciaram o seu estilo de tocar.
Foi Ringo quem popularizou a maneira de tocar bateria com a mesma proporção de força nas duas mãos, segurando as duas baquetas como se fossem martelos – estilo chamado de matched grip.
– Ringo transformou o instrumento. A sonoridade que implantou nos Beatles foi revolucionária. O som de caixa do set dele é impressionante até hoje! Aquela maneira de tocar com o banco mais alto e as mãos próximas, trouxe fills (viradas) rápidas e curtas, mantendo alta a energia das canções – analisa o baterista Sady Homrich, da banda Nenhum de Nós.
Ex-baterista da Cachorro Grande, Gabriel Boizinho hoje prepara seu primeiro disco solo. Ele também dá aulas de bateria, em que vez ou outra precisa puxar a orelha de alguns alunos.
– A coisa que mais adoro na vida são os meus alunos ou pessoas dizendo que o Ringo era um baterista ruim (risos). A simplicidade dele era o grande lance. Ele era tão simples que é muito difícil de tirar essa sonoridade. Ele entregava exatamente o que a música pede. Nunca fez mais ou menos – atesta.
Boizinho sublinha que Ringo tinha noção de tempo perfeita. Os engenheiros de som que trabalharam com os Beatles também já relataram que dificilmente uma gravação teve de ser interrompida por causa de um erro do baterista. Para Boizinho, Ringo é a sua principal influência e não há dúvidas sobre a importância, qualidade e legado do eterno beatle:
– Ringo é um dos bateristas mais importantes da história. O baterista da maior banda do mundo. E é o melhor baterista de todos. O legado dele é imenso. Você vê gente como John Bonham (Led Zeppelin) e Keith Moon (The Who) e percebe algumas coisas tiradas do Ringo.
A baterista Biba Meira destaca que Ringo sempre foi muito criativo nas batidas, com baterias com fórmulas rítmicas que não são muito comuns.
– Para mim, dá muita impressão que ele toca com o vocal, o que acho bem bacana. Ele criava algo às vezes algo inusitado, como a batida do Come Together. Tem um estilo bem peculiar. Tu vais ouvi-lo e dizer: este é o Ringo tocando. É muito bacana quando tu identificas um músico pela maneira como ele toca e se expressa nesse instrumento – avalia.
Comemoração
Para celebrar seus 80 anos, Ringo vai organizar um show com convidados especiais. Ele fará a apresentação de sua casa e contará com participações à distância de nomes como Paul McCartney, Sheryl Crow, Gary Clark Jr., Ben Harper, entre outros. Em vídeo, o artista britânico explicou o evento:
— Esse ano será um pouco diferente. Não há um grande encontro, não tem como fazer brunch para 100 pessoas. Mas iremos fazer esse show: uma hora de música e conversa. É um aniversário bem grande.
A live irá arrecadar fundos para as instituições The David Lynch Foundation, MusiCares e WaterAid e Black Lives Matter. A transmissão será realizada pelo canal de Ringo Starr no YouTube, a partir das 21h (horário de Brasília), nesta terça.