Quem ouvir Greta Van Fleet pela primeira vez pode ficar com a sensação de que Robert Plant, o vocalista do lendário Led Zeppelin, está em um novo projeto aos 70 anos. Não só porque a voz de Josh Kiszka é muito semelhante à do ícone do rock n'roll, mas porque toda sua banda parece ser um ressurgimento do estilo setentista que marcou uma geração.
Escolhida para abrir os shows do Metallica na América Latina, incluindo a apresentação em Porto Alegre no dia 21 de abril de 2020, a banda é formada pelos irmãos Josh Kiszka, vocal, Jake Kiszka, guitarra, Sam Kiszka, baixo, e Daniel Wagner, na bateria. Eles começaram em 2012 no estado do Michigan, nos Estados Unidos, e já lançaram dois EPs, Black Smoke Rising (2017) e From the Fires (2017) — sendo que o segundo inclui as músicas do primeiro e novas composições —, e um álbum, Anthem Of The Peaceful Army (2018).
Nas músicas, se ouvem os gritos e o jeito de cantar de Robert Plant. Safari Song, sucesso de From the Fires, por exemplo, poderia muito bem ser incluída no Houses of The Holy (1973), disco meio "flower power" do Led que não abre mão do rock pesado.
Josh já falou sobre as comparações. Assumiu a influência, mas demonstrou certo incômodo.
— Foram eles que nos influenciaram, mas chegamos naquele momento de "ok, já sabemos disso", agora está na hora de esquecer isso — considerou o vocalista.
Instigado a falar sobre a banda, Robert Plant deu a seguinte alfinetada:
— Eles são o Led Zeppelin "um". Um belo cantor, eu o odeio. Ele roubou a voz de alguém que eu conheço muito bem, mas o que pode ser feito? Ao menos ele tem um pouco de estilo, pois ele disse que se baseou no Aerosmith.
O estilo a que Plant se refere são as jaquetas e ternos de veludo, os cabelos longos, ondulados e desalinhados, as calças apertadas e os colares decorando os peitos à mostra. Foram a atração mais roqueira do Lollapalooza na edição deste ano, em São Paulo, e mostram que agradam a um público mais antigo e fechado para as novidades — talvez por isso tenham sido escolhidos para a abertura da turnê do Metallica, ainda que os fã do metal demonstrem certa impaciência com jovens roqueiros ripongas.
Considerada a "salvação" do rock por quem ficou órfão dos grandes ídolos do século passado, Greta Van Fleet traz essa contradição: sua sonoridade presta tributo ao que já foi, mas não necessariamente renova o gênero que perdeu espaço e voltou para o gueto da música. Ainda assim, pode ser uma boa diversão para quem não tem vergonha de assumir que gosta mesmo de rock antigo e não se importa com a falta de novidades.