A noite deste terça-feira deve marcar a história do samba no Rio Grande do Sul. Com mais de duas décadas de carreira, uma das mais atuantes cantoras do gênero no Estado lança seu primeiro disco e ocupa pela primeira vez o palco principal do Theatro São Pedro para um show solo. A partir das 21h, Glau Barros lança Brasil Quilombo, álbum independente, realizado a partir de financiamento coletivo.
O lançamento é emblemático não somente por documentar a voz de Glau, que tem se apresentado na Capital e no Interior com espetáculos em homenagem a Clara Nunes e Elis Regina, mas também pela seleção de compositores que carrega. Com exceção da faixa Quem Ri Melhor, do carioca Noel Rosa (1910-1937), todas as canções foram escritas por autores gaúchos, representando diferentes estilos e variadas gerações.
– Assim como o Carnaval, o samba daqui tem uma pegada diferente. Os eventos que lotam têm uma identidade própria, de samba rock, suingue e pagode. E há também todo o contexto histórico, do sopapo (tambor), que é coisa nossa – afirma Glau.
Na lista de compositores, há desde o clássico Lupicínio Rodrigues (1914-1974) até a jovem Pâmela Amaro, passando por nomes tarimbados como Nelson Coelho de Castro, Antônio Villeroy e Gelson Oliveira – também diretor musical do álbum. Com Fuxico, Glau resgata a obra de Mestre Paraquedas, referência central no Carnaval de Porto Alegre, mas pouco conhecido do grande público. Elisa Lucinda, Delma Gonçalves e Zilah Machado são mais alguns dos nomes presentes, reforçando a representatividade feminina.
– A escolha por essas mulheres, que me inspiram tanto, é deliberada, como forma de registrar a importância delas – diz Glau.
O show desta terça transpõe toda a musicalidade do disco para o palco. Além da cantora, haverá mais 12 instrumentistas em cena, dando vida aos arranjos do produtor Marco Faria. Com violão, cavaquinho, teclado, baixo, bateria, percussão, sopros e vocais de apoio, Brasil Quilombo tem uma exuberância de timbres pouco comum nos álbuns atuais.
Celebração da cultura negra
A interpretação de Glau ajuda a suscitar diferentes emoções no ouvinte – antes de se dedicar à música, teve larga experiência como atriz, levando para seu canto uma expressividade que vai além da técnica vocal. Há, por exemplo, humor em Fuxico; dor de cotovelo em Lupicínio Rodrigues, 26 (Edison Guerreiro) e reverência em Iemanjá (Márcio Celli).
A reverência também se repete no samba-exaltação que intitula o álbum, composto por Zé Caradípia e Luis Mauro Viana, uma celebração da cultura negra no país. “Dias de paz e amor/ e o quilombo dança como escravo livre/ num imenso matagal o Carnaval”, festeja a letra.
– Hoje nossa negritude ainda tem um muito de quilombo. Alguns de nós não conseguem chegar onde querem. Mas estamos todos de mãos dadas. Quando um de nós chega onde quer, carrega outros consigo. Nós nos ajudamos muito, e essa é a base do quilombo. Trazer nesse CD compositores e compositoras que o grande público ainda não conhece faz parte desse movimento – conclui Glau.
GLAU BARROS – BRASIL QUILOMBO
Nesta terça-feira, às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°).
Ingressos: R$ 60 (plateia e cadeira extra), R$ 50 (camarote central), R$ 40 (camarote lateral) e R$ 30 (galeria).
À venda na bilheteria do local, a partir das 13h, e no site theatrosaopedro.com.br.