A banda Apanhador Só voou alto, bem além da cena independente gaúcha, tornando-se uma das revelações nacionais da década com o segundo disco, lançado em 2013. Fora do radar há cerca de dois anos, quando o lançamento do terceiro álbum foi ofuscado por polêmicas, o grupo está com as atividades suspensas. Mas seu principal compositor e vocalista, Alexandre Kumpinski, seguiu criando até chegar ao conjunto de músicas que darão corpo ao seu primeiro álbum solo. Nesta quinta-feira (5), o público poderá conhecer essas canções em um show no bar Guernica (Travessa Venezianos 44), às 21h. O ingresso é uma contribuição espontânea.
Kumpinski aproveitou os primeiros meses de 2019 para viajar e se apresentar em diferentes cidades da Europa, na rua e em bares. Ao retornar a Porto Alegre, em abril, começou a gravar o primeiro disco solo, ainda sem nome, com previsão de lançamento para março do ano que vem. A maioria das 12 novas canções já foi gravada, com a colaboração de Bruno Neves e Lorenzo Flach como produtores e músicos, mas ainda deve passar por mixagem e masterização.
Em formato voz e violão, o show desta noite será a primeira vez que Kumpinski mostrará as novas canções. Segundo o músico, será uma espécie de "teste":
— É para mostrar as composições ainda cruas. Tento não criar expectativa, para não encaroçar o angu, mas espero que as pessoas estejam atentas e possam me dar um retorno interessante.
No palco do bar, ele terá a companhia de Bela Leindecker, que cantará três ou quatro músicas. O compositor também promete covers e canções conhecidas da Apanhador Só, como Um Rei e o Zé, Cartão Postal e Vita, Ian, Cassales. Conforme Kumpinski, a carreira solo era uma vontade antiga, mas todas as suas composições eram usadas na Apanhador Só. Agora, o desafio é encontrar uma sonoridade própria:
— Tem sido um desafio estético para mim, tenho buscado sonoridades diferentes e novas.
As melodias, ainda inéditas, continuam dialogando com o cancioneiro brasileiro e misturando instrumentos orgânicos e recursos eletrônicos. Os instrumentos de sucata estarão presentes, mas não como percussão, o que se tornou uma das marcas da Apanhador Só. Nas músicas novas, os fãs reconhecerão as letras de Kumpinski, marcadas pela reflexão sobre temas cotidianos, filosóficos e políticos. Uma novidade é a presença de imagens oníricas, mas também há comentários sobre a atual polarização da sociedade:
— É um momento de lógicas destrutivas mais do que construtivas. A gente fala muito de fascismo, mas não consegue perceber os fascismos que nos acompanham.
A própria Apanhador Só se viu no centro de debates acalorados em 2017, quando o guitarrista Felipe Zancanaro foi acusado de ter um comportamento abusivo com a sua ex-companheira, a escritora Clara Corleone. A repercussão foi tão grande que motivou cancelamento de shows, ofuscando o lançamento do álbum Meio que Tudo É Um, sucessor dos elogiados Apanhador Só (2010) e Antes que Tu Conte Outra. A polêmica culminou na suspensão das atividades da banda, que desde 2003 reunia Kumpinski (voz e guitarra), Zancanaro (guitarra) e Fernão Agra (Baixo). Dois anos depois, o destino da banda continua incerto.
— Está pausada. A ideia é seguir os trabalhos quando a gente achar que tem a ver voltar — explica o compositor.