Há mais de quatro décadas firmando na palma da mão o amor em suas canções, o Fundo de Quintal desfilou sua mistura inconfundível de romantismo com a batida forte do tantã em uma hora e meia de show na noite deste domingo (20) em Porto Alegre. O Auditório Araújo Vianna — com público um pouco abaixo do que seria esperado para atração desse porte — recebeu com muita empolgação o grupo que marcou o samba a partir do final dos anos 1970 e deu origem ao pagode que tomou conta do país nos anos 1990.
A banda retornou a Porto Alegre em um momento em que o samba vem ganhando mais espaço na cidade. Rodas de samba e bares que apostam no estilo se proliferam na capital gaúcha, em diferentes bairros e com público cada vez mais variado, cativo e jovem — uma das rodas de mais qualidade, a do Instituto Brasilidades, inclusive, ocorria nesta tarde e noite na Cidade Baixa. Além disso, o combalido Carnaval porto-alegrense promete retornar com mais força em 2020.
Há muitos anos sem a parceria no palco de nomes mais conhecidos do grande público como Jorge Aragão, Sombrinha, Arlindo Cruz e Almir Guineto (já falecido), os três remanescentes das formações clássicas, Bira Presidente, Ubirany e Sereno (completam o time atual os ótimos Ademir, Júnior Itaguay e Márcio, que seguram o show) se esforçam e conseguem manter o alto nível vocal e instrumental que é marca registrada da banda.
A abertura já deu mostras do que seria a noite. Aos primeiros acordes, o público levantou para sambar e cantar Lucidez, clássico também conhecido na voz da madrinha da banda, Beth Carvalho, que morreu no final de abril deste ano. Seguiu-se, então, a incrível sequência de sucessos, mesclados em pout pourri:
- Só Pra Contrariar
- Ô, Irene,
- Chega Pra Sambar
- Bebeto Loteria
- A Batucada Dos Nossos Tantãs
- Facho de Esperança
- Doce Refúgio
- Conselho
- Insensato Destino
- Mel na Boca
- Miudinho, Meu Bem, Miudinho
- A Amizade
- O Show Tem Que Continuar
- Nosso Grito
- Só Felicidade
- Do Fundo Do Nosso Quintal
- Caciqueando
- Ainda É Tempo Pra Ser Feliz (com direito a homenagem emocionada a Beth Carvalho)
Formado em grande parte por gente com mais de 50 anos, o público, que se levantou para sambar em Lucidez e só parou em Vou Festejar (em outra referência a madrinha Beth Carvalho), saiu do Araújo com a alma lavada e o coração de ritmo renovado, cantarolando o "láláiá" clássico das músicas do Fundo de Quintal. Até porque, afinal de contas, amanhã é segunda-feira e o show tem que continuar.