– Será um show com muito samba e muito partido alto.
É assim que Ubirany, que, do alto dos seus 79 anos, arrasa no repique, define o show a que Porto Alegre assistirá, neste domingo, de um dos mais importantes grupos do samba, o Fundo de Quintal, que completa 43 anos de carreira em 2019. No repertório, sucessos como Amizade, Sorriso Negro e Só Felicidade. Por telefone, Ubirany falou do show, dos novos integrantes e do orgulho de ver suas canções em rodas de samba pelo Brasil.
Com 43 anos de carreira, vocês têm uma agenda movimentada (fizeram 10 shows em setembro). Mesmo com tantos novos grupos no país, vocês seguem com muita força, não é?
Com certeza, apesar de você perceber que não tem nenhum garotinho na banda, pois o Bira está com 82 anos, e eu e Sereno temos 79, seguimos fortes. Recentemente, a banda ganhou bons reforços, com dois garotos que chegaram para somar (Marcio Alexandre, 45 anos, e Junior Itaguaí, 37). São conhecedores do nosso repertório, até mais do que nós. Eles têm todas as canções na ponta da língua. Tá tudo bem encaminhado, o público os aceitou. E, em Porto Alegre, tenho certeza de que não será diferente.
Com tantos anos de estrada, o público de vocês se renovou?
Temos um público cativo. Mas nem por isso deixa de pintar no meio uma garotada mais jovem. Quando puxamos uma música do primeiro disco (Samba É No Fundo do Quintal – Vol. 1, de 1980), como Boca sem Dente, a gente vê os moleques cantando, dá uma alegria. Daí, noto uma coisa:a diferença de qualidade da música atual em comparação com a antiga. Hoje em dia, você faz sucesso com determinado samba e, daqui a dois, três anos, você quer cantar aquilo e nem lembra mais. Quando estamos no palco, e vamos fazer uma música do Fundo, do começo dos anos 80, logo que vem a introdução, o público sai cantando. Não é gostoso isso? Eu não sei, acho que isso tem a ver com a qualidade, hoje é tudo descartável. Então, o que você fazia antes, quando era sucesso, era para ficar, e não para enganar um pouco e ficar nisso mesmo. Temos um respeito muito grande quando o assunto é o repertório, procurando ser o mais criteriosos possível na escolha das músicas.
Mesmo que o senhor tenha suas críticas aos músicos atuais, vários artistas ajudaram a divulgar as canções do Fundo para novas gerações em rodas de samba pelo Brasil, não?
Claro, os sambistas mais novos ajudaram a difundir nossa obra, é motivo de orgulho. Em todas as rodas de samba a que a gente vai, não só a trabalho, mas também para curtir, pelo menos metade do repertório é de nossas canções. Tem coisa mais gostosa?
Com mais de 400 músicas, como selecionar um repertório para um show de 90 minutos?
Não tem como agradar a todos, sempre tem alguém da plateia que diz que falta alguma. E vai faltar sempre, impossível, em um show só, cantar todas (risos). Mas o gostoso está aí também, né?
Música
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José Augusto Barros
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